Ontem (5), o Ministério da Fazenda lançou o “Desenrola Brasil”, um programa de renegociação de dívidas voltado para a pessoa física que pode tirar até 70 milhões de brasileiros do vermelho. Para isso, o governo criou duas faixas de benefícios.
Na Faixa I estariam os 40 milhões de trabalhadores que recebem até dois salários mínimos ou que estejam inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico). A Faixa II contempla os outros 30 milhões que têm dívidas com bancos, podendo fazer renegociação de forma direta.
As instituições podem começar a se cadastrar no programa a partir de julho de 2023.
Segundo informações do governo, o Desenrola será executado em três etapas: publicação da Medida Provisória, adesão dos credores e realização do leilão, e adesão dos devedores e período de renegociação.
A princípio, as pessoas com dívidas de até R$ 100 poderão ser desnegativadas. A partir da publicação da MP, será editada uma regulamentação pelo Ministério da Fazenda detalhando os critérios das instituições financeiras que vão desnegativar dívidas em definitivo.
Quais setores da economia são beneficiados pelo Desenrola Brasil?
Segundo Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, os setores da economia com exposição a crédito devem ser favorecidos, como o setor financeiro, desde grandes bancos a fintechs, e empresas do varejo de consumo cíclico.
“As varejistas, principalmente, trabalham diretamente com essa parte da população de renda mais baixa, que ganha até dois salários mínimos. E, com o programa, essas pessoas vão deixar de estar negativadas, vão conseguir acessar novamente crédito para consumir”, afirma ela.
No entanto, como o Desenrola Brasil só começa a valer em julho, a especialista lembra que o segundo trimestre de 2023 ainda deve ser desafiador para o varejo. “Ainda é cedo para dizer que o quadro para essas empresas vai melhorar muito por conta do programa. Talvez mesmo para cases com mais exposição a setores de baixa renda, como Guararapes (GUAR3) ou C&A (CEAB3), fosse necessária uma mudança sistêmica para melhorar de verdade o cenário”.
Além disso, mesmo diante de um eventual movimento otimista do mercado em relação a ações desse setor, Larissa reforça que a Empiricus Research prefere observar de fora a possível ‘primeira pernada’ de alta até que de fato a taxa básica de juros caia e a situação de crédito esteja mais favorável no país.
As renegociações podem mexer com as ações de bancos?
Para falar disso, primeiramente Larissa explica com mais detalhes como vai funcionar o novo programa do governo: “Basicamente, para as instituições financeiras que derem um desconto relevante para as pessoas que estão inadimplentes, principalmente as pessoas físicas, que são o foco do programa, o Tesouro Nacional vai assumir a inadimplência dessa nova dívida renegociada. Os próprios bancos vão poder decidir em quais carteiras e com quais clientes querem fazer isso”.
A princípio, o objetivo do Desenrola Brasil é perdoar até 90% da dívida, mas a fatia ainda não está oficialmente definida pelo Ministério da Fazenda.
“Então os bancos vão aumentar sua carteira renegociada e, nessa carteira, eles vão ter uma redução a zero da inadimplência“, explica Larissa. “Para as instituições que atendem a classe D e E e que têm uma carteira de crédito problemática, com crédito que não deveria ter concedido, é aí que eu vejo onde o programa pode fazer muita diferença“.
Segundo ela, hoje os bancos que mais se enquadram nesse perfil é o Bradesco (BBDC4), cujas ações chegaram a subir mais de 2% durante o pregão desta terça (6), Banco Inter (BIDI4) e Nubank (Nasdaq: NU/B3: NUBR33).
Mas a analista lembra o investidor que isso não deve “salvar” os bancos, já que as dívidas consideradas nesse programa serão aquelas que realmente a chance de serem quitadas já eram muito baixas e cujo dinheiro a instituição já nem contava mais.
Inclusive, os analistas da Empiricus identificaram recentemente um banco brasileiro que consideram “forte como uma rocha”, cujo relatório completo e gratuito pode ser acessado aqui.
Agora, para conferir a tese sobre o efeito do Desenrola Brasil sobre as ações de bancos e varejistas, assista à participação de Larissa Quaresma na edição de hoje do Giro do Mercado: