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Conflito no Oriente Médio e Treasuries nos EUA seguem no centro das preocupações; veja os destaques do mercado nesta sexta (20)

Incursão terrestre na Faixa de Gaza aumenta risco de escalada no conflito e pressiona petróleo. Nos EUA, yields dos Treasuries de 10 anos se aproximaram de 5%

Por Matheus Spiess

20 out 2023, 09:57 - atualizado em 20 out 2023, 09:57

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Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. A tensão no Oriente Médio e as taxas de juros nos mercados dos EUA estão no centro das preocupações. Nas últimas horas, sinais apontam para a iminência de uma incursão terrestre na Faixa de Gaza, o que aumenta o risco de uma escalada no conflito e pressiona os preços do petróleo para níveis mais elevados. Ao mesmo tempo, as taxas dos Treasuries de 10 anos se aproximaram de 5%, atingindo um patamar não visto em mais de uma década, em grande parte devido aos comentários surpreendentemente firmes de Jerome Powell, presidente do Fed.

Os mercados asiáticos fecharam em baixa na sexta-feira, refletindo as preocupações com o agravamento das tensões no Oriente Médio e a incerteza em torno das taxas de juros. Na Europa, os mercados começaram o dia com quedas, seguindo a tendência de baixa dos futuros nos Estados Unidos. O preço do petróleo se aproxima novamente dos US$ 94 por barril, intensificando as preocupações em relação à inflação. O Brasil está acompanhando essa dinâmica global, uma vez que carece de catalisadores domésticos que possam impulsionar o otimismo dos investidores.

A ver…

· 00:43 — Cortes no preço da gasolina

No cenário local, embora sejamos amplamente influenciados pelo contexto global, há alguns pontos a serem monitorados. Hoje, temos o IBC-Br de agosto, que provavelmente apresentará uma queda de 0,6% devido aos resultados fracos dos setores de serviços e varejo no mesmo mês. Essa desaceleração é significativa em comparação com o aumento de 0,44% registrado em julho e pode contribuir para que o Banco Central mantenha o ritmo de redução da taxa de juros nos próximos meses.

Outro fator que pode influenciar a decisão do Banco Central é a redução do preço da gasolina em 4%, praticamente eliminando a diferença em relação aos preços globais (já em setembro, houve uma diminuição nos preços nos EUA). A partir de hoje, o litro da gasolina custará R$ 2,81 nas refinarias, o que representa uma redução de R$ 0,12. No entanto, o preço do diesel aumentou um pouco e ainda apresenta uma defasagem em relação aos preços internacionais.

Laís Costa, daqui da Empiricus, já havia apontado essa possibilidade de corte no preço da gasolina alguns dias atrás, embora eu tenha sido cético, principalmente devido ao cenário geopolítico tenso e ao risco de uma escalada nos preços do petróleo. No entanto, a previsão de Laís se concretizou (como normalmente acontece, por sinal).

Essa redução no preço da gasolina terá um impacto positivo no IPCA, afetando-o possivelmente em 0,10 pontos percentuais (enquanto o diesel tem um peso menor no índice em comparação com a gasolina). Gradualmente, nos aproximamos de uma inflação em torno de 4,5%. Pelo menos a trajetória do ciclo de redução da taxa de juros está mantida para 2023. Resta saber como ficam as coisas em 2024.

· 01:48 — O real ainda é moeda de “carry”

Estou de acordo com a declaração do diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, feita recentemente em um evento. A pequena queda gradual na taxa Selic recente não muda o fato de que o real brasileiro continua sendo uma moeda adequada para a estratégia de “carry trade”, na qual se obtém empréstimos em regiões com juros mais baixos para investir em ativos com juros mais altos no Brasil. No entanto, hoje, a redução da diferença de juros entre os mercados emergentes e as economias desenvolvidas tem gerado discussões sobre o impacto para as economias em desenvolvimento.

É importante recordar que logo após a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em agosto, quando houve uma reação negativa nos mercados brasileiros, quase levando a uma venda massiva de ativos, o Banco Central já argumentava que isso estava mais relacionado ao cenário global do que a fatores locais. Enquanto isso, a China enfrenta questões tanto conjunturais no mercado imobiliário quanto transformações estruturais que mudam seu padrão de crescimento, passando de uma ênfase na construção para um modelo mais voltado para tecnologia e consumo. É necessário avaliar os impactos disso nas commodities.

Por outro lado, os Estados Unidos passaram por diversas fases nos últimos meses, saindo de um cenário de desaceleração econômica acentuada para uma aterrisagem suave, seguida por um período de estabilidade e, mais recentemente, uma espécie de “desinflação imaculada”, conforme descrito por Paul Krugman. Hoje, nos EUA, o cenário aponta para taxas de juros mais altas por um período prolongado. Ainda não compreendemos completamente os efeitos de longo prazo disso, mas, mesmo assim, o real mantém seu status como uma moeda adequada para a estratégia de “carry trade.”

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· 02:54 — A taxa de juros de 10 anos chegou a 5%

Você está me dizendo que se chegarmos a 8% é o fim do mundo?” Esta frase é tirada do filme “A Grande Aposta”, em que Mark Baum questiona a tese de Jared Vennett na famosa cena do Jenga. (clique aqui para assistir o trecho). Isso é meramente caricato, mas as taxas de hipoteca nos Estados Unidos atingiram 8% recentemente, assim como as taxas de juros de 10 anos flertaram com 5%. De fato, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, parece ter recuado em relação a um aumento das taxas em novembro, mas o restante de seus comentários foi muito mais “hawkish” (contracionista) do que o esperado. Ele explicou explicitamente a relação entre uma economia mais forte e taxas de juros mais altas por um período prolongado.

A inflação ainda permanece muito alta, o que mantém a porta aberta para outro aumento nas taxas de juros em dezembro (uma possibilidade que já estávamos cientes). Se isso acontecer, veremos mais um aumento de 25 pontos-base antes do final do ciclo de aperto. No entanto, as taxas de juros provavelmente permanecerão elevadas por mais tempo, até que haja um impacto mais claro na economia real. É importante lembrar que nos últimos 20 meses, o Fed elevou as taxas de juros para o nível mais alto em 22 anos para combater a inflação crescente. Ao mesmo tempo, a inflação caiu para cerca da metade de seu pico em junho de 2022 (embora ainda não tenha atingido níveis considerados baixos).

Para ter uma compreensão mais clara dessas expectativas, será fundamental acompanhar o PIB do terceiro trimestre dos EUA, que será divulgado na próxima quinta-feira. Já alertamos que o PIB ainda está robusto no terceiro trimestre, projetando um crescimento anualizado de pelo menos 3,5%, com algumas fontes, como o Fed de Atlanta, apontando para 5%. Uma taxa de crescimento intermediária também é plausível. Em resumo, o cenário de preocupação com a atividade econômica muito forte não deve mudar tão cedo, a menos que o PIB decepcione significativamente.

· 03:59 — Uma nova realidade

As recentes declarações dos membros do Federal Reserve deram aos investidores razões para acreditar que os aumentos nas taxas de juros podem estar terminando, mas isso não significa que as taxas cairão tão cedo. Pode ser necessário um cenário de recessão para que os rendimentos dos títulos voltem a cair. O rendimento dos títulos de 10 anos subiu 1,2 pontos percentuais desde julho, à medida que os investidores consideram cada vez mais a possibilidade de o Federal Reserve aumentar as taxas de juros acima do esperado e mantê-las nesse patamar por um período prolongado.

Para ter uma ideia do aumento, compare o rendimento atual de 10 anos com o nível de cerca de 0,5% atingido em 2020, quando os investidores, temendo os efeitos da pandemia, buscaram refúgio em títulos do Tesouro considerados isentos de risco. Nessa época, o Fed havia reduzido a taxa dos fundos federais para quase zero. Os rendimentos mais elevados atualmente oferecidos são atraentes para investidores em busca de um retorno maior sem risco, mesmo cientes de que as taxas podem continuar a subir no curto prazo, o que afetaria o valor de mercado dos títulos.

· 04:45 — O sinal verde

No período noturno de ontem, após seu retorno de Israel, Joe Biden fez um apelo direto aos cidadãos norte-americanos para que apoiassem o financiamento dos esforços de guerra em Israel e na Ucrânia, alertando sobre as ameaças paralelas que o Hamas e a Rússia representam para a democracia dos Estados Unidos.

Estamos, de fato, testemunhando os contornos de uma Nova Guerra Fria, onde as democracias ocidentais, como os EUA e os países da União Europeia, enfrentam as autocracias do Oriente, como Rússia, China e Irã.

Com esse pronunciamento, Biden solicitou ao Congresso um adicional de mais de US$ 100 bilhões em investimentos em segurança (lembrando que o Congresso ainda não escolheu um novo presidente e pode potencialmente levar o governo a um fechamento em novembro). A ideia é gastar mais, o que não é pouca coisa. Gaste mais, está pouco…

As declarações do presidente dos EUA também estão em sintonia com as informações recentes de que as forças armadas de Israel receberam a autorização para uma possível incursão terrestre na Faixa de Gaza. O risco de uma escalada é uma realidade.

Além disso, nas últimas 24 horas, bases aéreas dos EUA no Iraque foram alvo de pelo menos três ataques de mísseis e drones, enquanto um navio da marinha dos EUA que navegava perto do Iêmen interceptou mísseis. Observando todos esses acontecimentos, a China decidiu acelerar a expansão de seu arsenal nuclear (um excelente momento, não é mesmo?). O clima está ameno: sombra e água fresca.

· 05:31 — Oportunidade no setor de locação de veículos 

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.