Investimentos

Disney (DISB34): lucro do segmento de streaming desaba 91% no 4T22 e ações despencam no after-market

Setor de Mídia e Distribuição (M&D), responsável pelos serviços de streaming, reporta lucro 91% menor que o obtido no 4T21; segmento de Parques, Experiências e Produtos (PEP) cresce

Por Enzo Pacheco, CFA

09 nov 2022, 10:06 - atualizado em 09 nov 2022, 12:32

Disney DISB34
Imagem: Roberto Machado Noa/Getty Images

A gigante do entretenimento Disney (B3: DISB34 | NYSE: DIS) reportou ontem (8), após o fechamento do pregão regular, os balanços do quarto trimestre (4T22) e do ano fiscal de 2022 (encerrado no dia 1 de outubro).

Os resultados do trimestre vieram abaixo das projeções dos analistas, principalmente aqueles relacionados aos serviços de streaming.

Nos últimos três meses do ano fiscal a empresa apresentou receita de US$ 20,1 bilhões, valor 9% maior na comparação com o mesmo período de 2021. O aumento nas vendas foi obtido graças a performance no segmento de Parques, Experiências e Produtos (PEP), que reportou receita de US$ 7,4 bilhões (+36% vs. 4T21); já a parte de Mídia e Distribuição (M&D) teve vendas de US$ 12,7 bilhões (-3%).

O lucro operacional no trimestre ficou praticamente estável em relação a um ano atrás, totalizando quase US$ 1,6 bilhão (+1% vs. 4T21), sendo todo ele praticamente proveniente da parte de PEP (US$ 1,5 bilhão, +136%). A linha de negócio de M&D reportou um lucro de US$ 83 milhões, 91% menor do que o obtido no quarto trimestre de 2021.

Na linha final de resultado, o lucro líquido ajustado da empresa no trimestre foi de US$ 649 milhões, o equivalente a US$ 0,30 por ação, queda de 19% em relação ao 4T21.

Os resultados para o ano fiscal de 2022 apresentaram uma dinâmica mais positiva do que o trimestral, por conta da base de comparação mais favorável devidos aos números ruins do ano anterior mais impactados pela pandemia do Covid.

A receita da companhia foi de US$ 82,7 bilhões, crescimento de 23% em relação a 2021. Mais uma vez, a performance do segmento PEP foi responsável pela maior parte desse aumento, com vendas de US$ 28,7 bilhões (+73% vs. 2021); a de M&D, ao menos, não foi um detrator, totalizando US$ 55,0 bilhões (+8%).

Contudo, a operação do streaming ainda continua pesando no resultado geral da empresa. O lucro operacional no ano foi de US$ 12,1 bilhões, valor 56% maior do que o período anterior.

Linha de Mídia e Distribuição (M&D) recua 42% em comparação com o último ano fiscal

Só que se por um lado a parte de PEP teve um lucro operacional de US$ 7,9 bilhões, ante US$ 471 milhões um ano antes, o segmento de M&D reportou lucro de US$ 4,2 bilhões, recuo de 42% comparado com o ano fiscal de 2021.

O lucro líquido ajustado de 2022 totalizou US$ 6,8 bilhões, ou US$ 3,53 por ação, aumento de 54% na comparação anual.

Visto como a principal avenida de crescimento da companhia para os próximos anos, os serviços de streaming até reportaram número de assinantes acima das estimativas de mercado. O Disney+, por exemplo, encerrou o trimestre com 164,2 milhões de assinantes, ante projeção de pouco mais de 162 milhões, e o que representa um aumento de 39% em relação ao 4T21.

Quando somado os números do ESPN+ (esportes, 24,3 milhões) e Hulu (conteúdo mais voltado ao público adulto, 47,2 milhões), o número de usuários totaliza 235,7 milhões (+32% vs. 4T21). Como forma de comparação, o Netflix encerrou o terceiro trimestre com pouco mais de 223 milhões de usuários e espera encerrar 2022 com algo perto dos 228 milhões de assinantes.

Mas os pontos positivos acabam aí. 

Receita por usuário dos serviços de streaming da Disney é menor que a de rivais como a Netflix

Isso porque a receita média mensal por usuário ainda se encontra em patamares muito inferiores do seu principal concorrente. O Disney+, por exemplo, encerrou o 4T21 aos US$ 3,91, queda de 5% na comparação anual; o ESPN+ até apresentou um leve crescimento de 2%, mas o valor é, quando muito, pouco mais da metade do valor médio obtido pela Netflix na América Latina e na Ásia. 

Um fator importante é que uma parcela significativa dos usuários do Disney+ é decorrente da incorporação das operações da Hotstar, grupo de mídia indiano que fazia parte da 21st Century Fox, adquirida em 2019. Dos 164,2 milhões de assinantes do streaming, 61,3 milhões são da Disney+ Hotstar, com um tíquete médio mensal de US$ 0,58 (-9% vs. 4T21). 

No trimestre, a parte Direct-to-Consumer (que engloba os streamings) obteve receita de US$ 4,9 bilhões (+8% vs. 4T21), mas reportou prejuízos de quase US$ 1,5 bilhão, ante estimativa de US$ 1 bilhão dos analistas. No ano fiscal de 2022, as vendas totalizaram US$ 19,6 bilhões (+20% vs. 2021) e um prejuízo operacional de pouco mais de US$ 4 bilhões (+139%).

Ações da Disney despencam depois da divulgação dos resultados

Assim como a rival Netflix, a Disney pretende lançar uma versão do Disney+ com publicidade em dezembro, assim como realizar aumentos de preços dos pacotes atuais. Segundo o CEO Bob Chapek, isso permitirá essa linha de negócio reduzir seus prejuízos e atingir a lucratividade no ano fiscal de 2024. 

Mas esse prazo tem deixado os investidores ansiosos: as ações da empresa chegaram a cair mais de 10% no after-market.

Com um mercado ainda instável, preferindo pagar por lucros hoje do que expectativas de ganhos futuros, a tese de investimento na Disney (B3: DISB34 | NYSE: DIS) permanece nebulosa. Apesar de considerar ser uma das melhores empresas do mundo, parece que os investidores ainda terão uma oportunidade de melhor entrada na ação.

Sobre o autor

Enzo Pacheco, CFA

Administrador pela Universidade Federal do Espírito Santo com pós-graduação em Operador de Mercado Financeiro pela FIA, Enzo Pacheco atua desde 2017 com análise de investimentos nos mercados internacionais. Hoje, é responsável pela série MoneyBets, voltada para os investidores brasileiros que querem expandir as fronteiras dos seus portfólios. Possui certificações CFA e CNPI.

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