A Eletrobras (ELET6) divulgou resultados muito afetados por efeitos não recorrentes, por conta do início da “faxina” que começou a ser feita na companhia após a privatização, com efeitos negativos no 4T22. Mas sem eles, os resultados teriam vindo acima das expectativas.
A Receita Líquida recuou -10%, para R$ 9 bilhões, especialmente por conta do efeito negativo da deflação sobre as receitas no segmento de transmissão, parcialmente compensadas pelo crescimento da receita no segmento de geração, ajudada pela consolidação da Santo Antônio Energia (Saesa).
Como dissemos, o trimestre trouxe uma série de efeitos não recorrentes. Apesar de um payback esperado de apenas 13 meses, o Plano de Demissão Voluntária (PDV) teve um impacto negativo de R$ 1,2 bilhão no 4T22, que ainda viu mais R$ 2,8 bilhões de provisões para a Amazonas Energia, que segue com dificuldades financeiras depois da privatização.
No lado positivo, tivemos uma melhora relevante na linha de provisão para litígios na comparação com o 4T21, o que já mostra avanços no problema dos Empréstimos Compulsórios – o estoque de contingências caiu de R$ 25,8 bilhões para R$ 24,3 bilhões em apenas um trimestre.
Além disso, houve uma reversão positiva de quase R$ 1 bilhão no valor de alguns ativos como Jirau e Saesa.
Excluindo todos esses efeitos não recorrentes, os custos teriam caído -5% na comparação com o 4T21, e o Ebitda ajustado teria atingido R$ 4,4 bilhões, recuo de -10%.
A consolidação da Saesa trouxe um maior endividamento para a companhia, o que combinado com os juros mais elevados explica o aumento da piora do resultado financeiro.
Excluindo efeitos não recorrentes, lucro líquido seria de R$ 1,3 bi
Mesmo assim, excluindo todos os efeitos já mencionados, a Eletrobras teria apresentado um lucro líquido de cerca de R$ 1,3 bilhão, acima das expectativas do mercado, o que explica a reação positiva após a divulgação do balanço.
Sobre o portfólio de vendas de energia, não tivemos grande evolução na comparação com o 3T22, o que ainda mostra o cenário desafiador de sobre oferta de energia combinado com reservatórios cheios.
Aliás, essa tem sido a grande preocupação do mercado, mas, pegando carona no que foi mostrado no Eneva Day, nos parece demasiadamente pessimista perpetuar a condição atual por muitos anos, dado que a hidrologia pode variar muito de um ano para o outro.
Aliás, o gráfico abaixo mostrado no evento da Eneva ilustra bem como as projeções de longo prazo costumam ser um péssimo mapa, porque dão um peso muito grande para a conjuntura de curto prazo.
Repare que projeções de preços baixos (provocadas entre outras coisas por sobreoferta e reservatórios cheios) não impediram saltos nos preços da energia por causa de alterações de clima que não foram previstas pelos modelos.
ELET6 segue como recomendação da Empiricus
Neste momento, ELET6 negocia por 7 vezes lucros e 7% de dividend yield esperado para 2024, o que em nossa visão já embute perspectivas bastante pessimistas para os preços de energia.
Além disso, sempre lembramos que o grande propulsor da melhoria de resultados virá da melhoria da eficiência operacional após a privatização, o que independe do clima.
A Eletrobras (ELET6) segue com recomendação de compra na série focada em dividendos.