Investimentos

Por que agora vale a pena investir nas ações da Disney?

Segundo analistas da Empiricus Research, a companhia tem implementado novas fontes de receitas e tem espaço para melhorar.

Por Nicole Vasselai

20 jun 2023, 09:21 - atualizado em 20 jun 2023, 09:38

Disney (B3: DISB34 | NYSE: DIS): por que agora vale a pena investir na ação?
Imagem: Unsplash

Durante quatro anos, as ações de Disney (B3: DISB34 | NYSE: DIS) foram uma recomendação da carteira MoneyRider, da série Investidor Internacional, da Empiricus Research. Recentemente, a equipe de análise voltou a acreditar no ativo como um bom case para a carteira.

A ação sempre teve como principal vantagem o fato de ser uma das maiores bibliotecas de propriedade intelectual do mundo, e se beneficiava do ecossistema criado em torno de suas celebridades.

“Afinal de contas, quando um personagem ou franquia faz sucesso nos cinemas, a empresa pode idealizar uma experiência para que os espectadores tentem vivenciar aquele mundo”, afirma Enzo Pacheco, analista das séries internacionais da casa.

Um exemplo, diz o analista, é o caso recente de Star Wars. Depois de muito tempo sem lançar nenhum filme da franquia, a Disney — após adquirir a Lucasfilm em 2012 — resolveu produzir diversos novos filmes e séries para expandir ainda mais o universo Guerra nas Estrelas. 

“A Disney aproveitou para também fazer um parque temático para permitir que os fanáticos (e, fazendo justiça, até aqueles que não são tão fãs assim) pudessem ter a visão de como seria estar in loco em algum dos ambientes vistos nas telas”, conta.

Disney+ de fato se tornou um “plus

A visão positiva dos analistas em relação às ações também foi reforçada pelo lançamento do serviço de streaming da companhia, o Disney+, ao final de 2019. 

Apesar de ter sido algo que já fosse esperado há algum tempo pelos investidores, o fato de ter saído do papel deu a oportunidade para que os analistas passassem a fazer conta de como esse produto poderia impactar os negócios da companhia“, explica Enzo.

Com a pandemia da Covid-19, essa era uma das “tábuas de salvação”, nas palavras do analista, para os investidores. Se por um lado a empresa seria altamente prejudicada pelo fechamento/suspensão de seus parques e experiências, por outro, fãs do mundo inteiro poderiam recorrer ao novo serviço e continuar acompanhando suas histórias e personagens favoritos. 

Netflix roubou a cena

Entre 2015 e 2019, as ações da Disney ficaram estagnadas, enquanto as da Netflix engataram alta e apresentaram um crescimento exponencial. Enzo atribui isso à falta de novidades da companhia de Walt Disney.

“Tanto que, por um breve período, a nova concorrente passou a ter um valor de mercado maior do que Disney — mesmo com todos os seus ativos, como os estúdios, parques e experiências”, diz o analista.

Mas após o Disney+ ficar disponível para os consumidores, os investidores voltaram a ficar animados com a tese. No auge, a empresa chegou a valer quase US$ 370 bilhões, mais de US$ 50 bilhões maior do que o ápice de sua rival.

Valor de mercado de Disney (cinza) e Netflix (vermelho) desde 2010 | Fontes: Bloomberg e Empiricus

“Em um certo momento, essa discrepância parecia fazer sentido”, afirma o especialista. 

Ainda que o streaming da Disney estivesse no seu início, as perspectivas de crescimento do negócio — como ter mais de 240 milhões de assinantes e reportar lucro operacional até 2024 —, era como se os investidores adquirissem uma “nova Netflix” com uma coleção única de ativos.

Mas a realidade se tornou mais complexa do que os investidores imaginavam. 

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  • Política monetária do Fed foi vilã

    A essa conta, Enzo acrescenta a política monetária agressiva do Federal Reserve, banco central americano.

    Com a pandemia, as autoridades americanas correram atrás do tempo para combater os maiores níveis de inflação nos Estados Unidos desde a década de 1970, subindo a taxa de juros. Isso impactou severamente todas as teses de crescimento nas bolsas internacionais.

    Não à toa, os papéis da Netflix chegaram a desvalorizar mais de 70% de suas máximas. E isso acabou derrubando também os ativos da Disney em 60%, em comparação a seu topo histórico.

    “Sem falar nos problemas causados pela própria companhia. Trimestre após trimestre, a empresa foi apresentando prejuízos cada vez maiores nas suas operações de streaming, fazendo com que o sonho da lucratividade em pouco tempo se tornasse algo mais distante”.

    Receita líquida e total de assinantes (esquerda) e prejuízo operacional (direita) dos serviços de streaming | Fontes: Disney e Empiricus

    Segundo o analista, a aceleração no ritmo das perdas, inclusive, fez com que alguns investidores e até mesmo diretores da companhia começassem a questionar a liderança de Bob Chapek, então CEO da companhia. 

    Escolhido por Robert Iger — tido por muitos como um dos melhores executivos da história recente, o que levou a rumores de uma possível candidatura dele à presidência dos EUA — para ser o seu sucessor, Chapek acumulou decisões que não foram vistas com bons olhos por parte de outros executivos do grupo.

    E a divulgação dos resultados do 4T22 (encerrado em outubro) foi o estopim para que os stakeholders trabalhassem no retorno de Iger ao cargo de CEO. “O streaming já tinha reportado um número muito pior do que o esperado pelo mercado, e não havia mais a confiança de que Chapek seria capaz de conduzir adequadamente os negócios”, conta Enzo.

    Com o retorno de Bob Iger à presidência da Disney, as ações chegaram a disparar 6% em novembro de 2022.

    Depois de tomar medidas tanto do lado da receita (aumentando preço do serviço, oferecendo uma opção de streaming com publicidade mais barato) e nos custos e despesas (redução de pessoal, revisão no planejamento de conteúdos), essa parte do negócio reportou um prejuízo operacional quase US$ 1 bilhão menor do que ao final do ano passado.

    Receita e custos/despesas (gráfico superior) e prejuízo operacional (inferior) trimestral da parte de streaming | Fontes: Disney e Empiricus

    Por que a Empiricus Research está otimista com Disney?

    “Obviamente, as coisas estão longe de serem resolvidas. Mas a expectativa é de que, com as decisões de otimizar essa linha da companhia, a Disney seja capaz de se aproximar dos patamares de lucratividade da Netflix“, explica o analista.

    Como exemplo, ele cita os resultados do primeiro trimestre de 2023. competidora reportou receita de US$8,2 bilhões (+3,7% vs. 1T22) e um lucro operacional de US$1,7 bilhão, o equivalente a uma margem de 21%. Isso com pouco mais de 232 milhões de usuários, mesmo patamar de assinantes quando somados os três serviços oferecidos pela Disney (Disney+, ESPN+ e Hulu).

    Importante salientar, contudo, que uma grande parte dos usuários do Disney+ hoje estão na Índia — decorrente da aquisição da Hotstar, que veio junto com a 21st Century Fox. 

    “Com quase 53 milhões de assinantes no gigante asiático, fato é que o preço médio no país é muito inferior ao cobrado nas outras regiões, uma vez que a maior parte dos usuários assinam o plano mobile e com publicidade. Mas, aos poucos, a empresa vai aumentando a sua receita média por assinante”.

    Tabela 1. Número de assinantes e receita média por usuário do Disney+ | Fontes: Disney e Empiricus

    Segmento de Parques, Experiências e Produtos melhorou

    Após dois anos altamente impactados pelas restrições sanitárias impostas pela pandemia do coronavírus, a empresa vem conseguindo melhorar os seus resultados no segmento de Parques, Experiências e Produtos.

    “Basicamente, ela tem implementado novas formas de receitas e otimizado suas operações para se tornar cada vez mais lucrativa. Considerando apenas os seis primeiros meses do ano fiscal de 2023, por exemplo, a receita já se igualou às dos anos de 2020 e 2021, com um lucro operacional já mais perto do reportado no ano passado”.

    Receita líquida (esquerda) e lucro operacional (direita) do segmento de Parques, Experiências e Produtos | Fontes: Disney e Empiricus

    Além disso, Enzo destaca um detalhe relevante: “Essa linha de negócio tem tudo para melhorar seus resultados ainda este ano. Isso porque a maior parte desse resultado é proveniente dos parques domésticos (que ficam nos Estados Unidos), com os parques internacionais ainda muito atrás do que reportavam antes da crise da Covid-19″.

    Receita (gráfico superior) e lucro/prejuízo operacional (inferior) anual dos parques domésticos e internacionais | Fontes: Disney e Empiricus

    Mesmo que as operações internacionais não tenham uma grande representatividade no todo, a implementação das medidas realizadas nos parques da Terra do Tio Sam somado ao retorno de uma certa normalidade nessas operações tendem a impactar positivamente os números da companhia.

    O analista também conta que as projeções do mercado apontam para receitas da Disney de mais de US$ 95 bilhões no ano fiscal de 2024, com lucro operacional na casa dos US$ 16 bilhões. Caso estejam corretas, estamos falando de crescimentos da ordem de 36% e 7% em relação a 2019, respectivamente.

    Receita (gráfico superior) e lucro operacional (inferior) anual da Disney | Fontes: Disney e Empiricus

    E considerando o valor de mercado atual da companhia, de US$167 bilhões, e seu endividamento líquido (US$50 bilhões), a companhia estaria negociando por cerca de 13,5 vezes seu Ebitda projetado para 2024.

    Múltiplo EV/EBITDA projetado da Disney desde julho/20 | Fontes: Bloomberg e Empiricus

    Como dito anteriormente, alguns problemas ainda precisam ser resolvidos para que a empresa do Mickey e sua turma atraiam de vez a atenção dos investidores novamente. 

    “Mas no patamar de preço atual, entendemos que a aposta nas ações da Disney (NYSE: DIS | B3: DISB34) vale o risco dada a qualidade dos ativos, além da volta de Bob Iger ao posto de CEO — um dos mais bem capacitados para (re)colocar a companhia no rumo certo”, afirma Enzo.

    Sobre o autor

    Nicole Vasselai

    Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.