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Eleições americanas: big techs devem ser vencedoras, independente de Trump ou Kamala, acredita João Piccioni, da Empiricus Gestão

Em live do Market Makers, o CIO da Empiricus Gestão explica por que o setor de tecnologia deve continuar crescendo de forma pujante independente do resultado das eleições americanas.

Por Nicole Vasselai

18 out 2024, 11:21 - atualizado em 18 out 2024, 11:39

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Imagem: iStock.com/Douglas Rissing

Em meio à especulação sobre os possíveis resultados das eleições americanas para presidente, na noite de ontem (17), João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão, participou de uma live do Market Makers, do Grupo Empiricus, junto de Andrew Reider, CIO da WHG e especialista em ações globais.

Durante o programa, Piccioni e Reider compartilharam os possíveis impactos de Kamala Harris ou Donald Trump sobre os setores da economia dos Estados Unidos e sobre os países emergentes.

Setores de bancos e de infraestrutura são ‘Trump trades

Na visão do analista-chefe da WHG, o horizonte ainda é nebuloso em relação aos desdobramentos do resultado eleitoral. “A eleição está muito apertada e, mesmo que você soubesse quem vai ganhar, os impactos não são tão claros assim. E um eventual Trump II pode ser diferente do Trump I. Então, para posicionar o portfólio está um pouco mais difícil do que em ciclos normais”.

Ainda assim, Reider acredita que os bancos, principalmente, são um “trade claro” para o caso de o candidato republicano vencer. Na última eleição americana, ele conta, as expectativas de que Trump fosse eleito beneficiaram o setor.

“Apesar de desta vez as preocupações terem se voltado para os resultados do 3T24 dos bancos, no fim o Morgan Stanley, JP Morgan e outros entregaram balanços fortes. Então, sabendo que os bancos são ‘trump trades’, dá para acelerar e aumentar a posição. Diria que, para esse setor, é uma combinação de fundamento com [efeito das] eleições”.

Piccioni também cita os bancos, especialmente os regionais, como os principais favorecidos no caso de uma vitória trumpista, assim como o setor de infraestrutura, que já vem recebendo subsídios do governo e ganhando fôlego da iniciativa privada também. Como exemplo de empresas do segmento que estão caminhando bem, ele cita a United Rentals (U1RI34).

Trump pode trazer alívio para a inflação

Piccioni também observa que a política fiscal do republicano, que costuma ser mais conservadora, pode aliviar a inflação. “Tendo a acreditar que, como o Trump prefere liberar recursos para a economia pela linha dos impostos em vez de gastar diretamente, ele tende a criar modelos de negócios que têm mais espaço para movimentos desinflacionários”, explica.

Para o analista, ao incentivar a competitividade entre as empresas, os preços tendem a cair, o que poderia resultar em uma redução inclusive no preço do petróleo e aliviar a inflação global — incluindo a brasileira.

Ele também acredita que a vitória de Trump pode resultar em um enfraquecimento do dólar, o que, em sua visão, pode ajudar as economias emergentes.

Energia renovável e varejo podem se dar melhor com Kamala no poder

Por outro lado, dentre os setores menos beneficiados por uma eventual gestão de Trump, porém mais favorecidos por Kamala, Reider menciona energia renovável e o varejo.

“Energia renovável é um setor mais do lado democrata e, se o Trump ganhar, deveria ir pior, embora o setor esteja indo mal por fundamento também. Além disso, as varejistas americanas importam muito da China e sofreriam com as tarifas de importação, das quais o Trump fala muito”.

Caso Kamala seja eleita, Piccioni vê uma abordagem mais voltada para estímulos econômicos. “Os democratas dão mais dinheiro para a população, o que gera um efeito-riqueza, mas também pode aumentar a pressão sobre os preços”.

‘Big techs são um play-safe, não importa o cenário’

Para Piccioni, uma das principais probabilidades para 2025 é de que as empresas de tecnologia continuem crescendo, independentemente do resultado eleitoral. Segundo ele, esse caminho parece estar bem estabelecido.

“Continuamos bastante entusiasmados com ações de tecnologia”, afirma Piccioni. “Vemos que a infraestrutura do setor deve continuar avançando. As empresas estão anunciando novos investimentos em energia, data centers e GPUs, o que deve continuar impulsionando as big techs“.

O analista ressalta o quanto a inteligência artificial, especialmente, já faz parte do dia a dia das pessoas e está permeando cada vez mais a economia.

Contudo, ele também aponta que as grandes corporações do setor podem enfrentar desafios se Kamala for eleita. “Algumas big techs podem ter problemas, claro. Os democratas vão para cima da Alphabet”, destaca.

Por outro lado, ele vê uma abordagem mais permissiva de Trump em relação ao setor de tecnologia, o que poderia favorecê-lo. “Podemos ver uma ascensão das emerging techs, digamos assim. Inclusive, o pipeline de IPOs está começando a crescer para o ano que vem, com nomes muito interessantes”, salienta.

Para o próximo ano, Piccioni confirma que os portfólios internacionais da Empiricus Gestão continuarão com uma parcela relevante de techs e que inclusive Meta (M1TA24) é a maior posição de um dos fundos.

“Vou entrar ano que vem bem carregado em [ações de] tecnologia ainda e gosto muito do setor nuclear também. Estamos também com uma posição pesada em ouro, apesar da boa valorização do ativo neste ano, que acredito até que se deu mais pela força do dólar”, conclui o especialista.

Os gringos desistiram de investir no Brasil?

Piccioni acredita que o investidor internacional não “abandonou” o Brasil totalmente. Apesar de investir menos em ações mais tradicionais, como Vale (VALE3), papéis ligados à tecnologia parecem gerar maior interesse.

“Na verdade o gringo selecionou muito bem os casos vencedores. Tem teses de investimento que convenceram. A gente vê que eles compraram as ações de Embraer, Inter e Mercado Livre em peso. Casos locais, ligados a consumo, que se deram bem foram os que desenvolveram plataformas que diminuem a fricção com seus clientes – um exemplo é Nubank”, menciona o gestor.

Na visão de Reider, há espaço para o investidor internacional se interessar por Brasil ano que vem, mesmo com a tendência de alta da Selic na contramão dos cortes de juros dos países desenvolvidos.

Acho que o Brasil é um monte de trade de curto prazo, é difícil enxergar o longo prazo, mas de vez em quando tem umas janelas em que as coisas se encaixam e aí em uma delas pode ser que o gringo venha, principalmente considerando que a bolsa local está performando abaixo do potencial”.

O analista ainda destaca que, no portfólio do fundo global da WHG, a fatia composta por ativos brasileiros é pequena atualmente. Dentre os setores, a gestora dá preferência para investir no próprio Ibovespa, principal índice da bolsa, ou em large caps, como ações de bancos. “Avaliamos Brasil sob a lente de um gringo na hora de montar a carteira”, resume.

Para assistir ao painel completo sobre como lucrar com as eleições americanas, basta “dar play” aqui:

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.