A Eneva (ENEV3) anunciou dois movimentos estratégicos importantes. Primeiramente, um follow-on de R$ 3,2 bilhões como oferta-base, com a possibilidade de ser acrescido em mais R$ 1 bilhão (hot issue), dependendo da demanda.
O segundo movimento, utilizando os recursos levantados na primeira ação, será a aquisição total de três termelétricas no Espírito Santo (Tevisa, Povoação e Linhares), além da compra de 50% da Gera Maranhão, localizada no estado do Maranhão.
Essas usinas serão adquiridas do BTG, que também é acionista da Eneva, com uma participação de 38%. Essa participação deverá aumentar para quase metade do capital, pois o banco se comprometeu a comprar toda a oferta-base por R$ 14 por ação da ENEV3, acrescido de 5%.
Com essa movimentação, o BTG também se comprometeu a tornar a Eneva seu único veículo de investimento no setor elétrico, o que é positivo ao evitar potenciais conflitos de interesse.
Operação deve reduzir a alavancagem de Eneva e aumentar a lucratividade
Em linhas gerais, o principal mérito dessa operação é a redução da alavancagem da Eneva no curto prazo. Os ativos adquiridos, além de gerarem significativo fluxo de caixa e lucro, possuem uma alavancagem muito baixa (0,1x dívida líquida/Ebitda, comparado aos 4,1x da Eneva).
Isso significa que a combinação resultará imediatamente em uma companhia mais lucrativa (de R$ 0,2 bilhões para R$ 1,6 bilhões, com base nos resultados dos últimos 12 meses) e com menor alavancagem, que cairá para menos de 3x dívida líquida/Ebitda.
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Existe alguma pegadinha?
Além da desalavancagem, os múltiplos envolvidos na operação também são bastante atrativos, com um preço/lucro de apenas 2,1x. No entanto, isso levanta a questão: há alguma armadilha nessa transação?
Parte da resposta está no horizonte temporal dos resultados esperados. As usinas possuem contratos de fornecimento que expiram até o final de 2025, e a renovação desses contratos é incerta, especialmente no atual contexto de sobreoferta e preços baixos de energia.
A boa notícia é que o cálculo do valor pago pelas usinas (R$ 2,9 bilhões) levou em conta apenas os fluxos de caixa desses contratos vigentes. Novos contratos ou mesmo sinergias operacionais e fiscais capturadas representam potenciais de valorização adicionais que não foram incluídos no valuation.
E há um significativo potencial de sinergias.
As três usinas adquiridas no Espírito Santo estão estrategicamente localizadas próximas ao gasoduto de transporte da TAG, assim como o Hub de Sergipe, operado pela própria Eneva. Isso permite que a companhia forneça gás para suas próprias usinas, garantindo custos mais competitivos e maior confiabilidade no fornecimento.
No Maranhão, a usina Gera Maranhão, que atualmente opera 100% a óleo, poderá ser convertida para gás no futuro. Essa usina tem a vantagem estratégica de estar próxima da Bacia do Parnaíba, onde está localizada a maior reserva de gás da Eneva.
De acordo com a Eneva, o follow-on está previsto para ocorrer apenas no terceiro trimestre de 2024, com a conclusão das aquisições estimada para o final do ano.
O que achamos da transação para a Eneva?
Resumidamente, consideramos a operação positiva para a companhia, mesmo com a curta duração dos contratos atuais. A transação ajudará a reduzir a alavancagem em um momento em que a Eneva possui muitos ativos em construção. Além disso, abre oportunidades para a captura de sinergias e vantagens futuras. Portanto, a Eneva continua a ser uma parte integrante das recomendações da Empiricus Research.
Inclusive, ficaremos de olho na divulgação dos resultados do 2T24 de Eneva, que deve acontecer no dia 13 de agosto. Se quiser receber direto no seu e-mail gratuitamente a análise do balanço, é só se inscrever aqui.