Investimentos

Como atravessar a turbulência eleitoral na Bolsa? Foco em companhias resilientes e caixa para capturar oportunidades são caminhos apontados por gestores da Tarpon e Perfin

Na Semana de Renda Variável da Vitreo, Rafael Maisonnave, sócio e gestor da Tarpon Capital, e Alexandre Sabanai, sócio e gestor da Perfin, comentam sobre suas estratégias e revelam ações que gostam; confiram

Por Daniela Rocha

19 abr 2022, 13:09 - atualizado em 16 maio 2022, 20:14

Apesar dos desafios macro e das incertezas da guerra, a Bolsa brasileira segue com desempenho positivo em 2022. Mas é inegável que existe mais um componente à frente: o mercado deve chacoalhar com a proximidade das eleições presidenciais.

“A Bolsa vai chacoalhar, então, é preciso estar preparado para momentos difíceis. O que percebo é que em anos eleitorais, a partir do final do segundo trimestre, costuma aumentar o nível de risco”, avalia Rafael Maisonnave, sócio e gestor da Tarpon Capital. 

Conforme ele, até agora o cenário político não está totalmente definido e ainda prevalece uma certa pacificação em temas relevantes do ponto de vista econômico, entretanto, a tendência é que o risco percebido aumente diante do acirramento da disputa eleitoral. 

Maisonnave participou junto com Alexandre Sabanai, sócio e gestor da Perfin, de um bate-papo com Sérgio Oba, analista-chefe do departamento de Research da Vitreo, futura Empiricus Investimentos, nesta segunda-feira (18/04), na Semana de Renda Variável

Segundo eles, os investimentos em ações – para quem tem boas estratégias e foco no longo prazo – costumam gerar bons retornos. 

Mas para obter resultados positivos, é essencial não se contaminar por ruídos, evitando reações intempestivas ou impensadas, e se concentrar nas informações que sejam realmente relevantes e relacionadas às companhias investidas. 

Como navegar? 

Na live, eles apontaram alguns caminhos para os investidores atravessarem o período eleitoral. 

O primeiro ponto é verificar se a carteira de ações está realmente diversificada. “É fundamental ter ativos expostos a diferentes fatores econômicos. Por exemplo, nós temos ações dos setores de consumo, do agronegócio, de utilities (serviços essenciais como energia elétrica), entre outros. Esse é o benefício de não acender a vela para um santo só”, destaca Maisonnave. Ao se ter ativos descorrelacionados, isto é, que não se movimentam de forma semelhante, o risco total do portfólio é diluído. 

O gestor da Tarpon ressalta ainda que a volatilidade tem que ser usada em benefício próprio. Para isso, é interessante reservar um caixa e ter flexibilidade para capturar distorções de preços que vão acontecer. “Quando o investidor conhece bem as empresas, entende suas operações, isso gera mais tranquilidade. Daí é possível usar a volatilidade a seu favor, fazendo algumas realocações e aproveitando eventualmente oportunidades excessivamente descontadas”, explica. 

O alerta de Alexandre Sabanai é que as empresas de alta resiliência precisam ter as maiores participações nas carteiras. “Existem poucas top qualities no país, mas elas devem ter tamanhos maiores nos portfólios. São empresas com vantagens competitivas, pouco alavancadas e que possuem controladores olhando para o negócio”, diz.  

E, de acordo com eles, a turbulência eleitoral será superada como das outras vezes. “Temos visto que o Brasil tem um sistema que se autoprotege para sobreviver, não deixa extremos prevalecerem por muito tempo. O sistema político é mais racional e pragmático, ao contrário do que muita gente pensa”, avalia o gestor da Perfin.

Casas fundamentalistas e seus estilos de gestão

A Tarpon está prestes a completar 20 anos. O negócio começou como clube de investimentos e avançou para um ecossistema formado por uma gestora de ações, a Tarpon Capital, além de outras duas gestoras de private equity.  

Um dos carros-chefes da Tarpon Capital é o fundo Tarpon Wahoo FIA (long only). “A gente tem uma visão holística das empresas. O valuation é um dos componentes, pois não tomamos decisões apenas em cima de descontos excessivos”, comenta Rafael Maisonnave. 

Ele acrescenta: “Botamos o pé na rua, vamos atrás de informações para entender os negócios. Gostamos de ver também informações disponíveis sobre a performance ou o comportamento dos setores de forma agregada.”

Já a Perfin, começou suas atividades em 2004 também como um clube de investimentos, e pouco tempo depois, em 2007, para atender a demanda crescente, seus sócios decidiram criar a gestora de recursos. Um dos destaques da casa é o Perfin Foresight Institucional FIC FIA (long only). Segundo Alexandre Sabanai, o valuation é o ponto de partida e não de chegada. “Passamos as companhias por um filtro qualitativo, conversando com pessoas chaves como c-level, executivos e competidores, para entender como aquelas histórias vão se desenvolver nos próximos anos”, afirma. O objetivo é identificar fatores que podem destravar valor em um horizonte de cerca de três a quatro anos. 

Segundo eles, a pesquisa ampla e o acompanhamento próximo das operações das companhias, a compreensão sobre a capacidade de execução e do potencial de implementar inovações e de novas vias de crescimento são essenciais para evitar value traps, ou seja, armadilhas de valor. Existem empresas que permanecem com ações descontadas por muitos anos em Bolsa, sem condições de se desenvolver e gerar valor aos acionistas – portanto, é preciso fugir delas. 

Como não poderia faltar, algumas calls…

Na live promovida pela Vitreo, os gestores de fundos de ações, a pedido do público, revelaram alguns tickers que gostam. 

Rafael Maisonnave, da Tarpon, diz que Lavvi (LAVV3), incorporadora de alto padrão do grupo Cyrela que fez IPO em 2020, pode ser uma alternativa interessante para apimentar a carteira. Trata-se de uma empresa ainda fora do radar da maioria, que tem conseguido vender bem mesmo no atual cenário macro adverso. “Por exemplo, um empreendimento que foi lançado no Carnaval, já teve 60% das suas unidades vendidas”, ressalta. 

Conforme ele, a Lavvi é um case bem sucedido, pois tem gestão e execução de qualidade e conta com lançamentos localizados em regiões nobres como no Ibirapuera, em São Paulo, voltados a um público-alvo de elevado poder aquisitivo. “Vejo alto potencial e a ação está com muito desconto. Para se ter uma ideia, o market cap da empresa é de R$ 950 milhões, mas ela possui R$ 600 milhões de caixa”, diz.

Por sua vez, Alexandre Sabanai, da Perfin, afirma que Totvs (TOTS3) é uma das suas preferidas. A companhia especializada em software de gestão (ERP), tem vantagens competitivas e vem conseguindo repassar a inflação aos clientes. 

Somado a isso, a Totvs tem feito aquisições e diversificado a sua atuação. A partir da compra do controle da Supplier, entrou na concessão de crédito para empresas. E, mais recentemente, formou uma joint venture com o Itaú, a Totvs Techfin, para avançar em serviços financeiros. Para Sabanai, essa parceria pode inclusive favorecer a Totvs em relação a funding para ampliação de oferta de linhas de crédito. 

Aproveite e assista ao vídeo com o bate-papo completo: 

[QUERO SABER MAIS SOBRE A SEMANA DA RENDA VARIÁVEL, COM CONTEÚDOS E CONDIÇÕES ESPECIAIS DA VITREO, E FAZER MINHA INSCRIÇÃO GRATUITA]

Sobre o autor

Daniela Rocha

Coordenadora de Conteúdo na Empiricus. Jornalista com MBA em Finanças na FIA. Atuou nas editorias de economia da TV Cultura e da Band e foi colaboradora do Valor Econômico, Exame e RI.