
Imagem: Arquivo pessoal Thiago Veras
O livro “Mudar: Método”, do escritor francês Édouard Louis, é uma obra que mescla autobiografia e ficção para narrar a trajetória de um jovem que busca escapar das violências estruturais impostas por sua origem social.
A obra explora questões de classe, orientação sexual e mobilidade social, tendo a educação como principal ferramenta de mudança. Louis, um dos principais nomes da literatura contemporânea na França, utiliza uma escrita direta e contundente para contar sua história de ascensão social.
Thiago Veras, diretor de RH da Empiricus, afirma que o livro “Mudar: Método” destaca a importância de “aprender a hackear o sistema” e “dominar códigos específicos” para o desenvolvimento de carreira em qualquer organização.
Em conversa com a equipe do site Empiricus, Veras compartilha suas reflexões sobre a obra, traçando paralelos com sua própria história.
Você vê paralelos entre o livro e o mundo corporativo?
Thiago Veras: Sim, o livro “Mudar: Método” traz muitos ensinamentos sobre carreira e crescimento profissional.
Dentro de uma organização, é natural que as pessoas queiram avançar. Mas esse crescimento está ligado à apropriação de novos códigos: formas de se comunicar, de se comportar, de trabalhar em equipe.
“Mudar: Método” mostra isso de forma extremada, pois o protagonista leva sua ambição ao limite, mas a essência é a mesma. Para crescer, é preciso dominar os códigos do próximo nível.
Em uma corporação, começamos como analistas, donos apenas do nosso próprio processo. Conforme evoluímos, passamos a cooperar com outras pessoas, alguns assumem cargos de liderança e precisam aprender a gerir equipes. Cada uma dessas transições exige novas habilidades e formas de expressão.
No fim das contas, “Mudar: Método” é um manual sobre como hackear o sistema para crescer ou causar uma mudança lateral. O livro inspira profissionais a compreender e dominar os códigos necessários para transformar suas trajetórias.
Qual trecho do livro “Mudar: Método” mais chamou sua atenção?
Thiago Veras: A história do personagem principal é uma confissão. Ele sofre, desde pequeno, violências atravessadas por questões de classe social e orientação sexual. Muitos dos desafios que ele enfrenta têm intersecção com minha própria história.
Um trecho que considero muito marcante é:
“Eu não tinha escolhido andar daquele modo, falar daquele modo. Não entendia porque tinha aqueles trejeitos. É o que as pessoas da cidade diziam. Os trejeitos do Eddy. O Eddy fala cheio de trejeitos. Não entendia porque esses trejeitos haviam sido impostos a mim, ao meu corpo. Não sabia porque era pelos corpos de outros meninos que eu era atraído e não pelo das meninas como era esperado de mim. Eu era prisioneiro de mim mesmo. À noite, sonhava em mudar e me tornar outra pessoa e talvez tenha sido nesses primeiros anos da minha vida que a ideia da mudança se tornou tão importante para mim.”
É um trecho que sintetiza a profundidade da escrita de Édouard Louis e mostra como ele aborda questões identitárias de forma crua e direta.
Além disso, fui muito capturado pela ideia de ascensão social através do estudo – daí, inclusive, o título da obra – e da necessidade de incorporar alguns códigos das classes dominantes para ascender socialmente.
O autor/personagem se agarra com unhas e dentes ao estudo para conseguir fugir de tudo que já era esperado e pré-determinado para ele em termos profissionais. Ele [o personagem] é de uma família de operários no norte da França e sua vida seria basicamente uma continuidade nesse contexto.
No livro, o personagem também relata os vários rumos das pessoas que dividiram a infância com ele. São destinos que, tirando um pouco o juízo de valor, são trágicos: pessoas que morreram muito cedo ou que infelizmente não puderam sonhar com trajetórias profissionais e sociais diferentes daquelas que lhes foram impostas.
Então ele se apega à ideia de que o estudo é seu vetor de transformação, seu meio de escapar de um destino pré-determinado. E nesse sentido, minha história se aproxima muito com a dele.
Por que você decidiu ler o livro?
TV: Eu escolhi ler o livro por recomendação de um grande amigo, com uma história de vida muito parecida com a minha. Passamos por experiências socioeconômicas semelhantes. Ele me contou que tinha adorado esse livro porque contava a nossa história, e isso despertou minha curiosidade.
Já havia escutado sobre o autor, e esse foi o “empurrãozinho” que eu precisava para começar a leitura.