Investimentos

Como a alta dos Treasuries nos EUA impacta o Ibovespa e os investimentos no Brasil?

Analista explica como o Treasury de 10 anos, que está na máxima dos últimos 16 anos, impacta os investimentos em âmbito global

Por Juan Rey

22 set 2023, 16:34 - atualizado em 22 set 2023, 16:35

Bandeira dos Estados Unidos com um cifrão em alusão ao S&P 500 treasury treasuries tesouro eua
Reprodução: Shutterstock

Na última quinta-feira (21), o rendimento do título do tesouro norte-americano de 10 anos (Treasury de 10 anos) chegou a 4,5%, máxima dos últimos 16 anos. O movimento tem impacto em âmbito global e explica a queda dos ativos de risco nos últimos dias.

A alta dos yields dos treasuries veio após o comunicado do Fed na quarta-feira (20), que indicou mais um aumento de 25 pontos-base no juro em 2023 e que a taxa deve permanecer alta por mais tempo que o esperado pelo mercado.

O analista Enzo Pacheco explica que com as perspectivas de juro alto por mais tempo, os investidores passaram a demandar mais rentabilidade para os títulos longos. Como consequência, o Treasury de 10 anos chegou ao patamar histórico.

Isso reprecifica não só o mercado de renda fixa, mas todos os ativos de risco. Com um juro a 0%, você topa correr o risco em ativos de risco como ações, porque o ganho na renda fixa vai ser pequeno. Mas com a taxa no nível atual, essa competição fica cada vez mais difícil. É basicamente isso que vimos nesses últimos dias”, afirmou.

Treasuries dos EUA têm forte influência sobre o mercado global

Mas o impacto não é só nos Estados Unidos. O analista explica que os treasuries servem como arbitragem para o mundo todo

Primeiro porque, com a renda fixa norte-americana em níveis elevados, muitos investidores preferem alocar capital em dólar ao invés das moedas de países emergentes.

“Apesar do diferencial ser relevante em comparação com a taxa de juro e a inflação no Brasil, temos que lembrar que há pouco tempo o diferencial nos EUA era negativo, porque a inflação era muito maior que a taxa básica. Agora, com essa diferença no positivo, os investidores talvez prefiram correr o risco da moeda americana e não da brasileira”, explica.

Isso tem impacto direto no câmbio, já que a fuga de capital do mercado doméstico para os EUA desvaloriza o real frente ao dólar. Não por acaso, a moeda norte-americana subiu nos últimos dias.

No caso da renda variável, o cálculo de valuation de ativos do mundo inteiro tem como base a taxa do treasury de 10 anos.

“Quando a taxa aumenta, consequentemente os valores dos fluxos de caixa lá na frente vão valer menos hoje. É uma relação inversa, quanto maior as taxas de juros, menor vai valer o dinheiro do futuro hoje. Por isso vimos esse ajuste no Ibovespa, que caiu mais de 2% ontem”.

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Por que os juros devem permanecer mais altos nos Estados Unidos?

A percepção higher for longer (mais alto por mais tempo) do juro tem base nas projeções divulgadas pelo Fed. 

A autoridade aumentou as estimativas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA de 1% para 2,1% em 2023 e de 1,1% para 1,5% em 2024. 

“Ou seja, a economia está bem e eles tiveram que rever a projeção da taxa básica de juros. Qualquer corte agora parece precipitado, porque você poderia ter uma reaceleração da inflação”, explica Enzo.

Com isso, a projeção para a taxa de juro terminal em 2023 foi mantida em 5,6%, o que indica mais uma alta de 0,25%, para o intervalo de 5,5% e 5,75%. 

Para 2024, a autoridade elevou a projeção da taxa de juro dos 4,6% para 5,1%, e para 2025, de 3,4% para 3,9%.

Foi exatamente este movimento que indicou ao mercado a manutenção da taxa de juro alta por mais tempo que o previsto anteriormente e, consequentemente, a alta nos treasuries.

“Na projeção passada tinha uma estimativa de até 1% de corte em 2024, que agora diminuiu para 0,5%. A mesma coisa vale para o ano seguinte. Com isso, você teve toda essa reprecificação na curva de juros, já que se o Fed pretende ter menos cortes, significa uma taxa alta por mais tempo para combater a inflação”, explica Enzo Pacheco.

Sobre o autor

Juan Rey

Jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Contato: juan.rey@empiricus.com.br