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Investimentos

Como a Microsoft (MSFT) pode levar o rendimento de sua carteira às nuvens?

Resultados recentes da Big Tech animam. A empresa está entre as favoritas de João Piccioni, analista que comanda a série As Melhores Ações do Mundo

Por Danilo Moliterno

06 maio 2021, 13:48

“As Big Techs contrariam a lei da gravidade das finanças: de que todo retorno elevado embute em si mesmo um risco de magnitude comparável”. A frase do sócio-fundador da Empiricus Rodolfo Amstalden sintetiza o poder das gigantes de tecnologia e dos resultados apresentados por elas nos últimos anos.

Entre tantas boas opções, surge a questão: em qual Big Tech investir?

O analista da Empiricus João Picchioni analisa e classifica as gigantes de tecnologia mais promissoras em sua série As Melhores Ações do Mundo. E, entre elas, está a Microsoft (Nasdaq: MSFT), que você ainda não sabe, mas pode levar seu rendimento às nuvens. A fim de facilitar sua leitura, o texto está dividido em tópicos, pelos quais você pode navegar através dos links:

A história da “companhia de Bill Gates”

É praticamente impossível falar de Microsoft e não pensar em Bill Gates, um dos fundadores da empresa. Em 1975, ele e Paul Allen idealizaram a empresa numa garagem em Albuquerque, no Novo México. O objetivo da companhia seria facilitar o acesso a computadores para aqueles que não tivessem muitos conhecimentos sobre tecnologia.

Apesar do pontapé inicial ter sido dado em 75, a história da Microsoft já tinha começado a se estruturar em 1960. Naquela época, os estudantes da Lakeside School Bill e Paul costumavam “cabular” as aulas para ir à sala de computadores da escola para estudar linguagem de programação. Visto que aqueles equipamentos só poderiam ser utilizados mediante pagamento de uma taxa, os garotos criaram um método para fazer uso do sistema sem gastar tanto dinheiro. No entanto, acabaram descobertos. 

Aí você imagina: que grande bronca a dupla deve ter levado…nada disso! A façanha de Bill e Paul surpreendeu a General Electric, que fornecia os computadores. A empresa ofereceu para os garotos, então, acesso ilimitado às máquinas em troca de ajuda para identificar eventuais problemas nos equipamentos.

Após se formar no colégio, Bill Gates partiu para Harvard, onde cursaria Direito. Contudo, mais uma vez, a paixão pela tecnologia falaria mais alto. Durante seu período na universidade, o jovem passaria a maior parte de seu tempo no centro de computadores, visando aprimorar suas habilidades de programação. 

Allen também manteve seu fascínio pelo segmento. Quando ficou sabendo do lançamento do microcomputador Altair 8800, analisou que o equipamento precisava se tornar mais acessível aos usuários. Assim que ele compartilha a ideia com Gates, Harvard perde um estudante. A dupla inicia a empreitada.

Eles desenvolvem o programa e o apresentam para o criador do Altair 8800, Ed Roberts. Prontamente a máquina passa a ser distribuída com o software criado pela dupla. Voltamos a 1975: o sucesso da iniciativa leva Bill e Paul a fundarem a “Micro-Soft” — junção das palavras microcomputadores e softwares.

Paul Allen (esquerda) e Bill Gates (direita). (Foto: Reprodução/Microsoft)

Em 1980, a Microsoft firma uma parceria com a IBM — uma das principais empresas de tecnologia da época, mas que estava atrasada em relação aos PCs. As máquinas da companhia passariam a ser equipadas com o software desenvolvido por Gates e sua equipe.

A repercussão dessa parceria fez com que o sistema operacional da “janelinha” passasse a ser bastante requisitado no mercado. E, visto que Gates não havia firmado contrato de exclusividade com a IBM, ele continuava a fechar contratos com outras companhias. Nessa época, a participação da Microsoft no segmento já alcançava a casa dos 90% e seu programa já estava em quase todos os computadores vendidos.

Tal domínio de mercado chamou a atenção do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. A Microsoft foi a primeira empresa do setor denunciada por “práticas anticompetitivas”. Anos mais tarde, no entanto, entrou em acordo com os órgãos reguladores, ao  compartilhar suas interfaces de programação com empresas terceirizadas e retirar cláusulas de exclusividade de contratos com fabricantes de computadores.

Apesar do acordo, a Microsoft não abandonaria sua postura “agressiva” no mercado. Em 1986, Gates realiza o IPO (Oferta Pública Inicial) da empresa. 

Desde de 1990, a empresa vem diversificando seus produtos e serviços por meio de aquisições. Entre as de maior sucesso estão a do Skype Technologies, em 2011; da Nokia, em 2014; e do LinkedIn, em 2018. 

Atualmente, a Microsoft permanece como uma das líderes do mercado e está avaliada em US$ 1,4 trilhão. 

Como a Microsoft faz dinheiro?

Difícil imaginar que a companhia que fechou os anos 90 como a mais valiosa do segmento passaria por “maus bocados” na década seguinte. No entanto, o surgimento de novos sistemas operacionais e o avanço da pirataria tornaram negativas as perspectivas da Microsoft no início dos anos 2000.

Valor de mercado da Microsoft desde o IPO até o final de 2010 (Imagem: Reprodução/ Bloomberg)

Por conta dessas dificuldades, “a Microsoft se viu obrigada a mexer no seu modelo de negócios”, relembra João Piccioni em sua série Money Rider”. O analista aponta que a empresa reduziu sua dependência da venda de sistemas operacionais e buscou opções que “pudessem gerar maior integração com os clientes”.

As mudanças implementadas naquela época podem ser observadas ainda hoje em sua atuação. Os principais segmentos da Microsoft são três: “Productivity and Business Processes”, “Intelligent Cloud” e “More Personal Computing”.

1) Productivity and Business Processes: engloba serviços e produtos como o Pacote Office, Skype, Microsoft Teams, LinkedIn e Dynamics. O objetivo do portfólio é oferecer ao cliente ganhos relacionados à produtividade, comunicação e serviços de informação;

2) Intelligent Cloud: tem como protagonistas os serviços relacionados a computação em nuvem (que ganhará mais ênfase no próximo tópico). Nesta linha de negócios são oferecidos produtos e serviços como o Azure, SQL, Server, Visual Studio, entre outros.

3) More Personal Computing: “coloca os consumidores no centro da experiência com a tecnologia desenvolvida pela Microsoft”, define Piccioni. Neste segmento estão softwares como o Windows e dispositivos como os hardwares da linha Surface, acessórios para PC, e o Xbox.

O CEO da Microsoft, Satya Nadella, deixa claro que o foco atual da empresa é o segundo segmento. Antes de ocupar o cargo, ele era responsável pela área de computação em nuvem da companhia. E a estratégia, até o momento, tem mostrado bons resultados.

Receita anual líquida por linha de negócio (Fonte:Bloomberg/Empiricus)

“Por ter mudado o seu negócio para um com receitas mais recorrentes, no qual os clientes assinam uma pacote para ter acesso a um produto ou serviço, a Microsoft vem conseguindo melhorar suas margens nos últimos anos”, comenta Picchioni.

Margem líquida e operacional da Microsoft (Fonte: Bloomberg/Empiricus)

Esses bons resultados impactam diretamente o valor das ações da empresa. Além disso, diferentemente de outras Big Techs, a companhia retorna parte do capital para seus acionistas via dividendos. Por esses e outros fatores, as ações da Microsoft (MSFT) são recomendadas em diversas séries da Empiricus, por exemplo em Money Rider.

Lucro e dividendo por ação e dividend yield da Microsoft (Fonte: Bloomberg/Empiricus)

Lucros nas nuvens!

Já entendemos que essa tal de nuvem vem embelezando o céu de resultados da Microsoft. Mas, se você pensa em investir em MSFT, provavelmente quer entender mais a fundo sobre esse segmento. O analista João Piccioni, em sua série Money Rider, faz uma analogia com o dia a dia para elucidar o funcionamento da ferramenta.

“Quando chega em casa, uma das primeiras coisas que você faz é acender a luz. Nesse processo, você só quer que a luz funcione. Você não precisa saber de todos os detalhes para conseguir usufruir dela, mas essa energia foi gerada na usina elétrica, passou por linhas de transmissão até chegar a sua cidade para, enfim, iluminar o seu cômodo”, ele exemplifica. 

Essa é a lógica que dá sentido aos serviços de computação em nuvem. Nem todas as pessoas que iniciam o desenvolvimento de um negócio virtual querem investir no gerenciamento de software e hardware. “Afinal de contas, isso é algo que não agrega valor ao negócio, sendo apenas um obstáculo desnecessário”, aponta Piccioni.

A computação em nuvem funciona como um aluguel de recursos em computadores de outras empresas. O provedor do sistema — no caso a Microsoft — disponibiliza o hardware físico para executar o negócio e mantê-lo atualizado. Os serviços oferecidos variam, mas normalmente incluem poder computacional, armazenamento, rede e análise.

“Ao utilizar a nuvem”, comenta Piccioni, “o usuário pode se concentrar no que é mais importante — sua ideia de negócio — eliminando, assim, todo trabalho árduo de manutenção de software, instalação de hardware, atualizações e outras tarefas de gerenciamento de TI”.

A plataforma de computação em nuvem da Microsoft é o Azure. Ele vem sendo, como já mencionado, o principal responsável pelo bom momento da empresa. E, com a crescente digitalização dos negócios ao redor do mundo, a tendência é que esse crescimento perdure por anos.

Resultados mais recentes da Microsoft

Antes de conversarmos sobre os mais recentes resultados da empresa, há um ponto de importante menção:

O trimestre fiscal da Microsoft se inicia seis meses antes de o trimestre de fato começar. Confuso? Te explico: o primeiro trimestre de 2021, de fato, se inicia no dia 01 de janeiro de 2021; visto isso, o primeiro trimestre fiscal de 2021 da Microsoft teve início no dia 01 de julho de 2020. 

Portanto, o mais recente balanço financeiro da Microsoft diz respeito ao terceiro trimestre fiscal de 2021 (de janeiro a março).

A receita da companhia nesse período foi de US$ 41,7 bilhões, crescimento de 19% em relação ao mesmo período do ano anterior (3T20). O principal responsável pelo bom resultado é o segmento de computação em nuvem, que reportou 23% de aumento nos números de vendas.

Receita líquida trimestral por linha de negócio da Microsoft (Fonte: Bloomberg/Empiricus) 

Enquanto a margem bruta se manteve estável, em 69%, a margem operacional foi positivamente afetada pelo controle das despesas operacionais. O índice, que demonstra a porcentagem da receita líquida convertida em lucro operacional, ficou próximo de 41% — melhora de quatro pontos percentuais em relação ao 3T20.

Por fim, o lucro líquido totalizou US$ 14,8 bilhões. E o valor por ação ficou em US$ 1,95, alta de 38% na comparação com o mesmo período de 2020. O preço do papel, que caiu cerca de 3,5% desde a divulgação dos resultados, é — de acordo com Piccioni — “uma oportunidade para aqueles que ainda não possuem o ativo na carteira ou querem aumentar sua posição”.

Margem operacional e lucro por ação trimestral da Microsoft (Fonte: Bloomberg/Empiricus)

De acordo com Satya Nadella, a pandemia mostrou a importância de uma estrutura digital sólida. Deixou claro que as empresas devem ser capazes de funcionar normalmente mesmo em meio a eventos extraordinários. O que valorizou os serviços da Big Tech e ajudou a alavancar seus resultados.

O futuro da Microsoft: vale mesmo a pena investir? 

Uma dos principais diferenciais das receitas da companhia, destaca Piccioni, é seu caráter recorrente, “o que ajudaria a reduzir a volatilidade dos resultados”. O Microsoft 365 Consumer, por exemplo, já conta com 50,2 milhões de usuários, bastante acima dos 39,6 milhões registrados no 3T20.

E mesmo que o valor de MSFT não seja uma barganha, o analista da Empiricus enxerga na empresa grandes perspectivas de crescimento. Outro ponto interessante é que a Microsoft tem conseguido se manter fora dos holofotes dos órgãos reguladores, que vêm ameaçando outras Big Techs.

Além disso, em meados de fevereiro, a Microsoft anunciou uma parceria com a alemã Bosch para o desenvolvimento de uma plataforma de software para veículos. A partir do Azure, seria possível garantir que as unidades de controle e os computadores instalados nos automóveis tenham acesso às atualizações ao longo da sua vida útil.

Pouco tempo antes, a Big Tech já havia anunciado uma cooperação parecida com Volkswagen e Cruise (startup da General Motors). Essas parcerias têm como objetivo desenvolver softwares voltados a veículos autônomos.

As soluções em mixed reality também devem ser destacadas. Companhias de diversos setores têm recorrido a essa opção para possibilitar o trabalho de seus funcionários “de linha de frente” em meio à pandemia. Um exemplo interessante é o da L’Oréal, multinacional do ramo de cosméticos, que utiliza esses produtos para que seus profissionais da área de manutenção realizem tarefas em diversas fábricas, sem necessidade de viagens.

Outro produto alavancado devido à crise é o Microsoft Teams, cada vez mais utilizado como meio de comunicação virtual. Na parte gaming, o sucesso recente do Xbox mostra que a estratégia da companhia deve trazer ótimos frutos no futuro próximo. O serviço de jogos online Xbox Live já possui mais de 100 milhões de usuários mensais ativos.

“Os produtos diferenciados da Microsoft reforçam nossa visão positiva sobre o case. Certamente as suas ações são um excelente veículo para se expor ao setor de tecnologia global. Seguimos confiantes na tese de investimento na companhia”, conclui João Piccioni sobre sua confiança em MSFT.

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Sobre o autor

Danilo Moliterno

Jornalista em formação pela Universidade de São Paulo (USP), com passagem pela redação do Jornal da USP