A eleição presidencial americana é avaliada como o evento geopolítico mais significativo deste ano. Segundo a consultoria de política internacional Eurasia Group, a disputa de Kamala Harris e Donald Trump está classificada como um dos três principais riscos globais atualmente, junto com os conflitos na Ucrânia e em Israel.
A retirada de candidatura do atual presidente dos EUA, Joe Biden, em razão de desafios cognitivos relacionados à sua idade avançada, abriu uma nova oportunidade para os Democratas competirem na eleição.
A decisão pela atual vice-presidente Harris como candidata, foi complementada nesta terça-feira (6) com o anúncio de Tim Walz, governador de Minnesota, como seu companheiro de chapa.
Para Matheus Spiess, analista de macroeconomia da Empiricus Research, a escolha de Tim Walz como candidato a vice-presidente alimenta debates intensos.
“Embora Walz estivesse entre os favoritos, muitos esperavam que Josh Shapiro, governador da Pensilvânia, fosse escolhido. Shapiro tinha uma forte vantagem por ter vencido a Pensilvânia por quase 15 pontos em 2022 e era considerado o preferido em uma pesquisa da Bloomberg News entre os democratas de estados indecisos. No entanto, Walz acabou sendo o escolhido, mesmo que sua contribuição significativa para a campanha seja questionável”, comenta Spiess.
Democratas vs. Republicanos: qual é o panorama para os partidos nesta eleição dos EUA?
Analisando os principais eventos que marcaram esta eleição dos EUA até agora, Trump desponta com algumas vantagens, acredita Spiess: melhor desempenho no debate com Biden em julho, a tentativa de assassinato e uma convenção republicana muito bem celebrada.
Por outro lado, a chegada de Harris parece ter oxigenado a campanha democrata. Sua nomeação será formalizada na convenção do partido no final deste mês de agosto, após conseguir votos suficientes dos delegados democratas para ser a candidata oficial do partido à presidência dos EUA.
Além disso, a política – que pretende ser a primeira mulher eleita presidente nos EUA – possui experiência como promotora no estado da Califórnia. Spiess acredita que este poderá ser um dos argumentos de Harris para retratar Trump como um homem de mais idade (assim como Biden), e que tem um histórico de problemas legais, além de tratar da questão dos direitos ao aborto.
Por outro lado, Trump tem como argumento que Harris foi vice durante uma administração impopular, enfatizando questões como imigração, representando a ala mais à esquerda do partido.
No mapa abaixo, é possível observar a previsão de consenso para a eleição presidencial de 2024. Os “swing states”, destacados em cinza, são os estados mais decisivos na eleição.
“Notavelmente, se Trump conseguir conquistar a Pensilvânia nas condições atuais, ele já teria os votos necessários para alcançar os 270 delegados e vencer a eleição”, avalia Spiess.
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Harris ou Trump: quem o mercado financeiro prefere?
Kamala Harris ainda é vista como uma “incógnita” no quesito econômico. A candidata deverá manter as políticas de Joe Biden, com o reforço aos estímulos governamentais por meio de medidas fiscais expansionistas, como o Inflation Reduction Act (IRA).
“No entanto, suas posições econômicas específicas ainda não são claras. Se ela seguir uma linha mais progressista, podemos antecipar um aumento na regulamentação financeira, mais incentivos para a indústria verde e um aumento nos impostos para cobrir o déficit americano”, avalia Spiess.
Não é possível afirmar, segundo o analista, que a presidência de Harris seria negativa para o mercado de ações. Isso pois, historicamente, “as ações têm apresentado bom desempenho independentemente de quem está na presidência, tendo atingido recordes durante a administração de Biden, apesar da volatilidade”, diz o analista. Isso pode ser observado na tabela abaixo:
Contudo, o analista lembra que a atual instabilidade do mercado financeiro pode afetar o impulso político de Kamala Harris. Isso porque pesquisas consistentemente mostram que os eleitores confiam mais em Trump em questões econômicas. “Se as quedas no mercado continuarem a levantar preocupações sobre uma possível recessão nos EUA, a vantagem de Trump pode aumentar”, comenta Spiess.
Enquanto isso, o mercado já demonstrou nas últimas semanas como reagiria à vitória de Donald Trump. O conceito de “Trump Trade” parece estar associado a uma inclinação mais acentuada da curva de juros devido a políticas inflacionárias e a um fortalecimento do dólar, especialmente contra moedas de mercados emergentes, como o Brasil.
“Este ‘Trade’ também poderia resultar em um aumento no valor das criptomoedas e das bolsas de valores americanas”, diz Spiess.
Além disso, outras previsões relacionadas à presidência de Trump, segundo o analista, são:
- Cortes de impostos e a renovação de incentivos fiscais que expiram em 2027;
- Imposição de tarifas adicionais à China, endurecendo as relações comerciais e elevando os preços dos produtos importados;
- Financiamento e incentivos ao setor de defesa, e consequentemente um benefício para indústrias como a de aço e minério de ferro;
- Também é positivo para o setor de petróleo, assim como o setor financeiro, graças a uma regulamentação reduzido;
- Segmentos de energia limpa e grandes farmacêuticas, que prosperam sob administrações democratas, podem enfrentar desafios.
Os dois primeiros pontos indicariam “um aumento da pressão inflacionária, que pode provocar uma alta nas taxas de juros ao longo prazo“, calcula Spiess.
Além disso, ele acredita que o aumento de tensões sociopolíticas e a intensificação da radicalização podem servir como catalisadores para uma procura por hedges tradicionais, como ouro, ativos físicos e, em certa medida, o bitcoin, que cada vez mais ocupa o espaço de reserva de valor.
“Imóveis, especialmente terras, podem tornar-se atraentes sob ameaças à estabilidade democrática. Em tempos de conflito, a demanda por energia e alimentos torna-se essencial”, complementa Spiess.
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