Olhando os últimos 3 anos do Assaí (ASAI3), a conquista recente de varejista com maior presença nos lares brasileiros (1 em cada 4), foi a cereja do bolo do robusto programa de expansão que vem sendo tocado nesse período. Principalmente através da aquisição dos 66 pontos comerciais do Extra, a companhia saiu de 184 lojas ao final de 2020 para 288 até setembro do último ano.
Conforme já comentamos em outras oportunidades, uma expansão dessa magnitude exigiu um investimento grande da companhia. Além do Capex na reforma e abertura de lojas, os pagamentos ao Grupo Pão de Açúcar pelos pontos comerciais e a elevação da taxa de juros deterioraram a geração de caixa livre do Assaí e elevaram sua alavancagem financeira, que no ápice chegou a 4,7x Dívida Líquida/Ebitda pré-IFRS 16.
Contudo, o processo de desalavancagem já se iniciou e acreditamos que ele irá se acelerar ao longo de 2024. Nas estimativas da companhia, a alavancagem no final de 2024 deverá ser menor que 3,5x.
Segundo Belmiro Gomes, CEO do Assaí, não há a expectativa de que 2024 seja um ano espetacular, mas bem melhor que 2023. Particularmente, gostamos da comunicação mais conservadora adotada pelo Assaí, que em alguns momentos nos últimos 2 anos precisou mudar a direção que guiavam os investidores, frustrando as elevadas expectativas.
Os fatores mencionados que devem contribuir para a companhia trilhar um ano mais positivo e chegar no nível esperado de alavancagem são os mesmos pontuados no Investor Day em dezembro de 2023.
Fim dos pagamentos ao GPA e menor CAPEX
A última parcela da dívida da companhia referente a aquisição das lojas Extra será paga no primeiro trimestre deste ano, trazendo um importante alívio para o caixa da companhia.
Além disso, com o plano de conversões já praticamente concluído, deveremos ver um número menor de aberturas em 2024 e, consequentemente, um CAPEX menor.
A expectativa é gastar R$ 1,5-2 bilhões esse ano, cerca de um terço do que foi investido em 2023.
Desinflação de alimentos cessando
Após um ano de 2022 em que a inflação dos alimentos foi benéfica para o varejo alimentar (repassam mais preço do que perdem em volume), a desinflação minou o indicador de vendas nas mesmas lojas em 2023. O ano terminou com a menor variação desde 2017, em 1,03% no ano. Para 2024, é esperado pela companhia preços mais estáveis e com uma pressão marginal para cima — já vemos uma mudança de tendência em novembro e dezembro do último ano.
Lojas em ponto mais alto da curva de maturação
Dado que as primeiras inauguraçõesdas convertidas do Extra para Assaí só ocorreram no segundo semestre de 2022 e, segundo a companhia, a maturação total só acontece no 2º ano, ainda não há no portfólio uma loja com dois anos completos e, muitas, ainda completando seu primeiro ano. Assim, o ano de 2024 rodará com um percentual de maturidade dessas lojas muito maior quando comparado a 2023, expandindo o faturamento e as margens do negócio.
Nos dados colhidos até aqui, em média, com menos de 12 meses de operação, as lojas convertidas atingem faturamento 13% superior à venda da loja orgânica madura e margem EBITDA Pós-IFRS16 em linha com a média da companhia de ~7%. Nas regiões centrais, a expectativa é que a margem legado seja até superada.
Na ponta negativa para o ano, está o aumento da carga tributária. A aprovação da MP das subvenções deve retirar parte dos benefícios fiscais de ICMS de toda a indústria. No caso do Assaí, devido ao seu porte e às vantagens competitivas do modelo de Cash & Carry, o impacto no lucro líquido poderá ser compensado por um aumento de preço relativamente menor que players menores, principalmente os que estão fora do atacarejo.
Ainda há espaço para o Cash & Carry?
É um tema que segue sendo bastante questionado pelos investidores, após a expansão massiva não só do Assaí, mas de todo o segmento nos últimos 2 anos. No evento, Belmiro reforçou as oportunidades de expansão que a companhia ainda enxerga.
Hoje há 2.500 lojas e 300 empresas no atacarejo. Das 203 cidades com mais de 150 mil habitantes, 91 cidades ainda não possuem uma loja Assaí. Além disso, em diversos municípios com mais de 150 mil habitantes, a companhia está com menos lojas do que o ideal para atender toda a região.
A penetração do C&C hoje é muito mais alta que no passado, mas o formato deve continuar capturando share de hipermercados, principalmente com essas lojas mais centrais (como as inauguradas pelo Assaí no programa de conversões).
Além disso, a companhia busca capturar também as compras de reposição de estoque que ainda são feitas em supermercados. Esse é um trabalho mais lento e de convencimento do consumidor, que tende a ir aos “supers” pelo fator conveniência.
É fato que o espaço para expansão é bem menor do que há alguns anos. Contudo, ainda existem oportunidades bastante óbvias de crescimento orgânico e a companhia deve continuar investindo nessa vertente pelos próximos anos — mas com menor intensidade em relação aos últimos 2 anos.
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Nossa avaliação atual sobre Assaí (ASAI3)
Claro que ainda é cedo para falar, mas a dinâmica de ASAI3 e os comentários dos sell sides para a companhia se mostram bastante positivos neste início de ano. As ações sobem 2% enquanto o Ibovespa cai mais de 3%.
No fim, nossa percepção é de que 2024 pode ser um bom ano para empresas com as características que Assaí apresenta hoje: alavancadas (mas não em situação de risco) e com crescimento de lucros contratado.
Negociando a 15x os seus lucros para 2024, ASAI3 segue como uma recomendação da Empiricus Research.