Talvez seja só uma estratégia para inflar o IPO. Talvez seja 100% verdade. Talvez uma mistura das duas coisas. As coisas, porém, cheiram como se já estivessem fechadas. Saberemos mesmo
nos próximos dias. Pra mim, já foi.
Algumas coisas não podem ser escritas. Elas parecem se tornar uma espécie de maldição. Na segunda-feira, formulei parágrafo assim:
“Tenha em vista que o momento é particularmente importante. Hoje, as corretoras tentam se colocar como alternativas aos bancos. Agem falsamente como se estivessem focadas em prestar a melhor consultoria e aconselhamento aos investidores. Essencialmente, porém, elas são iguaizinhas aos bancos. Não há diferença fundamental. Acuse os adversários do que você faz, chame-os do que você é. Algumas se colocam como geniais, enquanto não passam de um banco plural. Outras insistem retoricamente na desbancarização, enquanto alimentam o sonho íntimo de se tornar um banco.”
Menos de 48 horas depois, saem notícias sugerindo a compra de parte da XP Investimentos pelo Itaú – já há até Fato Relevante confirmando conversas, embora não ainda sua concretização. Pelo que consta na imprensa, seriam R$ 6 bi por 49%, com os atuais sócios da XP preservando o controle.
Faz sentido pro Itaú? É óbvio que sim – eles já olharam lá atrás e dai inclusive emergiu a Guide. Você tira um concorrente do jogo (há, de fato, fluxo de saída recorrente e significativo do Itaú para XP), ganha exposição a um veículo de altíssimas taxas de crescimento e com veia de start up, menos burocratizado, mais ágil e com um managment comprovadamente competente – é admirável o que esse pessoal fez em tão pouco tempo. Já escrevi isso diversas vezes e reitero cada uma das palavras.
Mas há problemas também.
O primeiro evidente é o preço. Claro que se você supuser um custo de capital indo pro chão, apelar para os argumentos de baixa penetração de renda fixa e ações na população brasileira e adotar uma taxa de crescimento de 100% ad infinitum, consegue justificar o valuation que quiser. Planilha aceita qualquer coisa – até um valuation de 30x lucros. É mais ou menos isto que está implícito na transação (admitindo os valores ventilados na imprensa): algo entre 25x a 30x lucros.
Com Itaú negociando a 10x lucros, a transação seria imediatamente non accretive para o banco. Ok, ok. Entendo o argumento de que é estratégico, de que vai matar a concorrência. Mas lembre-se que o Bradesco, supostamente, também mataria a concorrência ao comprar a Ágora, que aliás virou uma corretora ruim após a aquisição pelo bancão – à época, a Ágora era bem maior que a XP. Se você tira um concorrente do jogo, outro nasce no lugar se, de fato, existe um espaço de mercado a ser preenchido.
Considere ainda que o BTG vale R$ 18 bi em Bolsa e acaba de soltar um lucro líquido ajustado de R$ 843 milhões no TRIMESTRE; a XP, supostamente, valeria R$ 12 bi e projetaria um lucro líquido de R$ 480 no ANO.
Há outros empecilhos também. Ao fazer a tal aquisição, o Itaú compra não somente um stake na XP. Ele compra também a sua alma. Aquela que vinha sendo a alternativa viável e relevante fora dos bancos ao investidor pessoa física acaba de ser engolida pelo sistema. O outsider agora virou mainstream, pertence ao oligopólio que por tanto tempo combateu. A veia marginal (no sentido de estar à margem do consenso) é danificada. Uma espécie de trombose que restringe a boa circulação daquela agressividade saudável, das ideias ultrajantes e revolucionárias, da verve provocadora, do novo como alternativa às amarras da concentração bancária descabida. Acabou.
E a terceira barreira clara é esse tanto de agente autônomo, muitos deles detentores de ações e ávidos pela potencial liquidez gerada a partir do IPO. Muitos são sérios e competentes, estão comprometidos com a causa. Outros, não. Apenas enxergavam uma janela de saída. Esses mesmos que podem representar um risco trabalhista e fiscal importante ao Itaú. Esses mesmos que, agora, talvez estejam submetidos a uma nova burocracia, a uma dúzia de comitês e ao formalismo de uma instituição como o Itaú. A XP será a mesma com regras mais rígidas e fiscalização mais intensa sobre esse pessoal? Apenas para citar um exemplo: o fundo Scena teria captado tudo que captou se todos soubessem claramente que não era gestão Stuhlberger e que o histórico do Horizonte é apenas razoável?
Alguém ganha com esse processo? Vejo dois principais ganhadores. BTG, que poderá colocar sua plataforma digital como uma alternativa efetiva fora dos grandes bancos de varejo, e Advent, que acaba de comprar um stake relevante na Easynvest e mais uma vez mostra que é porreta! Embora ainda tenham um porte bem menor e não impactem o sistema com a relevância que poderiam (quem sabe um dia!), ambos poderão se apropriar do discurso da desbancarização, anteriormente proferido com assertividade e precisão pela XP.
Quem perde? Infelizmente, você, investidor. Mais uma vez, para nossa tristeza, quem vai pagar a conta é a pessoa física, que perde aquela que vinha sendo a única alternativa crível, viável e com impacto material em relação aos bancos.
Hoje é um dia ruim para o mercado de capitais brasileiro, que caminha para ver fortalecido o oligopólio dos bancos, às custas, claro, do investidor pessoa física.
Modéstia à parte, se você ainda não entendeu a necessidade de ter uma estratégia bem desenhada para combater esse monstro, agora está ainda mais evidente e urgente. Independência ou morte. A Empiricus foi feita justamente para isso. Mais do que nunca, ela é a única alternativa, neste momento, com alguma (ainda mínima) relevância para lhe ajudar neste processo. Há outras iniciativas promissoras, como a Inversa e o InvesteAê. Não existem outras. O investidor ficou pior nas últimas horas. É uma pena.
Felizmente, temos notícias mais agradáveis em outras frentes. Inflação oficial voltou a ficar abaixo da meta, mais sobre isso abaixo, na nota da Marília, nossa especialista em renda fixa. Em paralelo, blog do Noblat, que costuma ser influente nessas questões, afirma que o Governo já reúne os votos necessários para aprovação da reforma da Previdência no plenário da Câmara.
Então, somando inflação abaixo do esperado (e da meta) com avanços nas reformas fiscais, temos a via pavimentada para aceleração adicional do ciclo de cortes da taxa Selic. Provavelmente, encerraremos maio com juro básico de 10% anuais.
Recuperação das commodities no exterior também ajuda mercados emergentes. Minério de ferro sobe na China, enquanto petróleo avança antes da divulgação de estoques nos EUA.
Ibovespa Futuro abre em alta de 1 por cento, dólar cai 0,84 contra o real e juros futuros recuam.
Cumprindo com nosso dever, hoje fazemos uma nova oferta interessante para o investidor. Está disponível por pouco tempo o Supercombo da Multiplicação do Capital. Essa pode ser uma alternativa para você.