Investimentos

Como fica Apple (AAPL34) após perder o posto de 2ª maior empresa do mundo para a Nvidia (NVDA34)?

Nesta segunda-feira (11), a Apple realizou sua Conferência Mundial de Desenvolvedores (WWDC) anual; veja como foi

Por Enzo Pacheco, CFA

12 jun 2024, 11:37 - atualizado em 12 jun 2024, 11:37

Apple AAPL34 AAPL
Imagem: Divulgação/Apple

Há muito a discutir sobre a Apple (B3: AAPL34; Nasdaq: AAPL). Outrora a maior empresa do mundo, ela foi inicialmente desafiada pelo sucesso da Microsoft (MSFT34) devido à OpenAI e agora enfrenta a concorrência da Nvidia (NVDA34) pelo segundo lugar.

Atualmente, a inteligência artificial domina os mercados, com a Nvidia emergindo como o foco principal. Parece que estamos passando de um mercado liderado pelos “magnificent seven” para um mercado liderado por um único gigante, a Nvidia.

Apple chegou tarde para a festa da inteligência artificial?

Enquanto outras grandes empresas de tecnologia se apressaram em explorar aplicações potenciais da IA, a Apple permaneceu relativamente discreta. Isso levanta a pergunta: a Apple chegou tarde demais à revolução da IA?

Para entender melhor, vejamos os eventos recentes.

Nesta segunda-feira (11), a Apple realizou sua Conferência Mundial de Desenvolvedores (WWDC) anual. Durante o evento, a empresa finalmente revelou novos projetos envolvendo inteligência artificial, algo que os usuários aguardavam ansiosamente.

É importante destacar que a Apple já utiliza IA em diversas funcionalidades, como no reconhecimento facial para desbloqueio de iPhones, na digitalização de impressões digitais em Macs e na melhoria das fotos do iPhone.

No entanto, a empresa viu suas vendas declinarem em cinco dos últimos seis trimestres em comparação ao ano anterior, enquanto as vendas da Nvidia quase quadruplicaram devido à demanda por chips de IA. Rivais como Microsoft, Alphabet e Meta Platforms já deram grandes saltos na IA, enquanto a Apple parece improvável de superá-los diretamente em modelos de linguagem de grande escala.

Mesmo assim, os anúncios feitos na WWDC foram cruciais. Após uma queda inicial de quase 2%, as ações da Apple subiram mais de 7% no dia seguinte.

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O que o CEO da Apple trouxe na WWDC?

Durante a WWDC, como esperado, o CEO da Apple, Tim Cook, apresentou a “Apple Intelligence“, que integra funções de IA generativa em seus produtos. Esta abordagem híbrida permite usos tanto em dispositivos quanto no processamento de informações em centros de dados. O novo aplicativo visa facilitar o acesso a sites e aplicativos em Macs, iPads e iPhones. Além disso, a empresa anunciou um novo aplicativo de calculadora para iPad, o Math Notes.

O principal destaque, no entanto, foi a formalização da parceria com a OpenAI. A OpenAI fornecerá o ChatGPT para dar suporte às ferramentas de resumo de textos, criação de imagens originais, emojis e GIFs, além de recuperar os dados mais relevantes quando os usuários precisarem. Há também uma integração mais inteligente entre Siri e ChatGPT. As ferramentas podem ser usadas em aplicativos da Apple e de terceiros.

O “Apple Intelligence” foi projetado para simplificar tarefas, auxiliado pela compreensão do contexto pessoal do usuário, incluindo os aplicativos em uso. A Apple também anunciou que trará o mais recente modelo de IA generativa da OpenAI, o ChatGPT-4, para Siri e outros aplicativos, e trabalhará com outros fornecedores de modelos de grande linguagem no futuro.

Por exemplo, o Siri aprimorado responderá de forma mais eficaz a perguntas sobre como operar dispositivos Apple. A interface de voz, agora mais sensível ao contexto, funciona mais como um chatbot, permitindo a execução de comandos vinculados, como pedir direções e, em seguida, adicionar um evento ao calendário. Este aplicativo agora entende melhor o que é mostrado na tela e outros contextos pessoais, aumentando sua capacidade de responder a perguntas.

Se tudo parecia tão promissor, por que as ações da Apple caíram na segunda (11)?

Primeiramente, a preocupação estava na monetização. Observamos enormes investimentos na infraestrutura necessária para desenvolver modelos de inteligência artificial, o que tem sido um dos maiores impulsionadores da demanda pela Nvidia. No entanto, quando se trata de implementar efetivamente a IA para fornecer melhores soluções e monetizá-las, as empresas enfrentam desafios significativos.

Outro ponto é que os novos recursos de IA estarão disponíveis apenas no iPhone 15 Pro e modelos subsequentes. Isso significa que a maioria dos usuários de iPhone precisará adquirir um novo aparelho. Curiosamente, isso pode ser benéfico para a Apple, que gera a maior parte de seus lucros com a venda de dispositivos, especialmente iPhones.

Se o software requer um iPhone 15 Pro ou Pro Max para funcionar, isso pode incentivar um ciclo de renovação, possivelmente o maior desde o lançamento do iPhone 12 em 2020.

Concorrência ainda é ameaça?

Mesmo assim, será difícil superar a concorrência. No último trimestre, a Nvidia reportou um aumento de 262% em sua receita anual, enquanto as vendas da Apple diminuíram 4%. As ações da Nvidia subiram 215% em um ano, enquanto as da Apple subiram apenas 7%, ficando 19 pontos percentuais atrás do S&P 500. Além disso, a falta de detalhes financeiros sobre a parceria Apple-OpenAI levanta preocupações válidas. No entanto, há a possibilidade de a Apple surpreender positivamente nos próximos resultados.

Outro aspecto relevante é a privacidade. Elon Musk reagiu ao anúncio de que a Apple incorporará IA nos seus dispositivos em parceria com a OpenAI. Ele ameaçou banir dispositivos Apple de suas empresas se isso se confirmar e sugeriu que visitantes deixem seus dispositivos Apple na porta.

Musk frequentemente busca chamar atenção, mas sua preocupação com a segurança é válida. Muitas organizações ainda não implementaram o ChatGPT devido a riscos de segurança de dados. Neste caso, o medo é que a Apple não tenha controle total sobre o que acontece com os dados entregues à OpenAI.

Novo padrão de privacidade em IA

Em resposta a essa preocupação, a Apple afirmou que estabelecerá um novo padrão de privacidade em IA. O sistema processará dados no próprio dispositivo para muitas funções e, para tarefas mais complexas, utilizará o novo serviço Private Cloud Compute, que requer consentimento explícito do usuário para enviar dados para processamento remoto.

A Siri solicitará o consentimento dos usuários antes de enviar suas consultas ao ChatGPT. Com o aumento do escrutínio sobre a inteligência artificial, a Apple está delineando claramente os limites entre suas ofertas e as da OpenAI, que enfrentam desafios regulatórios.

Valorizamos que os dados dos usuários só serão compartilhados externamente quando absolutamente necessário e com consentimento explícito. Graças ao potente chip M4, os dispositivos da Apple podem processar muitos dados localmente, abordando uma das principais preocupações de segurança associadas ao ChatGPT da OpenAI. Assim, os usuários não precisarão se preocupar com o armazenamento de seus dados em data centers remotos.

Acreditamos que o Apple Intelligence será essencial para os produtos da Apple, desempenhando um papel fundamental na vida dos consumidores. Este desenvolvimento representa um avanço significativo para uma empresa que tem sido vista como ficando para trás na corrida da IA.

Essa percepção de inovação impulsionou um aumento notável nas ações da empresa, refletindo novas oportunidades de receita, como os US$ 20 bilhões anuais que a Apple recebe do Google por ser o mecanismo de busca padrão em seus dispositivos.

Vemos a abordagem cautelosa da Apple como uma estratégia deliberada. Embora tenha avançado mais lentamente que seus concorrentes na adoção de IA, essa postura parece calculada.

Ao terceirizar parte de suas necessidades de IA para o ChatGPT e manter outras operações no dispositivo, a Apple se concentra em suas forças tradicionais: hardware inovador e proteção da privacidade. Em vez de investir pesadamente no desenvolvimento de chips de IA, a Apple utiliza a tecnologia para aprimorar seus produtos, mantendo uma margem de segurança.

Apple aposta em IA para aumentar suas vendas

A IA apresenta desafios únicos para a Apple. Tradicionalmente, seus lucros vêm da venda de iPhones, Macs e iPads, cuja demanda não cresce como antes. Em vez de monetizar intensamente o software de IA, a Apple está apostando em usar a IA para vender novos dispositivos. Para os consumidores, seria vantajoso ter acesso a mais recursos de IA agora, sem precisar atualizar para os modelos mais recentes.

A Apple ainda possui uma base de consumidores fiéis que apoiam cada inovação da empresa. A longo prazo, a Apple precisará inovar significativamente para garantir seu futuro promissor, agora utilizando a IA para revitalizar sua base de mais de 1 bilhão de usuários e reverter a queda nas vendas de seu produto mais popular.

Mantemos uma visão positiva sobre a trajetória da Apple, considerando-a uma adição valiosa, mas não dominante, em um portfólio internacional de ações. É crucial ajustar as posições conforme o perfil de risco de cada investidor e garantir a diversificação adequada da carteira, com as proteções necessárias.

Sobre o autor

Enzo Pacheco, CFA

Administrador pela Universidade Federal do Espírito Santo com pós-graduação em Operador de Mercado Financeiro pela FIA, Enzo Pacheco atua desde 2017 com análise de investimentos nos mercados internacionais. Hoje, é responsável pela série MoneyBets, voltada para os investidores brasileiros que querem expandir as fronteiras dos seus portfólios. Possui certificações CFA e CNPI.

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