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Com fim da temporada de resultados, mercado se volta para conflitos em Brasília; confira destaques desta quarta-feira (16)

Além disso, a China reduziu sua taxa de juros para o nível mais baixo desde 2020. Será que ‘agora vai’?

Por Matheus Spiess

16 ago 2023, 09:19 - atualizado em 16 ago 2023, 09:19

S&P rating nota de crédito avalia perspectiva do Brasil como positiva
Imagem: Pixabay

Bom dia, pessoal. Lá fora, nas bolsas asiáticas, tivemos quedas nesta quarta-feira (16) por conta das preocupações geradas por dados desanimadores referentes à China, bem como incertezas acerca do futuro da economia dos Estados Unidos.

Ontem, observamos movimentos negativos nos mercados globais, pressionados por inquietações em relação à saúde do setor bancário norte-americano e à economia mundial em geral.

Isso aconteceu após um alerta da Fitch de que pode ser necessário rebaixar as classificações de crédito de diversos bancos, incluindo o JP Morgan. Os rendimentos mais elevados dos títulos norte-americanos também estão causando impacto, especialmente nas moedas.

Os mercados europeus apresentam uma falta de direção clara nesta manhã, embora estejam predominantemente em terreno positivo após as quedas de ontem. Entre os destaques, estamos acompanhando a avaliação da inflação dos preços ao consumidor no Reino Unido, a qual caiu conforme o esperado, além dos dados do PIB da Zona do Euro.

Enquanto isso, os futuros dos mercados americanos estão em alta nesta manhã, à espera da divulgação da ata da última reunião do FOMC, que poderá fornecer indicações sobre os próximos passos do Federal Reserve em relação às taxas de juros. Quanto às commodities, o preço do petróleo está novamente em queda, enquanto o preço do minério de ferro consegue sustentar um leve aumento.

A ver…

· 00:51 — Ninguém sabe para onde vai

No Brasil, vivenciamos a décima primeira queda consecutiva do índice, um fenômeno sem precedentes em nossa história recente (é necessário retroceder a um período muito anterior ao Plano Real para encontrar algo remotamente comparável, invalidando qualquer comparação direta).

Vale ressaltar que o declínio atual não possui a mesma amplitude, registrando uma desvalorização de aproximadamente 4,7% no mês (estamos testemunhando correções sutis e graduais, sem mergulhos profundos).

Recentemente, mesmo o reajuste de preços promovido pela Petrobras não surtiu efeito positivo, em parte devido às intervenções políticas que trouxeram contaminação ao cenário, abordando questões como litígios e CARF.

O cenário interno continua influenciado pelos desafios do panorama internacional, com especial destaque para as preocupações relacionadas à China (além disso, o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos em diferentes âmbitos nos últimos dias também contribui para a instabilidade, resultando em saída de investidores estrangeiros e impactando negativamente a taxa de câmbio).

Dentro do país, após a volatilidade observada durante a temporada de divulgação de resultados corporativos, voltamos a focalizar nossas atenções em Brasília. Esse redirecionamento se deve, em grande parte, aos novos conflitos entre o governo federal e o Congresso Nacional (Haddad e Lira se estranhando).

Contudo, há expectativas de que a reestruturação ministerial seja concluída em breve e que o arcabouço de reformas seja submetido a votação (provavelmente em 22 de agosto), o que pode contribuir para uma melhoria dos ativos.

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· 01:45 — E essa ata?

Nos Estados Unidos, o S&P 500, o Dow Jones Industrial Average e o Nasdaq Composite encerraram a sessão de ontem com declínios superiores a 1%, resultado atribuído às compras típicas do verão americano.

Entretanto, as razões vão além disso. De acordo com relatórios robustos sobre vendas no varejo, as transações online apresentaram um aumento significativo, enquanto as compras ligadas a produtos domésticos mais dispendiosos, como móveis e eletrônicos, perderam terreno. A incidência de ondas de calor que assolaram os Estados Unidos provavelmente também influenciou positivamente as vendas online.

Existe a possibilidade de que o crescimento nos gastos durante o período quente do ano se dissipe à medida que o clima esfrie. Há projeções de uma desaceleração mais ampla nos gastos dos consumidores durante a segunda metade do ano, à medida que os efeitos dos 11 aumentos nas taxas de juros promovidos pelo Federal Reserve desde março de 2022 surtam efeito (a influência das taxas mais elevadas normalmente se manifesta com certo atraso). Ainda que isso seja uma notícia positiva para varejistas como Amazon, Target, Walmart e até mesmo a Macy’s, os mercados não se mostraram animados com o relatório de vendas, que superou as expectativas.

Essa reação se deve ao entendimento de que o trabalho do Federal Reserve não está encerrado e que possíveis incrementos nas taxas de juros podem estar no horizonte. Diante disso, a minuta da reunião de julho do Federal Reserve, que elevou a faixa da taxa dos fundos federais para 5,25%-5,50% (o nível mais alto em 22 anos), será minuciosamente analisada. Espera-se que esse documento ofereça mais esclarecimentos sobre a avaliação do cenário econômico pelo Fed, dado o momento em que muitos indicadores apresentam sinais divergentes. Na próxima semana, ouviremos mais os integrantes do Fed durante a conferência anual de Jackson Hole.

· 02:56 — Sonho de uns, pesadelo de outros

As autoridades do Federal Reserve estão programadas para se reunirem no próximo mês, com o objetivo de deliberar sobre a possibilidade de realizar o 12º aumento nas taxas de juros, buscando conter o ritmo da economia.

Dentro desse contexto, alguns acreditam que o Fed já executou um número suficiente de elevações em sua taxa de juros base para conter a inflação, enquanto outros consideram que é prematuro adotar uma postura flexível. Evidentemente, o banco central demonstra divisões internas nessa questão.

Por trás dos bastidores, há um certo receio quanto à possibilidade de um “overkill” econômico, onde o tratamento poderia ser administrado em quantidades excessivas, prejudicando o paciente. Por essa razão, um abrandamento na taxa de inflação, após o pico pós-pandêmico, seria bem-vindo pelas autoridades monetárias.

O mesmo princípio é aplicável a outras regiões econômicas globais, incluindo a Europa e a América Latina. Nesses casos, uma taxa de inflação mais baixa é desejável. Portanto, a desaceleração constante na taxa de inflação observada nos últimos meses tem proporcionado conforto aos investidores. No entanto, essa mesma realidade não se aplica à China. Mesmo oito meses após a reabertura, ao contrário das nações ocidentais, a esperada recuperação vigorosa da China ainda não se materializou. 

Havia uma expectativa considerável de que os consumidores chineses retomariam seus gastos de forma expressiva, com a visão de que a economia asiática poderia servir como um estabilizador global enquanto outras nações enfrentam desaceleração em virtude das taxas de juros mais elevadas. Entretanto, a realidade atual revela que o crescimento do PIB chinês no segundo trimestre ficou aquém das expectativas.

Além disso, o desemprego, particularmente entre os jovens, permanece em patamares elevados, e a deflação tornou-se uma preocupação.

Neste contexto, a desaceleração nos preços assume um caráter negativo, pois sinaliza fragilidade em uma peça primordial do motor econômico global. São necessários estímulos o quanto antes.

· 03:50 — A fusão nuclear

Recentemente, o laboratório governamental dos Estados Unidos recriou um marco há muito almejado no campo da fusão nuclear, alcançando uma reação controlada que produz mais energia do que é consumida durante o processo.

A fusão nuclear implica na combinação de dois ou mais núcleos atômicos de isótopos do hidrogênio para formar diferentes núcleos, acompanhada pela geração de partículas subatômicas como nêutrons ou prótons. A discrepância de massa entre os reagentes e os produtos resulta na liberação ou absorção de uma quantia substancial de energia.

É válido mencionar que o processo de fusão nuclear está associado ao funcionamento das bombas de hidrogênio, que são as armas atômicas mais devastadoras existentes, e também ocorre naturalmente no interior de estrelas, como o Sol.

A fissão e a fusão são ambas reações nucleares que produzem energia, mas seus mecanismos são profundamente distintos. A fissão envolve a divisão de um núcleo pesado e instável em dois núcleos mais leves, ao passo que a fusão consiste na junção de dois núcleos leves, liberando uma quantidade massiva de energia. Ter a capacidade de replicar o feito alcançado em 5 de dezembro passado pode aproximar consideravelmente a humanidade da realização da fusão nuclear, um objetivo de longa data na busca por uma fonte de energia limpa e abundante (energia nuclear infinita).

No entanto, é crucial ressaltar que esse horizonte provavelmente exigirá vários anos de desenvolvimento, talvez décadas, caso seja efetivamente alcançado.

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· 04:44 — Dor de cabeça chinesa

Até o momento, o presidente Xi Jinping tem evitado acionar um estímulo econômico significativo para revitalizar a economia da China. No entanto, ontem, o Banco Popular da China surpreendentemente reduziu a principal taxa de juros para o nível mais baixo desde 2020. Essa medida ocorreu pouco antes da divulgação dos dados referentes a julho, os quais apontaram para um aumento no desemprego, crescimento insatisfatório dos gastos dos consumidores e queda nos investimentos.

Esses resultados decepcionantes levaram instituições financeiras globais a revisarem para baixo suas previsões de crescimento para a China em 2023. A reação dos mercados, porém, revela que os investidores anseiam por ações mais audaciosas.

A China enfrenta dificuldades, visto que as reduções anteriores nas taxas de juros não surtiram um grande efeito em estimular os empréstimos para impulsionar a atividade econômica. Os novos empréstimos tiveram uma queda em julho, atingindo o nível mais baixo desde 2009, e as taxas de juros de referência do Banco Central, que já estavam em mínimas de vários anos, continuaram nesse patamar mesmo antes da redução deste mês. Parte dessa situação se deve aos desafios persistentes no setor imobiliário, contudo, essa conjuntura também sublinha as preocupações de que a China possa estar entrando em uma fase de recessão de balanço, na qual as empresas evitam buscar novos empréstimos para cumprir e liquidar suas dívidas existentes.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.