Times
Investimentos

Como saber se um criptoativo vale a pena ou é furada? Confira quais critérios a Empiricus Research leva em conta

Equipe de análise de criptoativos da Empiricus Research compartilha os nove critérios usados para filtrar se uma moeda digital de fato apresenta bons fundamentos.

Por Nicole Vasselai

17 ago 2023, 15:41 - atualizado em 17 ago 2023, 15:41

analista revela primeira moeda de lista de cripto
Imagem: Pexels

Um dos principais desafios dos investidores é diferenciar um ativo com fundamentos reais para entregar lucros e investimentos que podem ser furadas, em especial no universo dos criptoativos, ainda tão incipiente.

Pensando nisso, a equipe de Vinícius Bazan, analista de cripto da Empiricus Research, preparou um relatório completo com todos os critérios que levam em conta na hora de separar o joio do trigo.

“Com informações que vão desde a proposta delineada no whitepaper de cada protocolo até métricas financeiras e de uso de seus produtos e serviços, avaliamos cada ativo de forma individual. E é um desafio grande avaliar tantas criptos que surgem todos os dias, diante de tantas nuances em jogo”, explica o especialista.

A seguir, confira o relatório na íntegra e as nove categorias consideradas pela equipe antes de recomendar qualquer criptomoeda.

Mas, antes, um adendo de Bazan: “É importante notar que nem sempre as respostas para as perguntas de cada categoria serão diretas ou fáceis de se estipular, dada a natureza inovadora dos criptoativos e o fato de que a maioria deles está em desenvolvimento constante. Nosso objetivo é, portanto, na medida do possível, delinear fatos objetivos sobre cada protocolo, a fim de ‘passá-los por um filtro’ de análise e obter uma resposta inicial de se aquela tese pode fazer sentido ou não”.

Para facilitar sua leitura, você pode conferir abaixo um índice das 9 categorias abordadas, e clicar em cada uma delas para ir direto ao ponto:

  1. Utilidade/Pagamento
  2. Staking
  3. Governança
  4. Inflação e distribuição
  5. Sustentabilidade e geração de receita líquida
  6. Adoção e tração
  7. Product-market fit e narrativa
  8. Cenário competitivo
  9. Histórico e riscos

1. Utilidade/Pagamento

Um dos primeiros e principais aspectos a serem considerados ao avaliar um criptoativo é a sua utilidade, especialmente em sua função de pagamento. A seguir, apresentaremos os principais elementos que levamos em consideração ao analisar um token neste quesito:

  • Utilização do token: um dos aspectos fundamentais ao avaliar um criptoativo é compreender sua utilidade dentro da rede ou ecossistema ao qual pertence. Isso inclui considerar se o token é utilizado como meio de pagamento para taxas de transação ou para acessar determinadas funcionalidades oferecidas pelo protocolo; 
  • Demanda pelo token: a demanda pelo token é um dos principais motores do seu valor de mercado. Se há elementos do funcionamento do protocolo que são geradores naturais de demanda (por exemplo, pagamento de taxas da rede com o token nativo), há um impacto positivo em seu preço;
  • Circulating supply estável ou em crescimento sustentável: a oferta circulante do token, ou seja, a quantidade em circulação no mercado, é um fator importante a ser avaliado. Um criptoativo com uma circulação estável ou com um crescimento controlado ao longo do tempo pode ter uma melhor perspectiva de valorização. Isso ocorre porque um crescimento excessivo da oferta pode diluir o valor do token, enquanto uma abordagem mais controlada pode manter a escassez e favorecer uma valorização sustentável; 
  • Atividade econômica crescente/relevante: se a rede está apresentando um crescimento constante em termos de transações, adoção e participação ativa dos usuários, isso pode sugerir que o token está ganhando relevância e valor no mercado. 

2. Staking

O segundo ponto que avaliamos no nosso modelo é a existência ou não de um mecanismo de staking no protocolo. Sabemos que nem todo protocolo tem ou necessita desse tipo de funcionalidade. Para esses casos, desconsideramos esse ponto de avaliação e distribuímos o peso dessa nota de maneira ponderada nos demais critérios. Contudo, um bom modelo de staking pode alterar a balança de oferta e demanda de um token de maneira positiva, impactando diretamente o preço do mesmo.

  • Travas e retirada de estoque circulante: bons indicativos de um modelo são a existência de travas que retiram volume vendedor de curto prazo aliada a uma boa parcela de tokens travados relativos ao estoque total disponível, que denota um grande interesse da comunidade pelo produto de staking e alinhamento de interesses de longo prazo com o protocolo; 
  • Recompensa: a recompensa oferecida pelo staking deve ser atrativa o suficiente para compensar os custos de oportunidade de apenas segurar os tokens do protocolo ou de produtos de menor risco. O tipo e o modo de recompensa também são relevantes, o pagamento em outros tokens como parcela dos rendimentos do protocolo (real-yield) é preferível ao pagamento no próprio token (inflacionário); 
  • Riscos: existem diversos tipos de staking e cada um pode carregar riscos bastante diferentes entre si. É necessário ponderar fatos como existência de risco de slashing (redes PoS e alguns protocolos de DeFi), staking por intermediários (delegação), risco de contrato, liquidez e qualquer outra inovação que adicione risco potencial.

VEJA TAMBÉM: Essa ferramenta mostra quais criptomoedas podem crescer entre 10x e 100x nos próximos 18 meses; saiba como acessar.

3. Governança

A governança desempenha um papel primordial na estrutura de um protocolo. Ela se refere ao conjunto de processos e mecanismos através dos quais as decisões são tomadas em relação às mudanças e melhorias no protocolo. Avaliar a governança envolve entender como essa rede é gerenciada e como a comunidade influencia seu desenvolvimento.

  • Participação dos detentores de tokens (holders): um aspecto crucial da governança é a participação ativa dos holders. Quanto mais significativa for a contribuição desses investidores no processo de tomada de decisões da estrutura do protocolo, mais descentralizada e inclusiva será a governança. No entanto, é válido ressaltar que essa dinâmica não é sempre desejável. Em alguns contextos, a governança centralizada demonstra ser mais eficaz;
  • Votações: analisar votações passadas, sua relevância e a magnitude do impacto que tiveram na evolução da rede é essencial. Isso ajuda a compreender a eficácia da governança e como as decisões são implementadas. Também é importante examinar como as opiniões e sugestões da comunidade são consideradas e traduzidas em ações concretas;
  • Poder de governança: a capacidade de influenciar as decisões relativas ao protocolo, também conhecida como poder de governança, desempenha um papel muito importante. Esse poder permite que os detentores de tokens tenham voz ativa na evolução do projeto. Além de seu papel na governança, esse poder pode também ser um fator influenciador na demanda pelo token, uma vez que investidores podem buscar tokens que lhes proporcionem uma participação significativa nas decisões como, por exemplo, a maneira como será direcionada a receita líquida do protocolo.

4. Inflação e Distribuição 

A inflação é uma faca de dois gumes. Por um lado, ela pode ser usada para incentivar a participação e segurança em uma rede mas, por outro, ela pode diluir o valor dos tokens em circulação. Um protocolo que depende menos da emissão da diluição de seu token para crescer será mais sustentável do que um projeto que não consegue operar dessa maneira. 

  • Taxa de inflação atual: é importante saber a taxa de inflação do token de um protocolo de criptoativo, bem como a de seus competidores, e para que esta inflação é utilizada; 
  • Mecanismos deflacionários ou redutores de inflação: alguns projetos, reconhecendo os perigos da inflação descontrolada, implementam mecanismos de “burn” (queima de tokens). Esses mecanismos têm o objetivo de reduzir a quantidade de tokens em circulação, potencialmente tendo um impacto positivo sobre o valor do token. Estes são os casos de Ethereum, com seu recente mecanismo EIP-1559, e Bitcoin, com o halving da sua recompensa por bloco minerado (que não é um burn mas, sim, uma redução de emissão);
  • Cliffs e unlocks: para compreender totalmente o impacto da inflação, é crucial olhar para os “cliffs” e “unlocks” de um projeto. Esses são momentos pré-definidos onde grandes quantidades de tokens são liberadas para venda. Se uma grande quantidade de tokens for destravada ao mesmo tempo, e o preço de aquisição dos mesmos estiver muito abaixo do preço atual, existe um grande risco de desvalorização para o ativo.

5. Sustentabilidade e geração de Receita Líquida

Do ponto de vista fundamentalista, esse é um dos critérios mais desejados para que seja possível avaliar protocolos próximos de empresas clássicas. Apesar de protocolos de criptoativos na maioria das vezes se aproximarem mais de startups e empresas de growth, é essencial que em algum momento o projeto se sustente financeiramente e obtenha lucros ao longo do tempo, aqueles que já alcançaram esse patamar merecem maior destaque.

  • Geração de receita líquida (positiva): entende-se como receita líquida a soma de todas as taxas geradas pelo protocolo e outras possíveis fontes de renda subtraídas da emissão de incentivos na forma de tokens próprios e custos operacionais. Para cada protocolo as variáveis dessa fórmula são diferentes de acordo com seu modelo de negócio. Por exemplo, uma exchange descentralizada pode acumular taxas de suas pools de negociação (receita bruta) e ter custos ao emitir tokens para incentivar a liquidez do protocolo;
  • Receita se reverte para token holder: é preciso determinar se a receita do protocolo se reverte diretamente para o token holder (por exemplo, via staking), indiretamente (via governança da tesouraria do protocolo), ou se não se reverte para o token holder de nenhuma maneira. Essa ordem vai de mais desejável para menos desejável, respectivamente;
  • Runway: caso o protocolo não tenha receita líquida positiva pela natureza ou estágio de maturação do modelo de negócio, é primordial avaliar o período em que o mesmo consegue se manter operacional considerando o cenário atual ou estimado.

6. Adoção e tração

Muitas vezes ouvimos falar de projetos de criptoativos após grandes valorizações de preço. Existem certos indicadores que podem nos mostrar se tamanhas valorizações são justificáveis naquele momento, bem como riscos de um protocolo que está inserido em um nicho específico. 

  • TVL: o total de capital travado (total value locked) é uma métrica que indica a quantia de dólares em uso em um protocolo. O aumento do TVL ao longo do tempo é um bom sinal de adoção, porém ele não explica sustentabilidade; 
  • Fees: as taxas geradas pelo protocolo são, em suma, a receita bruta do projeto. Quanto mais taxas (fees) o projeto gera, melhor; 
  • Usuários/endereços: métrica que nos dá um indício sobre adoção. Possui limitações, uma vez que um usuário no mundo físico poderá ter mais de um endereço na blockchain; 
  • Transações: podemos olhar essa métrica tanto pela ótica de quantidade quanto de volume financeiro. Isso nos ajuda a entender quem é o usuário do projeto – poucos usuários com um ticket médio alto, ou muitos usuários que pagam um pouco; 
  • Volume de negociação do token: nos dá indícios de que o token tem atratividade para o mercado. É preciso ter cuidado pois volume pode ser falsificado por meio de wash-trading
  • Hashrate e validadores: métrica válida para ativos de blockchains, como Ethereum, Bitcoin, Solana, entre outros. A atividade de validação e mineração são essenciais para blockchains, e podem indicar tanto um crescimento de segurança do sistema, como também a atratividade pelo ativo subjacente da blockchain; 
  • Desenvolvedores/commits: a atividade de desenvolvedores pode ser medida por meio de commits em repositórios de código. Em essência é a quantidade de alterações realizadas no código final de um protocolo (não quer dizer que é para sempre). Atividade de desenvolvimento e quantidade de desenvolvedores são números relevantes para o longo prazo, porém não dizem muito sobre a qualidade do desenvolvimento. Entretanto, pode-se assumir que quanto mais desenvolvedores, maior a capacidade de criar soluções e sistemas resilientes;  
  • Lançamento/atração de dApps: quesito relevante para plataformas de contratos de inteligentes, como Ethereum, Avalanche, Cosmos, entre outras. Quanto mais a tecnologia, linguagem de programação e aplicações já existentes tem a capacidade de atrair novos projetos, capital intelectual e econômico, mais se cria valor e demanda para o ecossistema como um todo. 

LEIA MAIS: Essa lista de ativos digitais pode ter alta de até 9.900% nos próximos 18 meses, segundo ferramenta; saiba mais.

7. Product-Market fit e narrativa

Todo bom projeto traz alguma solução necessária ou atrativa para o mercado, que consequentemente gera valor para algum grupo de usuários. A narrativa nasce daí: existe um usuário que tem uma dor, e essa dor precisa ser resolvida por alguém. Quanto maior o grupo de usuários, maior e mais relevante a narrativa se torna, e mais isso pode gerar valor para um token. 

As narrativas podem ir e vir. Blockchain games, metaverso, IA… foram todas narrativas que impulsionaram bastante os preços no curto-prazo, mas que depois saíram de moda. Isso não quer dizer que os projetos inseridos nesses nichos específicos são ruins, nem que as narrativas são descartáveis. O que precisamos é ter cuidado para entender que as narrativas podem desvincular os preços do valor real de um protocolo. O hype é poderoso, e muitas vezes ilude; por isso, devemos ficar de olho nas seguintes métricas, constantemente:    

  • Total addressable market (TAM): é um indicador do potencial de crescimento do criptoativo. Qual o tamanho potencial de mercado desse ativo? Para quem ele poderia vender a sua proposta de negócio? Quanto maior o TAM, mais espaço o criptoativo tem para crescer. Dito isso, existem muitos projetos que têm um TAM que é basicamente o mundo inteiro; é preciso tomar cuidado para não levar essa métrica tão ao pé da letra; 
  • Funcionalidades úteis: parece um pouco óbvio, porém estamos falando de cripto. Para entender o que um protocolo realmente faz, é preciso entender o como, e não só o quê;
  • Casos de uso: o protocolo que é um canivete talvez seja mais resiliente do que um protocolo que serve apenas para ser uma faca. Ou seja, quanto mais casos de uso, mais o projeto se torna resiliente e diversificado em termos de receita;  
  • Modelo de negócios: idealmente, o modelo de negócios deve ter uma finalidade para o seu token. Quanto mais o projeto beneficia todos os seus usuários e investidores de forma sustentável (sem inflacionar demasiadamente o seu token, por exemplo), mais atrativo ele será a longo prazo; 
  • Roadmap: o projeto deve ter uma estratégia delineada em um roadmap. Isso ajuda investidores a entenderem os riscos e oportunidades de investir no projeto. O roadmap também é importante para que o projeto ganhe credibilidade ao longo do tempo – a sua equipe de desenvolvedores e governantes vêm cumprindo com o que foi prometido?  

8. Cenário competitivo 

O cenário competitivo envolve a avaliação do ambiente no qual um criptoativo atua. Isso inclui a análise da concorrência direta e indireta, bem como a compreensão das dinâmicas que moldam a posição do ativo no mercado.

  • Quantidade de competidores: a quantidade de competidores é um indicador importante da densidade e competição no mercado. Quanto mais competidores ativos, mais acirrada pode ser a competição pelo espaço e pelos usuários; 
  • Market Share (participação no mercado): este é um indicador chave para avaliar a posição de liderança de um protocolo. Determinar se o criptoativo é um líder de mercado ou se possui uma participação significativa ajuda a entender sua influência e adoção entre os usuários;
  • Barreira de entrada: avaliar a barreira de entrada é fundamental para compreender a facilidade com que novos competidores podem ingressar no mercado. Uma barreira de entrada alta pode indicar um mercado mais consolidado e menos suscetível a mudanças rápidas, enquanto uma barreira de entrada baixa pode resultar em maior concorrência e inovação;
  • Diferencial/vantagem competitiva: identificar o diferencial ou vantagem competitiva do criptoativo é muito importante para entender seu valor. Isso pode incluir recursos tecnológicos inovadores, parcerias estratégicas, casos de uso exclusivos ou características que o destacam em relação aos competidores.

9. Histórico e Riscos 

O mercado de criptoativos tem menos de 15 anos de idade. Em comparação, o mercado de ações já possui séculos de existência. Em 1600, na bolsa de Amsterdã, já existia algo similar ao que temos hoje. 

Nesses poucos anos, notamos que entre os ciclos altamente voláteis de cripto existem aqueles projetos que somem e se tornam irrelevantes, e existem os que continuam criando valor independentemente do cenário. Por isso, no caso de cripto, idade é documento sim. 

Podemos ter uma ideia do quão resiliente é um ativo ao observar os vários riscos aos quais um protocolo está exposto. 

  • Regulação: é preciso entender se a adoção de um ativo pode ser barrada pela ação de reguladores; 
  • Tempo de vida: o ativo que já passou por outros ciclos têm uma validação importante ao seu favor. O tempo de vida pode ser decorrente de vários fatores, como sucesso do modelo de negócio, sustentabilidade da operação do protocolo, equipe de desenvolvimento criativa, etc;  
  • Risco do modelo de negócios: todo modelo de negócio depende de certas premissas; de Terra (LUNA) a Ethereum. Não necessariamente o token terá um reflexo do quão bom é o modelo de negócio, mas certamente o token não valeria nada sem uma proposta de negócio suficientemente boa (lembrando que valor é diferente de preço); 
  • Risco técnico: esse é um risco mais difícil de avaliar, pois requer bastante tempo e conhecimento específico. Se refere ao risco inerente da tecnologia – os contratos estão bem programados? Existem fragilidades no código? São algumas das perguntas mais básicas, porém necessárias. 

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.