O tema inteligência artificial (IA) está em alta em 2023. Seja nas redes sociais, na mídia tradicional ou no mercado financeiro, é impossível desprezar a força das diversas narrativas sobre o assunto.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o principal índice da bolsa, S&P 500, ignorou o cenário macroeconômico difícil e subiu mais de 14% no ano.
As principais responsáveis pela alta são as FAANGs (Facebook, Apple, Amazon, Netflix e Google), lideradas pela narrativa da inteligência artificial.
O desempenho do índice Nasdaq, composto majoritariamente por empresas de tecnologia, chama ainda mais atenção: +30% em 2023.
Só a Nvidia, empresa responsável pela fabricação de semicondutores, sobe incríveis 187% no ano.
Inteligência artificial virou guerra comercial
O assunto que movimenta tantas opiniões, possibilidades e muito (muito) dinheiro, virou uma disputa comercial entre as duas maiores economias do mundo: Estados Unidos e China.
Antes mesmo do “boom” da inteligência artificial, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, sancionou em 9 de agosto de 2022 a “lei dos chips”, como ficou conhecida a Chips & Science Act.
Com receio de ver a indústria de semicondutores – componentes indispensáveis para a produção de carros, computadores e drones – de Taiwan ser tomada pela China, os EUA destinaram US$ 52 bilhões com o objetivo de estimular a indústria e reduzir a dependência de países asiáticos.
Além disso, impuseram uma série de restrições às importações de chips para a China, com a intenção de atrasar o desenvolvimento tecnológico do país asiático.
“O governo impôs uma restrição muito relativa à performance. Os chips mais avançados, tradicionalmente usados no treinamento de modelos de inteligência artificial, seriam proibidos de serem comercializados com a China”, explica o analista de tecnologia da Empiricus Research, Richard Camargo.
A restrição, claro, afetou a Nvidia, que estimou, no final do ano passado, um impacto de receita na ordem dos US$ 400 milhões por trimestre. “É muito relevante, a empresa fatura cerca de US$ 7 bilhões por trimestre”, explica Richard.
Mas a Nvidia está longe de ser a única impactada. Outras companhias de tecnologia também sofreram com a ampla restrição de comercialização de empresas estadunidenses ou com propriedade intelectual norte-americana com a China.
O analista lembra o exemplo da ASML, que fabrica máquinas de criptografia, necessárias para a confecção dos chips mais modernos do mercado – os de 5 nanômetros e inferiores.
“A China não tem acesso a essas máquinas. A indústria chinesa é capaz de produzir chips de até 7 nanômetros, em um processo industrial que é bastante diferente do processo mais moderno utilizado pelas empresas ocidentais”, explica o analista.
Segundo Richard, o atraso da China no ramo de semicondutores em relação ao ocidente está em torno de 10 anos. “É um gap bem difícil de tirar, porque o ocidente segue se desenvolvendo em um ritmo muito elevado e está impondo sanções estritas e claras para que o chinês não consiga acompanhar esse mesmo ritmo”, aponta.
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Empresas deram um jeitinho de se ‘adaptar’ às restrições
As sanções não significam um colapso total dos negócios entre Estados Unidos e China. “É uma parte muito específica da parcela mais avançada dos semicondutores”, explica.
Por isso, algumas empresas norte-americanas tentaram se adaptar à condição imposta.
“A grosso modo, fizeram uma adaptação no hardware para continuar vendendo para o mercado chinês. É como se estivessem vendendo um chip com a mesma capacidade de processamento, porém muito mais lento. Para um chinês realizar a mesma capacidade, necessitaria comprar mais placas”, afirmou o analista.
Fato é que as empresas de semicondutores estão no cerne da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Com o avanço da inteligência artificial e das novas tecnologias, o que não faltarão são capítulos para completar essa história.
Confira abaixo a entrevista completa de Richard Camargo no Giro do Mercado: