Investimentos

“Diante de incertezas, a gente se apega ao valuation”, ressalta Felipe Miranda, que mantém uma visão mais construtiva sobre a bolsa brasileira do que com as globais

Em live, o CEO e estrategista-chefe da Empiricus comenta sobre o cenário global, que segue marcado por incertezas e, assim, é preciso colocar foco nos preços das ações de empresas com bons fundamentos

Por Daniela Rocha

02 maio 2022, 12:12 - atualizado em 16 maio 2022, 20:14

Apesar de algumas notícias positivas, na margem, e de certa acomodação de expectativas, o ambiente macro global segue bastante incerto. Nesse contexto, Felipe Miranda, CEO e estrategista-chefe da Empiricus ressalta que, mais do que nunca, é preciso se concentrar nos preços das ações de companhias com bons fundamentos, ou seja, nos descontos.  

“Diante de incertezas, a gente se apega ao valuation”, disse o analista em live semanal no seu perfil no Instagram, neste domingo (01/05).  E acrescentou: “O que fazer quando assumimos que não sabemos sobre o futuro? A gente olha os preços, olha como estão avaliadas as empresas perante os cenários.”

De acordo com ele, é preciso analisar o que aconteceu ao longo do mês de abril para entender como as coisas poderão caminhar. Conforme ele, o ponto que mais impactou negativamente o mercado no mês passado foi o aumento de casos de Covid e os lockdowns na China. Conforme ele, o governo tem defendido uma narrativa complicada contra as vacinas ocidentais e de uma tentativa de zerar a transmissão do vírus – a política Covid Zero, diante de uma variante altamente contagiosa que é a ômicron. O que se questiona agora é como a economia chinesa será reativada. 

Felipe mencionou um estudo da Gavekal Research, que possui uma equipe analistas especializados em China, que aponta que o quadro mais provável seria uma saída moderada com a construção de uma nova narrativa e liberação gradual das localidades que hoje estão sob fortes restrições como Shanghai e Shenzhen, relevantes no comércio exterior. “O mais provável é que o governo chinês comece a aliviar a sua retórica”, afirma.  Já a manutenção do isolamento e contenção das atividades econômicas por um prazo muito alongado ou uma saída acelerada dessa situação são cenários com menores probabilidades de acontecer, conforme o levantamento. 

Por outro lado, há a leitura favorável do mercado em relação ao plano de infraestrutura,  anunciado pelo presidente chinês Xi Jinping no final do mês de abril, com estimativa de investimentos na ordem de US$ 2,2 trilhões. 

Segundo Felipe, ainda vigora a preocupação com a economia americana, entretanto, ele ressalta que o discurso de Jerome Powell, presidente do Fed (banco central americano), mais combativo em relação à inflação, feito no mês passado, já era esperado. 

Após errar na sua interpretação sobre a inflação no segundo semestre do ano passado, classificando-a como transitória, a postura do Fed se alterou a partir de dezembro – o que o analista chama de Powell pivot. “Sucessivamente, o Fed tem feito discursos mais duros, reavaliando o prognóstico para a taxa de juros”, conta. Sendo assim, como já houve um realinhamento importante, o mercado deveria dar uma acalmada nesse quesito, em certa medida. 

O consenso tem migrado para uma taxa de juros em torno de 3% ao ano nos EUA no final desse ciclo, embora tenha alguns bancos e instituições financeiras mais agressivos em suas previsões, chegando a 4% ou 5% ao ano. De todo modo, um contexto de elevação de juros, que é negativo para empresas de tecnologia ou cases de crescimento (growth), com fluxos de caixa em um horizonte mais alongado, ressalta o analista. 

“Estamos naquela situação data dependent – dependente dos dados sobre a economia, e os resultados corporativos das empresas de tecnologia não estão agradando”, afirma. 

Aqui no Brasil, os indicadores de inflação IPCA-15 e IGP-M de abril vieram abaixo das projeções do mercado. Para Felipe, não deixam de ser boas notícias, que podem contribuir para que o Banco Central termine o ciclo de alta da Selic em 12,75% ao ano.

Oportunidades no Brasil: de olho nas pechinchas na bolsa – foco nos valuations

Felipe Miranda disse, em sua live, que prossegue com uma visão mais construtiva sobre a Bolsa brasileira do que com as globais. Como não poderia faltar, ele falou sobre alguns tickers promissores. 

A Vale (VALE3) chegou a enfrentar um momento ruim no mês passado, porém, a partir da divulgação da estratégia do governo chinês de revitalizar a economia a partir de maciços investimentos em infraestrutura, a cotação passou a se recuperar. Outro ponto positivo foi o anúncio de recompra de ações pela mineradora – até 10% dos papéis em circulação. “Contudo, negociando a apenas 3 vezes Ebitda e com 15% de fluxo de caixa livre ao acionista por ano, acho que Vale é um bom negócio”, destaca. Ele, inclusive, acha razoável uma fatia de Vale de até 10% em uma carteira de ações. 

Outra aposta de Felipe é em Gerdau Metalúrgica (GOAU4). “Gerdau tem uma operação redonda e negocia a 2,2 vezes Ebitda. A ação está  muito barata, sou comprador de Gerdau nesse nível”, afirma. Segundo ele, o resultado positivo da siderúrgica Ternium, que registrou avanço de 24% nos lucros no primeiro no 1T22, abre leitura benéfica para Gerdau. “A Ternium atua nos mesmos mercados e regiões”, destaca. O balanço de Gerdau referente aos três primeiros meses do ano sai no dia 5/05, após o fechamento de mercado. 

No setor de petróleo, sua favorita é a 3R Petroleum (RRRP3). “A 3R está andado bem e tem pernas ainda neste rali, com execução, ao começar a produção das reservas recém-adquiridas.”

O setor de shopping center que foi dizimado na Bolsa por conta da pandemia e do cenário macro, tem empresas interessantes no ponto de entrada. “Iguatemi (IGTI11) está descontada em relação à Multiplan. Para mim, a companhia tem ativos premium, mais atrativos. É uma ação must-have”, diz. 

De forma geral, os shoppings vem apresentando retomada no fluxo e nas vendas em função do andamento da vacinação contra Covid, redução do número de casos e, até mesmo, a liberação das máscaras. Para se ter uma ideia, o lucro da Multiplan (MULT3) disparou 270% no 1T22. E o anúncio da combinação de negócios entre a Aliansce Sonae (ALSO3) e a BR Malls (BRML3) mostra o quanto o setor tem valor, avalia Felipe. 

Ele falou sobre outras companhias que estão no seu radar. Quer saber mais? Assista ao vídeo completo: clique aqui

 

Sobre o autor

Daniela Rocha

Coordenadora de Conteúdo na Empiricus. Jornalista com MBA em Finanças na FIA. Atuou nas editorias de economia da TV Cultura e da Band e foi colaboradora do Valor Econômico, Exame e RI.