Investimentos

Cosan Logística (RLOG3): tudo que você precisa saber

Após reestruturação, o Grupo Cosan simplifica uma operação brutalmente lucrativa

Por Matheus Egydio

10 mar 2021, 08:12

As ações da Cosan Logística (RLOG3) são indicadas por Felipe Miranda e João Piccioni, nas séries Palavra do Estrategista e Carteira Empiricus, respectivamente.

Neste artigo, vamos explicar os principais pontos que você precisa ter em mente antes de se tornar sócio da empresa e, assim, o racional por trás da tese de investimento em RLOG3. Para facilitar a sua leitura, dividimos o conteúdo nos seguintes tópicos:

Entendendo o perfil da Cosan Logística (RLOG3)

A Cosan foi criada em 1936 como uma usina de cana de açúcar situada em São Paulo e, nos próximos 70 anos, o segredo da expansão nacional da companhia foi fundamentado na aquisição de outras empresas, ou seja, crescimento inorgânico.

Em 2005, a Cosan inaugura CSAN3 no mercado financeiro por meio do seu IPO no Novo Mercado — grupo especial formado apenas pelas empresas que adotam, voluntariamente, as melhores práticas de governança corporativa — da BM&F Bovespa. A captação foi expressiva: US$ 400 milhões.

Em 2007, no entanto, foi a vez da Cosan Limited, a holding no topo do grupo, entrar no mercado financeiro. Dessa vez, o IPO foi realizado na NYSE, a Bolsa de Valores de Nova York, e o ticker em questão era CZZ.

A companhia, com mais dinheiro no caixa, decidiu continuar fazendo o que aprendeu muito bem nas últimas décadas, isto é, expandindo inorganicamente.

Em 2008, a Cosan adquiriu os ativos da ExxonMobil no Brasil

Ainda em 2008, criam a Rumo (RAIL3), mais diretamente ligada à Cosan Logística (RLOG3) que abordaremos com mais atenção daqui a pouco.

No ano subsequente, a empresa compra a Nova América, dona da marca de açúcar União, e se torna a maior produtora individual do ramo no mundo.

Paralelamente, a Rumo começa a crescer como uma empresa de logística e, seguindo o exemplo da empresa-mãe, aposta no crescimento inorgânico para turbinar o ritmo: em 2014, inicia um processo de fusão com a ALL Logística e passa a ser a maior companhia de transporte ferroviário do Brasil.

Era grande demais para a Cosan Limited (NYSE: CZZ) administrar apropriadamente por meio da Cosan S.A. (CSAN3) que, por sua vez, tinha outras oito empresas sob supervisão…

A solução foi encontrada ainda em 2014, quando criaram uma holding do mesmo nível da Cosan S.A. para gerenciar o braço logístico do grupo. Pela atuação, decidiram nomeá-la como Cosan Logística (RLOG3).

A nova holding nasceu, portanto, para controlar as operações da Rumo, que consistem numa enorme rede ferroviária com cerca de 12.000 quilômetros de linhas, 1.000 locomotivas e 25.000 vagões, além de centros de distribuição e instalações de armazenamento.

Assim, há capacidade para armazenar cerca de mais de 1 milhão de toneladas de grãos, açúcar e outras commodities, o que permite oferecer um serviço logístico completo e eficiente aos clientes.

Não obstante, também sustenta operações em seis terminais portuários, onde possui dois e participa dos outros quatro. Tudo isso faz com que a empresa tenha uma capacidade total de levantamento na casa dos 29 milhões de toneladas por ano.

Assim, a Cosan Logística, por meio da Rumo, se torna um parceiro-chave para empresas do setor agrícola no Brasil, que se beneficiam tanto da rede vascularizada de transporte quanto da alta capacidade de armazenagem.

Por fim, RLOG3 também oferece serviços de transporte intermodal, ou seja, movimenta cargas em contêineres utilizando duas ou mais modalidades de transporte (geralmente trens e caminhões). Esse método reduz o custo de movimentação de carga porque é possível economizar muito combustível durante o processo.

Só que a criação da Cosan Logística não eliminou a alta complexidade da estrutura societária do grupo, o que começou a se tornar um problema latente para os administradores e investidores…

Para Max Bohm, sócio e analista da Empiricus, esses problemas podem gerar pressão no ativo, ou seja, RLOG3 se torna mais volátil.

Deixar a situação mais simples era necessário e, cientes disso, os gestores começaram o trabalho, que ainda está em andamento e abordaremos com mais profundidade na próxima seção.

Simplificando as coisas: a relação (antes e depois) entre CZZ, CSAN3 e RLOG3

Em 2020, ficamos sabendo que o Grupo Cosan passaria por uma reorganização societária, o que tornaria a estrutura corporativa mais simples ao mesmo tempo em que proporciona robustez à estrutura social da companhia.

Em termos práticos, levantar capital ficou mais fácil e CSAN consolida-se como uma plataforma de desenvolvimento de projetos.

Vamos para a operação.

Até o momento, como dito, temos a holding Cosan Limited (NYSE: CZZ) no topo da hierarquia e, abaixo dela, temos Cosan S.A. (CSAN3) ao lado de Cosan Logística (RLOG3). A reorganização societária incorporou as sociedades sob controle comum, o que significa que CZZ e RLOG3 foram “engolidas” pela Cosan (CSAN3).

Vale destacar que a Rumo (RAIL3) segue listada na B3.

Assim, todos os investidores que detinham CZZ e RLOG3 passaram a ter, diretamente, CSAN3. No caso de CZZ, que é um ativo listado no exterior, foram emitidos ADRs (equivalentes ao nosso BDR).

O processo, portanto, foi automático e aconteceu no dia 08 de março de 2020, “desligando” CZZ e RLOG3 da Bolsa americana e brasileira, respectivamente.

As companhias continuarão sendo controladas pela Aguassanta, o veículo de investimento da família do empresário Rubens Ometto:

Estrutura Corporativa resultante após a reestruturação

Fonte: Cosan | Adaptação: Empiricus

Felipe Miranda, CIO da Empiricus, também destaca que esse movimento explicita “o aprimoramento geral na governança corporativa”, já que vemos a consolidação da “base acionária em uma única holding, com uma única classe de ações e mesmo direito a voto”, assim como “o aumento da liquidez, por meio da consolidação do free float de CSAN, RLOG e CZZ”.

Em síntese, uma melhoria tremenda para o grupo.

Antes de contextualizarmos as empresas citadas no gráfico acima, vamos nos alinhar quanto ao termo free float: trata-se das ações que circulam livremente no mercado, ou seja, as que podemos comprar e vender.

Partindo agora para o ecossistema do Grupo Cosan, temos:

  • Raízen Combustíveis, criada de uma parceria com a Shell e focada na distribuição de combustíveis, com uma rede de mais de 7.000 postos;

  • Raízen Energia, também joint venture entre Cosan e Shell, mas com foco no mercado de açúcar e etanol;

  • Compass, que integra os ativos da Comgás e outros projetos do mercado de gás, um “segmento que é excelente gerador de caixa e pagador de dividendos”, destaca Felipe;

  • Moove, que se configura como uma das maiores produtoras e distribuidoras de lubrificantes e óleos básicos da América do; e

  • Rumo, já introduzida como a maior operadora de ferrovias do Brasil, com 20% de participação na matriz de transportes brasileira e relevância no escoamento da produção agrícola e das exportações do país.

Quais são as avenidas de crescimento?

A reestruturação não descarta a necessidade de entender o enorme braço logístico do grupo e, assim, vamos entender as novidades positivas e negativas da Rumo, controlada da extinta holding logística (RLOG3).

Além disso, o movimento permite que nós, investidores, possamos nos beneficiar — ou nos preocupar — com a operação do grupo inteiro, entrelaçada por meio do seu ativo unificado: CSAN3.

Vamos explorar, portanto, todas as vias de crescimento do Grupo Cosan.

Para começar com a dupla de joint ventures com a Shell, Raízen é subestimada pelo mercado (oportunidade potencial aqui). Para Felipe, “o valor escondido ali e as vantagens competitivas, além da qualidade do management, são incomparáveis”.

Ele ainda detalha que fatores como “geração de energia, etanol de segunda geração, a melhor margem em distribuição de combustível, e o ganho de market share” são vantagens de peso que, se inseridas na proposta do IPO de Raízen — que ele acha possível ainda no primeiro semestre —, serão traduzidas numa reprecificação relevante do ativo.

E ficou ainda melhor.

A Raízen Energia fez a aquisição da Biosev no começo de 2021, pagando US$ 34/tonelada de capacidade da empresa comprada. A análise do Felipe indica que, daí, surgem sinergias muito relevantes que, em números, totalizam R$ 6 bilhões.

Ele aponta que “se incluíssemos o valor presente líquido de até R$ 2 bilhões em benefícios fiscais derivados da transação, vira um negócio simplesmente brutal”.

A expectativa é de que o movimento gere caixa de forma muito mais intensa daqui em diante.

Partindo para a Compass, encontramos uma geração de caixa e distribuição de dividendos absurda, “capaz de se beneficiar enormemente do desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil e com um potencial de crescimento muitas vezes subdimensionado — está na cara do pré-sal e, se pegar mesmo essa história da Rota 4, vai ser uma nova multiplicação de valor”, aponta Felipe.

Então, chegamos à Rumo, que simboliza um ativo irreplicável, ou seja, com barreira de entrada elevadíssima — não dá para copiar a maior malha ferroviária do Brasil tão facilmente. Aqui, no entanto, devemos nos atentar para a questão política delicada das regulações de transporte.

Mas, para Felipe, o time é competente o suficiente para nos garantir confiança.

Os resultados da Rumo no 4T20, em meio a dificuldades e superações, deixam isso claro. Em números, o volume transportado consolidado registrou um tímido crescimento de 3,9% em relação a 2019, enquanto a comparação trimestral (vs. 4T19) nos mostra uma evolução de 8%.

Além da pandemia, a pavimentação da BR-163 foi um fator negativo de peso, uma vez que o espaço ainda “não tem pedágios e trouxe maior competitividade logística para as operações de transporte de grãos da companhia”, explica Felipe.

Só que esses problemas estão prestes a expirar em 2021: “as expectativas mostram um novo recorde para a safra e a elevação nos preços do diesel aliada à cobrança de pedágios da rodovia trará mais alívio da concorrência”, diz Felipe.

Assim, João Piccioni é categórico: “mesmo diante de um resultado desfavorável para a empresa, acreditamos que 2021 será um ano diferente”.

Podemos esperar que os novos recordes da safra, inclusão de praças de pedágios na BR-163 e a elevação no preço do diesel tornará a empresa mais competitiva para os produtos de grãos e, assim, poderá se valorizar no mercado.

Conclusão

Podemos destacar, como riscos ao grupo e à tese que construímos, os investimentos vultuosos que se fazem necessários nos seus ativos, assim como os riscos regulatórios nas áreas de gás. No lado da Rumo, o alívio da concorrência não diminui drasticamente a pressão desta, que deve continuar à espreita.

Ainda assim, os prós trabalhados ao longo deste artigo reforçam o posicionamento de Felipe e João, que colocam RLOG3 (em breve, CSAN3) no pódio das suas indicações, ou seja, entre as três ações com maior potencial de multiplicação de patrimônio.

De uma ótica histórica, podemos ver que o longo prazo tem provado a competência do management por meio do crescimento considerável de cada um dos negócios do grupo:

Fonte: Cosan | Elaboração: Empiricus

Assim, sugerimos que compre CSAN3 e aproveite todas as potenciais oportunidades de multiplicar seu dinheiro provenientes disso. Ainda que RLOG3 não exista mais, o grupo ainda enxerga vias de crescimento pelo braço logístico e, para surfarmos nisso, defendemos que vale a pena comprar CSAN3.

Sobre o autor

Matheus Egydio

Escreve para o site da Empiricus, MoneyTimes e Seu Dinheiro.