A Eletrobras (ELET3, ELET6) divulgou resultados do 3T22 em queda na comparação com o mesmo trimestre do ano passado.
Os números foram afetados principalmente por reajustes negativos na receita do segmento de transmissão, aumento nas despesas acima da inflação e algumas provisões. Ainda assim, o mercado já esperava boa parte desses efeitos negativos, e os resultados vieram praticamente em linha com as expectativas.
As receitas com geração de energia cresceram +18% no período, especialmente pela consolidação da geradora Santo Antônio Energia e reajustes de contratos que ocorrem anualmente.
Na transmissão, a receita recuou -40%, impactada pela deflação observada no 3T22 e por uma forte base de comparação, já que no 3T21 o segmento tinha sido muito ajudado pela alta do IPCA. A combinação desses dois efeitos provocou uma queda de -13% na receita consolidada, para R$ 8 bilhões.
Aumento de gastos pressiona margens da Eletrobras
Além de uma queda na receita, também tivemos aumento de gastos, o que acabou pressionando bastante as margens operacionais. Mesmo excluindo o efeito positivo de R$ 4,3 bilhões no 3T21, por conta da repactuação do risco hidrológico, os gastos aumentaram +28% no 3T22, por conta de reajustes salariais, impactos inflacionários e consolidação das despesas da Santo Antônio Energia.
Assim como tem acontecido nos últimos trimestres, a Eletrobras mais uma vez apresentou despesas com provisões relevantes. No 3T22 houve uma despesa de R$ 1,5 bi, afetada por indenizações por atraso na entrega de linhas e expectativa de inadimplência da distribuidora Amazonas Energia.
Com isso, o Ebitda atingiu R$ 3,2 bilhões, um recuo de -36% na comparação anual. Apesar de assustar à primeira vista, os números ficaram apenas um pouco abaixo das expectativas do mercado, já que boa parte desses efeitos negativos já eram esperados.
O resultado financeiro também piorou, impactado principalmente pela consolidação da Santo Antônio Energia, que trouxe consigo uma dívida líquida de R$ 18 bilhões. Importante lembrar que mesmo com esse incremento, a alavancagem medida pelo indicador Dívida líquida/Ebitda permaneceu abaixo de 2 vezes.
Impactado por todos esses efeitos negativos, o lucro líquido ajustado caiu de R$ 3,3 bilhões para R$ 1,1 bilhão, mas veio praticamente em linha com o que o mercado estava esperando.
Impactos da privatização ainda não começaram a ser notados
Além disso, no 3T22 vimos um sinal muito positivo em termos de gestão de contratos de energia, com volumes de venda relevantes para os próximos anos com a manutenção dos preços médios acima de R$ 200/MWh.
Com reservatórios em níveis recordes, o preço da energia tem se situado em patamares pouco atrativos, o que é um problema para a companhia, que agora conta com elevados volumes de energia não vendida por causa da descotização de suas usinas que ocorrerá nos próximos anos.
Apesar de números fracos, boa parte dos efeitos negativos já eram esperados pelo mercado.
Além disso, os impactos positivos da privatização praticamente nem começaram a ser notados, e devem passar a contribuir mais positivamente nos próximos trimestres. Com um dividend yield de 4% e grandes melhorias esperadas após a privatização, a Eletrobras (ELET6) faz parte da série Vacas Leiteiras.
Confira a análise completa de Ruy Hungria: