Quem acompanha o mercado financeiro sabe que o momento macroeconômico global tem sido bastante desafiador desde o início de 2022, com taxas de juros e inflação nas alturas, além de conflitos geopolíticos. Também pode ser difícil saber em quais mercados investir nesse momento, em que países estão as oportunidades de investimento.
Para te ajudar a clarear a visão sobre os temas macroeconômicos globais mais quentes e relevantes para o seu bolso, os analistas da Empiricus Research conversaram com a Gabriela Santos, estrategista global do JP Morgan Asset Management.
A seguir, você pode conferir os principais destaques dessa entrevista e como um dos maiores bancos do mundo tem enxergado e se posicionado em relação ao cenário atual.
“A crise do setor bancário não é um problema de crédito”
Uma das notícias que mais tem mexido com o mercado nas últimas semanas é a quebra de bancos regionais dos EUA, como o Silicon Valley Bank, e do próprio Credit Suisse, na Europa.
Sobre isso, Gabriela explica que, diferente do cenário de 2008, causado pela emissão desenfreada de títulos muito sofisticados, não se trata exatamente de uma crise de crédito: “Dessa vez, o estresse nos bancos regionais americanos é relacionado à concentração de depósitos e risco de juros na sua carteira de Tesouro, ou seja, nos seus ativos. Depois de todas as respostas do Tesouro Nacional e do Federal Reserve, vemos isso como controlado. Mas o Fed vê isso como algo que deve limitar a disponibilidade e o preço do crédito daqui pra frente. Serve como uma razão para frear a economia e, consequentemente, parar de subir o juro”.
Também ressalta que os EUA têm mais de 4 mil bancos e que os casos ocorridos no começo de 2023 se tratam de exemplos específicos versus bancos grandes que estão bem capitalizados e regulados desde 2008.
“Inclusive, no geral, vemos os bancos europeus como melhores que os americanos, em termos relativos, e a razão é que não estão sob o mesmo estresse que os bancos regionais estiveram. Sua base de depósito não é tão diversificada quanto nos EUA e suas regulações foram ainda mais onerosas, então os bancos têm sido forçados a considerar os riscos de juros nos seus ativos”, defende. “Vemos como uma oportunidade dado o desconto nos seus preços causados nos últimos 15 anos. Até porque, agora a Europa tem inflação. E o fato de o juro estar em 3% se torna favorável para os bancos europeus ganharem dinheiro”.
Mas e o caso Credit Suisse?
Essa é outra dúvida que talvez persiga o investidor, dado que o banco europeu declarou falência no mês passado também. Mas Gabriela tranquiliza: “O Credit Suisse foi um caso muito específico. Ele tinha um problema de modelo de negócio e estava tentando fazer uma reestruturação, mas acabou faltando tempo hábil, dada essa crise de confiança que surgiu nos bancos regionais dos EUA”.
Renda fixa ou Bolsa americana?
Na visão da asset, ambas, com parcimônia.
Gabriela explica que, até o final do ano passado, o mercado estava vivendo uma ‘sub-ponderação’ de ações versus renda fixa, já que as expectativas ainda estavam um pouco elevadas para o crescimento de lucros nos EUA e a perspectiva para inflação e juros era um pouco mais incerta.
Agora em abril, para o JP Morgan, com o ‘começo do fim’ do ciclo de aumento de juros num futuro próximo, faz sentido estar mais neutro.
“De ambos os lados não queremos comprar tudo, porque ainda há uma probabilidade elevada de uma recessão à frente. Isso pode gerar problema de crescimento de lucro para algumas companhias e defaults para empresas mais endividadas”, alerta a estrategista.
Diante disso, sugere dois caminhos para o investidor se beneficiar das duas classes de ativos – mas o da renda fixa pede mais urgência.
“Na renda fixa americana, o investidor tem que aproveitar enquanto o corte de juros não vem e o yield ainda está bom para mercados desenvolvidos, como o americano e o europeu; quando os yields caírem, o preço dos títulos sobe. E, claro, é importante focar em títulos de qualidade, como dívida soberana americana, europeia e dívida corporativa em investment grade, que é o mais alto nível”.
Quanto às ações, Gabriela recomenda que o investidor repense a alocação e amplie os horizontes para além dos EUA: “É superimportante focar abaixo da superfície [na escolha das ações]. Qualidade e preço das companhias é muito válido, mas também não [se deve] olhar só EUA. Na verdade, tem mercados que a gente vê com melhores preços, como Europa, China e Ásia emergente”, destaca.
E como o JP Morgan vê a China?
Gabriela conta que o banco acredita em uma reaceleração mais pontual da economia chinesa esse ano, com uma estimativa de 6% de crescimento em 2023. Principalmente por conta dos constantes lockdowns até o ano passado e da consequente demanda reprimida das famílias.
“Ano passado a China cresceu pouco, teve [pandemia de] Covid-19 e uma bela desaceleração no setor imobiliário. Agora, vemos reabertura da economia por lá e demanda reprimida de três anos, além do setor privado ter o apoio das autoridades públicas e dos valuations [das ações] ainda estarem abaixo da média. A ideia é realmente focar em companhias chinesas com viés mais doméstico, transição energética e inovação tecnológica“.