A Eletrobras (ELET6) divulgou ao mercado que, ontem (5), se reuniu com representantes da Advocacia Geral da União e da Casa Civil para tratar das diversas negociações que vêm tendo com o governo depois da privatização.
Para Ruy Hungria, analista de ações da Empiricus Research, esse acerto entre a elétrica e a União é fundamental “não só para eliminar alguns riscos envolvendo o processo de privatização, mas principalmente porque aumenta as chances de dividendos“.
Na sessão de ontem, o mercado reagiu muito positivamente após as notícias. As ações ELET6 encerraram o pregão com uma forte valorização de 5,08%, com o preço a R$ 36,82.
O que está em discussão entre a Eletrobras e o governo?
A negociação mais importante, na visão do analista, e que deu início a todo o ruído, é aquela que limita os votos do governo em 10%, mesmo tendo uma participação bem maior do que essa na companhia. “Lembrando que essa regra foi amplamente debatida antes da privatização – e, sem ela, o governo também não teria conseguido arrecadar os R$ 30 bilhões que levantou com o processo”, comenta.
Segundo o que foi noticiado, a limitação de votos continuaria. A União até ganharia mais um assento no conselho, mas seguiria sendo minoria.
A outra negociação diz respeito à participação da Eletrobras na Eletronuclear, e possíveis obrigações de investimentos futuros em Angra 3.
Ao que tudo indica, a Eletrobras seguirá como acionista e como garantidora da dívida (R$ 6 bilhões), mas com a ótima notícia que não terá mais obrigação de acompanhar futuros aportes em Angra 3, caso sejam necessários.
“Isso elimina um risco de cauda importante, dado que ninguém sabe ao certo o capex necessário para terminar a usina. E há, ainda, a possibilidade de a Eletrobras vender a sua parte para outro interessado, o que também seria bem-vindo”, avalia Hungria.
“Como resultado desses acordos, o governo retiraria a ação de inconstitucionalidade referente à privatização, o que eliminaria um grande risco envolvendo a tese”.
Vem mais dividendos da Eletrobras em 2025?
Por fim, Hungria menciona um item que não está mais em discussão pela Eletrobras, e que por isso mesmo representa outra boa notícia para os acionistas: a antecipação da contribuição para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE).
Basicamente, como parte do processo de privatização, a Eletrobras se comprometeu a fazer pagamentos bilionários para a CDE ao longo de vários anos, com o objetivo de reduzir as contas de energia. E recentemente, o governo sugeriu que a companhia antecipasse pagamentos da ordem de R$ 20 bilhões.
Em termos de valuation, Hungria não vê essa antecipação como necessariamente prejudicial, dado que a Eletrobras poderia receber um belo desconto por adiantar esses valores. “O lado ruim é que haveria um grande desembolso de caixa, justamente em um momento de grande turbulência macroeconômica”, explica.
“Agora, sem esse desembolso pela frente e com R$ 30 bilhões em caixa, a Eletrobras poderá realizar um extenso trabalho de liability management, pagando dívidas mais caras. E pode até pensar em aumentar o pagamento de dividendos em 2025, dado que o endividamento segue controlado (abaixo de 2x dívida líquida/Ebitda), e deve cair ainda mais nos próximos anos”.
Dividend yield de Eletrobras pode chegar a 8%
Apenas como curiosidade, Hungria conta que hoje o mercado projeta um dividend yield de cerca de 4% para ELET6 em 2025, algo em torno de R$ 3,5 bilhões em dividendos. “Com mais R$ 3,5 bilhões, as ações alcançariam um yield de 8%, bem mais em linha com pares do setor. E isso sem aumentar muito sua alavancagem (apenas 0,3x)”, estima Hungria.
Por menos de 6x Valor da Firma/Ebitda e com bom espaço para melhorias operacionais e crescimento de dividendos, Eletrobras (ELET6) segue entre as recomendações da Empiricus Research.