Investimentos

Desktop (DESK3): possível contratação de banco para vender infraestrutura de fibra faz ação disparar; veja o que achamos da notícia

De acordo com o portal Neo Feed, Desktop quer vender sua rede de 55 mil km de fibra óptica e seguir modelo semelhante ao da Oi; saiba mais

Por Richard Carboni Camargo

31 ago 2023, 11:55 - atualizado em 31 ago 2023, 11:55

desktop desk3
Imagem: Freepik

Na semana passada, uma notícia divulgada pelo portal Neo Feed fez subir aproximadamente +6% as ações da Desktop (DESK3).

Fonte: Neo Feed

A notícia trata-se, na verdade, de uma especulação de que a Desktop teria contratado um banco de investimentos para vender sua infraestrutura de fibra.

O modelo seria similar ao adotado pela Oi em seu processo de recuperação judicial, fazendo uma cisão da operação de fibra em duas empresas: 

  • i) InfraCo: ficaria com os ativos físicos, aproximadamente 55 mil quilômetros de redes de fibra da Desktop no interior de São Paulo;
  • ii) ClientCo: teria um contrato de longo prazo com a InfraCo para utilizar sua infraestrutura (ao custo de uma tarifa, obviamente) e manteria o relacionamento direto com os quase 1 milhão de clientes da Desktop.

Entre os argumentos a favor da cisão estão o fato de que a Desktop permaneceria com um negócio muito mais “asset light” (apenas o relacionamento comercial, sem a necessidade de expandir e manter a rede de fibra) e que, justamente por essa natureza, seria negociada a um múltiplo maior, próximo de 15x ebitda com base em pares internacionais.

A Desktop, em fato relevante, naturalmente não disse nem que sim, nem que não, mas que talvez. Um clássico.

O que achamos da notícia?

Da nossa parte, entendemos os méritos da cisão, mas acreditamos que o sucesso dessa operação seja uma possibilidade remota, não mais que uma opcionalidade.

Por exemplo: pelo consenso de mercado, as estimativas são de que a Desktop somará receitas de R$ 1,2 bilhão em 2024.

Assumindo um take rate de 40% para a InfraCo, o sucesso da operação faria com a nova empresa (a cindida), nascesse com receitas em torno de R$ 480 milhões. Com uma margem ebitda similar a atual da Desktop, de 50%, o ebitda da InfraCo seria de R$ 240 milhões anuais. 

Aos múltiplos especulados na notícia do Neo Feed, isso avaliaria a InfraCo em R$ 3,6 bilhões. 

Atualmente, a Desktop inteira tem um enterprise value de R$ 2,6 bilhões (valor de mercado de R$ 1,8 bilhão, somado ao endividamento líquido).

Obviamente, acreditamos que a ação está barata (não à toa mantemos nossa recomendação de compra na série Microcap Alert), mas, com um EV de R$ 2,6 bilhões, é difícil imaginar que incentivos teria um player em adquirir uma fração desse business por um valor superior ao da empresa inteira.

Caso a operação venha a avançar, a Desktop provavelmente será “obrigada” a deixar algum dinheiro na mesa. 

Além disso, há a dificuldade nada trivial de encontrar um comprador para os ativos. 

As comparações imediatas são com a V.tal, nascida da antiga Oi. Diferenças importantes, porém, emergem aqui.

Além da rede da V.tal ser 8x maior que a da Desktop, não é exagero dizer que os ativos da primeira são únicos: em várias localidades no Norte e no Centro-Oeste do país, a V.tal é o único player com escala real.

Não consideramos a operação como fundamental para a tese em DESK3

A Desktop, por sua vez, opera no interior do estado de São Paulo, com concorrência importante em todas as suas principais cidades. Uma dessas concorrências é a gigante Vivo, que opera no estado com uma rede própria.

Ou seja, a venda da infraestrutura não é mais do que uma opcionalidade. Se bem sucedida, ela traria sim um gatilho de curto/médio prazo para a ação, mas consideramos sua probabilidade baixa e não vemos como fundamental para a história de investimentos.

A expansão de múltiplos de maneira orgânica provavelmente ainda irá demorar, mas há dois anos, quando veio para a B3, a própria Desktop negociava a 16x ebitda. 

Não acreditamos que a empresa voltará ao mesmo patamar de antes, mas a 6x ebitda atualmente, ainda vemos um espaço interessante para reprecificação, na medida em que a queda dos juros se fizer sentir.

Economista formado pela Universidade de São Paulo (FEA-USP), é analista de ações certificado pelo CNPI, especialista no setor de tecnologia, com foco em ações internacionais. Está na Empiricus há 5 anos, onde é responsável por relatórios nacionais e internacionais, como o MoneyBets Revolution, um portfólio de teses especulativas em segmentos como healthtech, energia sustentável, software e games. Antes da Empiricus, trabalhou por 5 anos no setor de tecnologia.