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Entenda por que o mercado não recebeu bem a indicação de Gabriel Galípolo para o Banco Central

Em meio à briga entre Lula e Banco Central, mercado esperava um nome menos associado ao governo para compor a diretoria

Por Juan Rey

09 maio 2023, 15:19 - atualizado em 09 maio 2023, 15:19

Gabriel Galípolo Banco Central
Gabriel Galípolo. Imagem: Divulgação

A indicação de Gabriel Galípolo para a diretoria de Política Monetária do Banco Central, anunciada na última segunda-feira (8) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não foi bem recebida pelo mercado e refletiu em um movimento de inclinação da curva de juros

Galípolo não era o nome preferido do mercado, que esperava alguém mais ortodoxo e menos associado ao governo. Não foi o caso, já que o indicado é o atual secretário executivo do ministério da Fazenda e braço direito de Haddad.

“Veio o número dois do ministério da fazenda, que por mais que seja uma pessoa com trânsito acadêmico e no mercado financeiro, tem um viés mais heterodoxo de visão econômica e poderia ser visto como uma proxy do governo lá dentro”, explica o analista Matheus Spiess, da Empiricus Research.

O anúncio acontece em meio a uma constante pressão do presidente Lula para que o BC baixe a taxa básica de juros brasileira, Selic, hoje em 13,75% ao ano. Portanto, a indicação de Galípolo pode ser vista por parte do mercado como uma manobra do governo para ter mais poder na decisão sobre os juros. 

Neste sentido, o analista não crê que o indicado terá poder suficiente para pressionar o Bacen. “Ele vai ser uma voz entre muitas e vai precisar respeitar toda a liturgia no interior da autarquia. Existe uma institucionalidade implícita no interior do BC que blindaria um diretor de ter mais voz, por mais que seja uma diretoria superimportante”, analisa. 

Galípolo no Banco Central: nem a melhor, nem a pior indicação 

Spiess frisa também que, embora Galípolo não tenha sido a melhor das opções, também está longe de ser a pior delas. Haddad, inclusive, confirmou ontem que o próprio presidente do BC sugeriu um nome do ministério da Fazenda, dentre eles de Galípolo, para a posição. 

“{A ideia é} fazer esse meio de campo e amenizar os ares que haviam se esquentando ao longo dos últimos meses, em especial por parte da ala política”, afirma.

Para o analista, é importante observar como o processo vai se desenvolver nos próximos meses. Com a expectativa do mercado de corte da Selic no terceiro trimestre do ano, é possível que quando Galípolo assumir a pasta a questão já esteja mais encaminhada.

“Precisamos entender como vai ser a aprovação do nome dele e quando ele vai ocupar de fato a pasta. Quando ele ocupar, eventualmente pode até ter começado uma flexibilização maior da comunicação ou até mesmo iniciado o corte de juros. Não acredito nisso, acho que eles vão acelerar esse processo, mas ainda assim vai estar num caminho mais adiantado que hoje”, afirma. 

Para acompanhar a análise completa de Matheus Spiess e os principais assuntos do dia, assista na íntegra a última edição do Giro do Mercado:

Sobre o autor

Juan Rey

Jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Contato: juan.rey@empiricus.com.br