Na última segunda-feira (5), a Eneva (ENEV3) divulgou que a agência de classificação de risco de crédito Fitch Ratings publicou um relatório revisando o seu rating de AAA para AA+ com perspectiva estável.
De acordo com o relatório, tal rebaixamento de rating reflete os movimentos recentes de combinação de significativos investimentos, associados a maiores desembolsos com pagamento de juros e uma expectativa de menor nível de despacho das usinas geradoras de energia, o que deverá dificultar a Eneva a trazer sua alavancagem financeira para níveis mais baixos. Por conta disso, o papel teve um mal desempenho no pregão, caindo mais de -4%.
De fato, quando olhamos os indicadores de alavancagem da companhia, eles se encontram em um patamar historicamente alto. Enquanto ela terminou o 1T23 com 4,6 vezes de dívida líquida sobre o Ebitda, esse indicador estava em 2,8 vezes no final de 2021.
Contudo, além do prazo médio do endividamento ser superior a 5 anos e do custo ser baixo (IPCA+ 4,8% e CDI+ 1,4%), a companhia possui uma série de projetos que entrarão em operação nos próximos trimestres/anos que farão com que o processo de desalavancagem (que já está em curso) se acelere.
Abaixo comentamos sobre outras iniciativas da companhia que nos deixam confortáveis com o seu nível de alavancagem atual, embora ele esteja historicamente alto:
Complexo Solar Futura 1: crescimento com baixo risco e retornos atrativos
No final de maio, a Eneva recebeu autorização pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) para iniciar a operação comercial de 100% do Complexo Solar Futura 1, localizado no Município de Juazeiro, no estado da Bahia.
De acordo com a companhia, o Complexo Solar Futura 1, composto pelas UFVs Futura 1 a 22, conta com 692,4 MW de capacidade instalada e é considerado um dos maiores parques solares do Brasil – para se ter uma ideia da dimensão, a sua área equivale a 1.550 campos de futebol. A entrada em operação comercial do Complexo eleva em 8% a capacidade total de geração solar centralizada na matriz elétrica brasileira.
Além de reduzir a dependência do cenário hidrológico, o início de operação desse projeto traz uma possibilidade de crescimento com baixo risco e possibilidade de retornos atrativos. Atualmente, 98% do capex estimado (R$ 3 bilhões) já foi contabilizado e o parque possui 79% da energia já contratada para o período entre 2023 e 2042, de modo a trazer uma maior resiliência em termos de resultado.
Embora as perspectivas e o retorno potencial do projeto sejam bastante atrativos, a companhia não descarta vender uma fatia do complexo para acelerar no seu processo de desalavancagem.
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Acordo com a White Martins: suprimento a longo prazo
A primeira parceria que a Eneva fechou no Complexo Solar Futura 1 foi com a White Martins, por 12 anos e que terá capacidade para fornecer 25% do consumo total de energia da multinacional no país.
Para a Eneva, o contrato significa a garantia de suprimento a longo prazo com um grande cliente e se consolida entre os principais contratos de autoprodução do mercado livre brasileiro.
Acordo com a Suzano e com a Vale: receita adicional e diversificação de faturamento
Em maio do ano passado, a companhia fechou um contrato de fornecimento de gás natural liquefeito (GNL) para as instalações industriais da Suzano no Maranhão, que está previsto para iniciar em 2024 com prazo de 10 anos.
Para viabilizar a operação, será instalada uma unidade de liquefação de gás natural com capacidade instalada de 300 mil metros cúbicos por dia. Caso a Suzano compre metade dessa capacidade, estimamos uma receita adicional de R$ 80 milhões para a Eneva anualmente, o que também ajuda na diversificação de seu faturamento.
Dois meses depois, a companhia fechou o seu segundo acordo para fornecimento de GNL, dessa vez para a mineradora Vale, que também deverá começar a valer a partir de 2024. O acordo com a Vale terá duração de cinco anos, embora seja esperado que o faturamento anual seja maior do que com a Suzano dado o volume contratado.
Exportação para Argentina: Ebtida adicional e redução da alavancagem
Essa avenida de crescimento já vem sendo explorada pela companhia e tem trazido bons frutos. Em 2022, a Eneva foi um dos principais players de exportação de energia, adicionando R$ 320 milhões ao seu Ebitda. Caso o cenário hidrológico se mantenha favorável e, portanto, o despacho siga bastante baixo, seria bastante plausível que houvesse um ganho de ebitda adicional de mais de R$ 320 milhões para esse ano, o que ajuda na redução da sua alavancagem.
Outras iniciativas
Além disso, existem outras oportunidades que podem ser exploradas pela companhia. Além da venda parcial do Complexo Solar Futura 1 ou de outro projeto, a companhia poderia vender uma parcela de seu inventário de carvão, otimizar sua estrutura de custos e despesas e explorar novos players em exportação.
Por fim, embora a gente concorde que o nível de alavancagem da companhia não esteja no patamar ideal, acreditamos que: (i) além de já ter iniciado o seu processo de desalavancagem via geração de caixa das operações atuais; (ii) existem diversas oportunidades para a redução de seu endividamento, conforme comentado acima.
A Eneva (ENEV3) segue como sugestão de compra da Empiricus Research.