A Cury Construtora e Incorporadora (CURY3) superou a desaceleração das vendas no setor imobiliário, ao reportar receita líquida em 2021 de R$ 1,7 bilhão, alta de 51,9% na comparação anual. Os resultados surpreenderam, visto que o ritmo de vendas de imóveis no país teve um aumento tímido de 4% sobre o ano anterior.
Para 2022, espera-se que o setor de construção civil tenha crescimento entre 5% e 10%, apesar da pressão inflacionária decorrente do conflito entre Rússia e Ucrânia. Com isso, o segmento segue como um dos motores da economia brasileira.
“Temos boas perspectivas de vendas para este ano, apesar do aumento dos preços dos insumos para construção”, diz Ronaldo Cury, diretor de Relações com Investidores da Cury. “No entanto, conciliamos uma administração eficiente ao histórico de mais de 58 anos da Cury, ou seja, um preparo para períodos turbulentos no Brasil”.
Cury foi convidado do quadro Cara a Cara no YouTube da Empiricus, liderado pelos analistas da carteira Microcap Alert, Cristiane Fensterseifer e Reydison Matos.
O bate-papo foi em torno do modelo de negócio da companhia e os fatores que contribuíram para resiliência da incorporadora. Além disso, eles conversaram sobre os resultados da construtora no 4T21 e as perspectivas para o setor imobiliário em 2022.
Negócio estrategicamente localizado
Ronaldo Cury pontua que, apesar de as cidades de atuação da companhia se concentrarem na região Sudeste – São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas –, a construtora segue posicionada estrategicamente no seu mercado.
Para ele, isso se deve ao fato de tais cidades apresentarem a maior renda per capita de suas respectivas regiões metropolitanas, ao mesmo tempo que possuem maior déficit habitacional.
“A exemplo de São Paulo, são aproximadamente 1,7 milhão de pessoas que vivem em moradias precárias e isso abre espaço para que a gente cresça ainda mais no futuro”,ressalta o diretor de RI, ao citar o market share da construtora que é estimado em 3,2% e 6,8% na região de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente.
A incorporadora consegue operar nas faixas mais altas do programa Casa Verde e Amarela. “Atuamos com preços médios elevados e altos níveis de velocidade de vendas, e vendas sobre oferta”, afirma.
Segundo Cury, com terrenos bem localizados, a companhia conseguiu atingir um ticket médio de R$ 230 mil, faixa de preço mais acessível que tem uma resiliente e alta demanda. “Leve em consideração que também vendemos nossos empreendimentos na planta. Isso porque conseguimos captar os créditos associativos, os mesmos que nos ajudam a buscar geração de caixa”.
Companhia em constante construção
Fundada em 1963, a Cury Construtora teve como primeiro foco a linha de crédito disponibilizada pelo BNH (Banco Nacional de Habitação), extinto órgão que dispunha de mecanismos para estimular a aquisição da casa própria, especialmente pelos mais vulneráveis.
“A partir daí, soubemos aproveitar os bons momentos propiciados nas décadas posteriores”, relembra Cury, em menção ao primeiro grande boom imobiliário ocorrido em São Paulo, na década de 1970, mesmo ano que foram erguidos aproximadamente 750 mil imóveis na capital paulista, indo de casas, edifícios, além de lojas.
“Sempre gosto de citar esses números até porque nosso negócio se concentra em São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas”, pontua o diretor. “E justamente na década de 70 que vimos a expansão dos negócios da Cury nessas metrópoles que tem grande malha urbanística”.
A década citada por Cury corresponde ao milagre econômico, período no qual o Brasil experimentou aceleração do crescimento do PIB. “Contudo, veio a década perdida [de 1980] e o fim dos empréstimos do BNH. Nisso, em meio à estagnação do país, iniciamos o ousado plano de construção de edifícios, que para a época era muito interessante”.
No início do ano de 1990, o cenário ainda era pouco promissor, visto que o setor imobiliário sobrevivia das vendas diretas dos imóveis, desde a extinção do BNH. Entretanto, conforme Cury, com a ampliação do financiamento habitacional pela Caixa Econômica Federal, a companhia viu a oportunidade para passar bem o período.
“Aí veio os anos 2000, em que tivemos o aumento e expansão das linhas de crédito. 2007, ano do Joint-venture com a Cyrela. E 2009, a criação do Minha Casa e Minha Vida”.
Nos períodos posteriores, com a expansão do setor imobiliário, a companhia acelerou sua robustez, até que, em 2020, realizou o seu IPO (Oferta Pública Inicial de ações). “E hoje, estamos aqui, passando bem pela crise da Covid-19 e, agora, ainda que diante alta volatilidade do mercado, por conta da guerra no leste europeu, repassando preços e mantendo uma boa velocidade das vendas”.
Resultados do 4T21 e as perspectivas da companhia
A Cury registrou lucro líquido de R$ 111,6 milhões no último trimestre do ano passado, alta de 50% em relação ao 4T20. Para todo o ano de 2021, a companhia registrou lucro de R$ 315,3 milhões, o que representa um salto de 65,9%.
No acumulado do ano, a companhia gerou um caixa de R$ 237,4 milhões, fruto do lançamento de 26 empreendimentos que condicionaram o VGV (Valor Geral de Vendas) líquido de R$ 2,6 bilhões, avanço de 90%, segundo o balanço da empresa.
Para Ronaldo Cury, a explicação para esses resultados se deve, sobretudo, ao repasse de preços. Ele diz, inclusive, que São Paulo e Rio de Janeiro apresentam o metro quadrado mais caro do país e funcionam como um termômetro do mercado imobiliário.
“E no caso dos nossos pares, ninguém reclamou por falta de vendas. O pessoal reclamou por causa da perda de margem, pois está mais difícil o custo de construção e nem todos conseguiram repassar os seus preços, diferente de nós.
Seguindo a observação de Fensterseifer, um dos riscos conjunturais que podem afetar o negócio da companhia são as eleições, uma vez que nesse período as vendas das construtoras oscilam, ao que Cury dispara: “Vamos acelerar nossos lançamentos até o segundo trimestre de 2021 e, com isso, temos suporte para sentir como o mercado estará no segundo semestre”.
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