Dia 23 de maio de 2024, o mercado de criptomoedas testemunhou uma das maiores viradas de jogo, com os ETFs de ETH indo contra as expectativas e sendo aprovados aos 45 minutos do segundo tempo. Saindo com o reconhecimento (consolidação) e recompensas de um vencedor, ETFs próprios sendo negociados na maior bolsa do planeta, a bolsa americana.
No entanto, este foi apenas um passo inicial e ainda falta resolver parte da ‘papelada’ para que eles, de fato, comecem a ser negociados. Enquanto isso não acontece, vamos nos aprofundar de que forma eles podem impactar o mercado.
O que é Ethereum e sua importância para o mercado cripto
Mesmo aqueles que não estão familiarizados com criptomoedas, já devem ter ouvido falar do nome Ethereum, que se destacou como o segundo maior projeto do mercado, com $417,987,115,930 de marketcap (no momento em que escrevo) mas, do que se trata e por que vale tanto?
Indo direto ao assunto, Ethereum se trata de uma rede descentralizada que utiliza tecnologia blockchain, permitindo a criação de contratos inteligentes, que são basicamente contratos programados. Estes são responsáveis por garantir que todas as partes que fazem parte do acordo (contrato) recebam suas devidas recompensas, agindo de maneira automática e excluindo a necessidade de um intermediário.
Por exemplo: imagine que você está conversando com uma pessoa pela internet que quer lhe vender BTCs, no entanto, como são desconhecidos um para o outro, vocês não tem a confiança de mandar as contrapartes do acordo, afinal, o que te garante que ele não vai apenas sumir com seu dinheiro após a transferência?
Nesse caso, seria possível utilizar um contrato inteligente que só seria ativado quando ambas as partes tivessem enviado o que foi convencionado, garantindo o envio dos ativos para as contas dos dois participantes.
Este é apenas um caso de uso simples e a partir desse mecanismo é possível gerar inúmeras aplicações. É justamente essa tecnologia somada à segurança que a infraestrutura da rede Ethereum proporciona, o que atrai outros projetos criptos para serem desenvolvidos sobre ela, como se fosse uma App Store, mas com algumas características distintas, ela utiliza ETH para funcionar, e ao invés de ser da Apple, não há um dono.
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Base comparativa com ETF de Bitcoin
Para termos um vislumbre de como o preço do próprio ETH pode se comportar nesse período inicial, iremos colocar em perspectiva o que houve com o preço do BTC, que ainda este ano, foi o primeiro criptoativo a ter ETFs do mesmo tipo, aprovados.
Preço do BTC/Dólar
A aprovação ocorreu dia 10 de janeiro de 2024 e inicialmente vimos uma queda que encontrou seu fundo em U$38,528, o que representa uma desvalorização de aproximadamente 17,8% desde a notícia da aprovação. Não há como definir de fato quais foram os verdadeiros culpados, uma vez que se tratava de algo inédito! Portanto, nem o próprio mercado sabia como ia se comportar. Dessa vez, outros players haviam entrado no jogo.
No entanto, há algumas hipóteses como o “buy the rumor, sell the news”. Investidores que anteciparam a aprovação compraram Bitcoin antes do anúncio e, após a confirmação, venderam para garantir seus lucros, pressionando o preço para baixo. Além disso, fundos e instituições financeiras que se prepararam para a aprovação ajustaram suas posições, comprando antes da aprovação e vendendo parcialmente após a confirmação para equilibrar seus portfólios. Este ajuste também contribuiu para a volatilidade do preço.
Mas essa queda não durou muito tempo e cerca de 30 dias depois da aprovação começamos a ver grandes quantidades de capital fluindo para o BTC, inclusive batendo recordes em volumes de negociação, chegando a U$7,7 bilhões de dólares no dia. Naquele momento investidores de outra categoria haviam chegado, investidores institucionais. O que resultou numa disparada até a máxima histórica (aumento de 90% desde o fundo) em U$73,678 no dia 14 de Março.
Como vimos no tópico anterior, é claro que se tratam de criptomoedas com fundamentos e “tempo de maturação” distintos. Mas fato é que o histórico de ETFs de cripto mostram grande aceitação por conta dos institucionais. Além disso, nunca houve um momento em que as criptomoedas receberam tanta atenção, chegando a ser um ponto-chave nas eleições presidenciais dos Estados Unidos.
Mediante aos dados históricos e a própria natureza intensa de cripto, esperamos que o preço de ETH, reaja de maneira similar (radical), e se tudo ocorrer como o esperado, isso deve acontecer dentro de alguns dias.
De que forma isso pode impactar o mercado?
Avaliando os impactos de longo prazo e numa perspectiva mais ampla, há o cenário em que os ETFs de ETH tem o potencial para ser o gatilho que precisávamos para ver o início de uma integração entre o mercado tradicional e a tecnologia blockchain.
Uma vez que diferente do Bitcoin, que foi criado para ser uma reserva de valor e funcionar como uma espécie de dinheiro digital, Ethereum é responsável pela infraestrutura de inúmeros projetos. Logo, estamos falando de instituições investindo num ecossistema rico em utilidades para o próprio mundo tradicional.
Trazer a atenção de instituições para as aplicações descentralizadas pode impactar a maneira como as criptomoedas são negociadas e utilizadas, assim como já estamos vendo com a narrativa de RWA (Real World Assets), que tem ganhado destaque e proporciona exatamente esse tipo de integração.
Já num curto prazo devemos observar uma alta no preço do token ETH proporcionada pelo aumento da acessibilidade e da adesão institucional, possibilitando o investimento no ativo por meios tradicionais, o que deve elevar a demanda, resultando potencialmente em preços mais altos.
Projetos correlacionados à rede e ao próprio token devem surfar essa onda, se aproveitando tanto da entrada de novos usuários na rede, curiosos atraídos pela notícia de um novo ETF sendo negociado na bolsa, quanto da própria valorização de ETH. Como protocolos do segmento de Defi, relacionados a restaking, empréstimos descentralizados entre outros.
Variações semanais (24/06/24 a 1/07/24)
🪙 Bitcoin (BTC)
Preço: US$62.823 | Var. +4,31%
🪙 Ethereum (ETH)
Preço: US$3.439 | Var. +2,71%
🌐 Dominância Bitcoin: 54.88% (Var. +0,99%)
* dados referentes ao fechamento em 1/07/24
Tópicos da semana
- Uma lei proposta na Carolina do Norte, que visa proibir o uso de moedas digitais emitidas pelo estado, foi aprovada na assembleia legislativa local e agora aguarda a sanção ou veto do governador. Esta legislação é parte de um movimento mais amplo contra as moedas digitais emitidas pelo governo central (CBDC).
- O ex-presidente Donald Trump está supostamente em negociações para participar como orador na convenção Bitcoin 2024, que ocorrerá em Nashville no final de julho. De acordo com vários relatos da mídia, essa possível participação ressalta a crescente associação de Trump com o setor de criptomoedas, contrastando com a postura mais reservada do presidente Joe Biden em relação às moedas digitais.
- Segundo o Cointelegraph, Gary Gensler, presidente da SEC, declarou no Bloomberg Summit (25 de Junho) que o processo de aprovação dos ETFs de Ethereum (ETH) está progredindo sem problemas, mas ele não sabe exatamente quando será concluído. Ele destacou que a aprovação depende dos gestores de ativos completarem os registros e divulgações necessárias. Gensler mencionou que a SEC está trabalhando nos detalhes dos formulários de registro e que a aprovação final pode ocorrer até o final do verão
Gráfico da semana
Enquanto aguardamos ansiosamente o início das negociações dos ETFs e o mercado permanece lateralizado. Desta vez, venho com um gráfico curioso, divulgado pela Triple A, conhecida por fornecer dados e análises sobre o mercado de criptomoedas.
Esta imagem destaca a penetração e adoção de criptomoedas em diferentes regiões do mundo, mostrando tanto a taxa percentual da população envolvida quanto o número absoluto de proprietários de criptomoedas.
Como podemos observar, apesar de o Brasil estar na sexta posição nos dados percentuais referentes a adoção de cripto no país, no número de pessoas brutas que detém criptomoedas, estamos em segundo, com 26 milhões de investidores.
Isso mostra o grande potencial e interesse do brasileiro nos ativos digitais. Agora, considerando estes dados e a evolução do nosso sistema financeiro, considerado um dos mais avançados no mundo (implementação do PIX e Open Finance), fica o questionamento. Como isso funcionará daqui alguns anos?
Um abraço,
Luis Kuniyoshi