Investimentos

Enquanto as ações de tecnologia dos EUA voltam para o positivo, Ibovespa resiste nos 115 mil pontos; confira

Um rali nas grandes empresas de tecnologia estimulou uma recuperação nas ações dos EUA, superando as preocupações relacionadas aos rendimentos mais altos dos títulos do Tesouro.

Por Matheus Spiess

22 ago 2023, 08:46 - atualizado em 22 ago 2023, 08:46

Imagem de gráficos e números sobrepostos a bandeira dos Estados Unidos em alusão ao mercado financeiro deste país
Reprodução: Shutterstock

Bom dia, pessoal. No cenário internacional, os mercados asiáticos encerraram em alta na terça-feira, acompanhando as indicações mistas, porém predominantemente positivas, dos mercados globais durante o pregão anterior. Os investidores mantêm uma postura cautelosa, aguardando o aguardado discurso do presidente do Federal Reserve dos Estados Unidos, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole, marcado para o final desta semana, em busca de mais insights sobre a economia e as perspectivas de taxa de juros. A expectativa permanece em relação às medidas de estímulo mais substanciais na China, que podem ser necessárias para reacender um sentimento de otimismo nos mercados.

No âmbito dos Estados Unidos, um rali nas grandes empresas de tecnologia estimulou uma recuperação nas ações, superando as preocupações relacionadas aos rendimentos mais altos dos títulos do Tesouro. É importante ressaltar que o aumento dos rendimentos reais não necessariamente indica um cenário negativo para as ações. Historicamente, os retornos médios futuros das ações foram moderadamente piores do que em outros períodos quando os rendimentos reais atingiram as máximas de 52 semanas. Enquanto isso, os mercados europeus e os futuros americanos estão apresentando ganhos nesta manhã.

A ver…

· 00:45 — Sai ou não sai?

No contexto brasileiro, divergimos do otimismo observado nos ativos de tecnologia dos Estados Unidos no dia anterior e registramos uma nova queda, recuando abaixo dos 115 mil pontos. Neste dia, estamos novamente focados na agenda de Brasília, com Cláudio Cajado (PP), relator do projeto na Câmara, indicando que, se não houver votação hoje, esta ocorrerá amanhã, com a expectativa de um resultado positivo. Uma perspectiva favorável é a posição de Arthur Lira a favor de uma regra fiscal, o que aumenta as chances de aprovação do texto antes das discussões sobre o orçamento de 2024, que devem ocorrer até 31 de agosto. Nesse cenário, a representação da Fazenda estará a cargo do novo secretário-executivo, Dario Durigan, visto que Haddad acompanhou Lula na Cúpula dos BRICS, na África do Sul.

Além das questões relacionadas ao arcabouço, em que o governo enfatiza a emenda inserida pelo Senado para permitir uma margem de R$ 30 bilhões e autorizar a inclusão de despesas condicionadas no projeto orçamentário, também estamos atentos aos debates iniciais no Senado Federal sobre a reforma tributária, bem como outras iniciativas vindas do Palácio do Planalto e da Fazenda para ampliar as receitas, um desafio considerável.

É importante destacar que novas pressões sobre a curva de juros nos próximos meses continuam sendo possíveis. Na agenda do dia, há participações previstas de Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo, potencialmente trazendo novas perspectivas para a condução da política monetária ao longo de 2023.

· 01:43 — Um projeto amplo de investimentos

O recém-lançado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) está projetado para alcançar um montante superior a R$ 1 trilhão em investimentos ao longo de quatro anos. Esse volume engloba uma gama diversificada de empreendimentos, incluindo iniciativas da Petrobras, colaborações entre o setor público e privado por meio de parcerias público-privadas (PPPs) e concessões.

De fato, o montante poderá até atingir surpreendentes R$ 1,7 trilhão, ultrapassando as expectativas de alguns membros do governo. No que se refere à origem desses recursos substanciais, uma parcela considerável, na ordem de R$ 60 bilhões anuais, será alocada do orçamento federal. O foco inicial desses fundos será a conclusão de projetos previamente interrompidos. A segunda prioridade contempla projetos solicitados por governadores, enquanto, em terceiro plano, figuram as obras consideradas essenciais por cada ministério.

O remanescente dos fundos será proveniente de fontes como a Petrobras, as PPPs e as concessões. No entanto, como experiências passadas do programa demonstraram, a gestão desses recursos é uma tarefa desafiadora, suscetível a desvios de finalidade. Para mitigar essa questão, é essencial a implementação de mecanismos de controle independentes e bem delineados, garantindo a conformidade e a correta administração dos fundos. Setores como infraestrutura, transporte, siderurgia e mineração serão os principais beneficiários desse impulso econômico. A expectativa do governo é que essas iniciativas desempenhem um papel amortecedor em possíveis desacelerações econômicas nos próximos anos.

· 02:36 — O dia das empresas de tecnologia

Nos Estados Unidos, estamos testemunhando um período desafiador para as ações, amplamente devido ao aumento dos rendimentos dos títulos, que oferece uma alternativa concorrente ao mercado de ações.

Apesar disso, o S&P 500 quebrou uma sequência de quatro dias de quedas, enquanto o Nasdaq 100 registrou um aumento de cerca de 1,5%, impulsionado por empresas como Tesla e Nvidia. Em relação à última, o entusiasmo em torno da inteligência artificial que sustentou o aumento das ações ao longo do ano foi renovado — os resultados da fabricante de chips estão programados para serem divulgados na quarta-feira, e espera-se um crescimento de 65% na receita em comparação ao ano anterior.

A tendência de aumento nos rendimentos dos títulos continuou na segunda-feira, com os rendimentos mais uma vez em ascensão. O rendimento dos títulos do Tesouro a 10 anos aproximou-se de 4,34%, atingindo seu patamar mais alto desde 6 de novembro de 2007. No entanto, a correlação usual com o desempenho das ações foi rompida, com dois dos três principais índices registrando seu melhor desempenho em semanas. Na noite anterior, a Arm Holdings, que é responsável pelo design de semicondutores para alguns dos principais atores da indústria de tecnologia global, submeteu documentos para uma oferta pública inicial de ações (IPO). Se a oferta tiver sucesso, poderá reavivar o mercado de IPOs nos Estados Unidos.

· 03:29 — Um horizonte promissor?

Apesar do ganho observado ontem, é provável que as ações do setor de tecnologia do S&P 500 continuem a se corrigir durante o segundo semestre de 2023 e terminem o ano com uma cotação inferior à atual. Essa tendência de queda no setor será influenciada à medida que os indicadores econômicos nos Estados Unidos apresentarem leituras menos favoráveis, refletindo o amadurecimento do processo de aperto monetário implementado nos últimos 18 meses.

Embora a performance positiva da atividade econômica nos EUA até o momento, as recentes quedas nas ações de tecnologia podem ser explicadas por dois fatores principais: i) a significativa elevação dos rendimentos dos títulos do Tesouro; e ii) um entusiasmo menor por parte dos investidores em relação às iniciativas de inteligência artificial.

No entanto, em termos relativos, a perspectiva para o setor de tecnologia deverá ser mais positiva em um horizonte de longo prazo, uma vez que este provavelmente estará entre os mais beneficiados em caso de eventual redução das taxas de juros de mercado (em um segundo momento, elas devem cair).

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· 04:11 — Perspectivas para a reunião dos BRICS

O grupo BRICS está realizando sua cúpula anual de 22 a 24 de agosto em Joanesburgo, na África do Sul, em um momento de crescente importância. Composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o grupo representa mais de 25% da produção econômica global e mais de 40% da população mundial. Contudo, divergências de interesses nacionais e influências geopolíticas mais amplas dificultam a ação conjunta do bloco.

A expansão potencial do BRICS emerge como uma questão crucial. Embora cerca de 40 países tenham formalmente manifestado interesse em aderir ou solicitado ingresso, os membros atuais do BRICS discordam quanto ao caminho a seguir. A China é a voz mais proeminente a favor da expansão, visualizando os BRICS como uma plataforma adicional para ampliar sua influência e fortalecer instituições internacionais paralelas.

Por outro lado, Brasil e África do Sul expressam preocupações em relação à possível diluição de sua influência dentro da organização. Enquanto isso, a Índia mantém como principal preocupação o aumento da influência chinesa. As discussões durante a cúpula tendem a se concentrar na definição de critérios para a adesão de novos membros. Outros tópicos da agenda incluem o desenvolvimento de infraestrutura em mercados emergentes e os esforços para aprimorar o funcionamento do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.