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Falha no sistema da Crowdstrike e Ibovespa amargando novamente: o que esperar do mercado nesta sexta-feira (19)?

Bolsas de valores podem ser afetadas pela falha de sistema da Crowdstrike, que afeta bancos e companhias aéreas? Veja o que esperar.

Por Matheus Spiess

19 jul 2024, 09:27 - atualizado em 19 jul 2024, 09:29

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(Imagem: Canva Pro)

Bom dia, pessoal. Acordamos com notícias de uma falha de sistema na Crowdstrike, empresa de cibersegurança, que está afetando várias companhias de importância mundial, incluindo companhias aéreas, emissoras de TV e outros sites relevantes.

Abordaremos esse tema com mais detalhes nesta newsletter e continuaremos monitorando os desdobramentos e as implicações para o mercado, em especial o de tecnologia.

Mercados internacionais e agenda do dia

O clima nos mercados europeus foi negativo nesta manhã, refletindo a decisão de manter as taxas de juros, o que também resultou em uma leve queda nos juros futuros americanos.

No mercado asiático, as ações recuaram nesta sexta-feira (19), seguindo a forte baixa de ontem em Wall Street.

A cautela ainda domina entre os investidores devido aos esforços da China para sustentar seu setor imobiliário em dificuldades e às crescentes tensões da guerra comercial com os EUA e a União Europeia.

Na agenda de hoje, destacam-se mais divulgações de resultados corporativos nos Estados Unidos e discursos de autoridades monetárias americanas.

No Brasil, o foco está no anúncio do governo sobre a contenção orçamentária deste ano. Embora não tenha sido desastroso, o anúncio ficou aquém das expectativas positivas.

A ver…

· 00:51 — “Já não tava muito bom. Tava meio ruim também. Tava ruim. Agora parece que piorou.”

No cenário doméstico, o Ibovespa sofreu uma correção significativa pela primeira vez em um longo período, impulsionada pelas preocupações dos investidores com o cenário fiscal, fechando em 127.652 pontos.

Durante o pregão, surgiram especulações sobre a contenção de gastos para o orçamento de 2024, a ser detalhada no próximo dia 22 de julho.

Havia uma preocupação geral de que os cortes anunciados não seriam suficientes para alcançar a meta de eliminar o déficit primário até 2024.

Ao final do dia, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que o governo implementará um ajuste fiscal de R$ 15 bilhões, dividido entre um bloqueio de gastos de R$ 11,2 bilhões e um contingenciamento de R$ 3,8 bilhões.

Este anúncio serve como um prelúdio aos números detalhados que serão mostrados no relatório bimestral de receitas e despesas na próxima segunda-feira (22).

Embora o ajuste anunciado não represente o cenário mais pessimista, previamente estimado em cerca de R$ 10 bilhões, ele também fica aquém do ideal. Para realmente atingir a meta de déficit zero em 2024, seria necessário um ajuste total de aproximadamente R$ 57,7 bilhões.

O valor divulgado sugere um objetivo mais modesto de redução para um déficit de apenas 0,25%, o que requer ajustes da ordem de R$ 26,4 bilhões (fizemos apenas parte disso). Portanto, a reação do mercado pode ser moderadamente positiva, embora cautelosa. Afinal, fica claro que o esforço fiscal necessário para 2024 não será totalmente coberto por este relatório bimestral. Precisaremos de outros.

Diante dessas circunstâncias, espera-se que as discussões sobre cortes orçamentários continuem intensas ao longo do segundo semestre, particularmente porque há uma resistência política considerável a esses cortes. É importante notar que este ajuste não contempla o orçamento de 2025, que será apresentado ao Congresso no final de agosto.

Para o próximo orçamento, o governo planeja uma economia adicional de R$ 25,9 bilhões através da revisão de despesas. Continuaremos monitorando de perto essa questão, dada a sua relevância para o mercado financeiro.

· 01:49 — A maior oferta de saneamento da história

Ontem (18), a Sabesp (SBSP3) foi um dos destaques do mercado local, encerrando o dia com uma queda de 1,91%, sendo cotada a R$ 81,35. Esse movimento coincidiu com a precificação da oferta de ações no processo de privatização da empresa, marcada como a maior oferta de ações na história do setor de saneamento no Brasil.

Na quinta-feira (18), a privatização da Sabesp foi concluída com sucesso, arrecadando um total de R$ 14,8 bilhões. Desse montante, a Equatorial (EQTL3) pagou R$ 6,9 bilhões para adquirir 15% do capital da Sabesp ao preço de R$ 67 por ação.

O restante foi levantado por meio de uma oferta global, atraindo 310 investidores institucionais e resultando na venda de 191,7 milhões de ações da empresa, com um lote adicional de 28,7 milhões de ações, todas cotadas a R$ 67,00. A demanda total para esta oferta pública alcançou um recorde de R$ 187 bilhões, a maior já registrada para uma oferta pública no Brasil, com a demanda institucional superando a oferta em 12,7 vezes.

Esse volume impressionante de demanda, no entanto, foi inflado, pois muitos investidores solicitaram mais ações do que realmente pretendiam adquirir, antecipando um eventual rateio. Aproximadamente 53% da demanda veio de investidores estrangeiros, com a transação atraindo fundos dos Estados Unidos, Europa e Ásia.

Conforme fontes do Broadcast, Carlos Piani é cotado para assumir a presidência da Sabesp após a privatização. Atualmente, ele é o presidente independente do conselho de administração da Equatorial e foi previamente considerado como candidato a CEO da Vale. Em minha análise, o processo de privatização promete ser benéfico para a Sabesp a longo prazo, apesar das tensões políticas que ainda persistem. Esta mudança deverá transformar a Sabesp em uma empresa mais eficiente nos próximos anos, o que certamente atrairá a atenção do mercado.

 · 02:38 — Uma correção democrática

Nos EUA, a convicção de que o Federal Reserve está pronto para suavizar sua luta contra a inflação resultou em uma retirada das ações de grande capitalização, que haviam subido durante o ciclo de aperto como uma negociação de segurança. Como discutido anteriormente, o capital tem fluído recentemente para uma gama mais ampla de empresas industriais e de produtos básicos, indicando uma verdadeira rotação setorial.

No entanto, ontem, a queda nas ações das empresas de tecnologia se expandiu para incluir empresas menores, à medida que os sinais de fraqueza econômica superaram o otimismo em relação aos cortes de taxas. Quase todos os principais grupos do S&P 500 registraram queda, fazendo o índice cair quase 1%.

Depois da queda de 2,8% no Nasdaq na quinta-feira, parecia haver uma boa probabilidade de recuperação. Inicialmente, todos os principais índices abriram em alta, mas perderam terreno à medida que o movimento de vendas se intensificava, resultando em um grande ajuste de posições e realização de lucros.

Hoje (19), começamos o dia com um certo nervosismo devido aos resultados da Netflix (NFLX34), que, embora tenham vindo em linha com o esperado, decepcionaram um pouco os investidores na noite de ontem por conta do guidance. Além disso, hoje teremos declarações de autoridades monetárias e mais resultados corporativos, com destaque para empresas como American Express e Halliburton.

· 03:25 — Trump 2.0: como fica a OTAN

Com a crescente probabilidade de vitória de Donald Trump nas próximas eleições americanas, conforme indicam as bolsas de apostas, é oportuno começarmos a refletir sobre os possíveis impactos econômicos e, principalmente, nos mercados financeiros globais. Este é um tema que venho analisando há algum tempo.

Na última pesquisa divulgada, Trump abriu uma vantagem de cinco pontos sobre Biden, após o atentado na Pensilvânia, e agora está com 52% contra 47% do candidato democrata. Ontem, durante seu discurso de aceitação da nomeação republicana, Trump reiterou a promessa de aumentar os impostos sobre os consumidores americanos de bens parcialmente fabricados no exterior, com ênfase no setor automotivo. Para mim, porém, um ponto de destaque nos próximos anos será a relação dos EUA com a OTAN.

A questão que se coloca é: sem o apoio dos EUA, terão os aliados da OTAN a força, a paciência e a unidade necessárias para apoiar a Ucrânia na guerra contra a Rússia? Segundo o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Polônia, Radek Sikorski, a resposta é um enfático sim. No ano em que a organização completa 75 anos, ela enfrenta a delicada situação da contínua invasão do território ucraniano.

Uma possível segunda administração Trump poderia limitar severamente a assistência militar adicional a Kiev, e a imensa força necessária para recuperar todo o território ucraniano simplesmente não estaria disponível. Mesmo assim, a OTAN parece disposta a manter o apoio pelo tempo que for necessário.

No entanto, resta saber se Trump estará disposto a aceitar essa posição. Ele já afirmou várias vezes que deseja um acordo com Putin o quanto antes. O problema é que Putin não tem um bom histórico de cumprimento de acordos, o que adiciona uma camada extra de incerteza a essa já complexa situação.

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· 04:12 — Os próximos passos

Ontem, no mesmo dia em que Ursula von der Leyen garantiu um segundo mandato de cinco anos como presidente da Comissão Europeia, o BCE manteve as taxas de juros inalteradas após o corte histórico do mês passado, revelando pouco sobre seus próximos passos. Investidores e economistas apostam em outra medida em setembro.

A taxa de depósito foi mantida em 3,75%, e o banco central reiterou que os custos de empréstimos permanecerão suficientemente restritivos pelo tempo necessário para garantir que a inflação retorne a 2%.

O BCE reafirmou que não está comprometido com uma trajetória específica de taxas, destacando sua abordagem baseada em dados e decisões tomadas reunião após reunião. As autoridades do BCE estão cada vez mais cautelosas sobre a possibilidade de cortar as taxas de juros apenas mais uma vez este ano.

Com pressões inflacionárias ainda presentes, há menos confiança entre os integrantes do banco de que um caminho para mais duas reduções seja realista, e eles não querem que os investidores assumam que uma decisão em setembro está garantida. Isso também depende do ciclo de cortes nos EUA. Se os americanos mapearem dois cortes de juros, é provável que os europeus também possam considerar uma ou duas reduções.

· 05:06 — Apagão cibernético

Como destacado anteriormente, estamos enfrentando uma falha de sistema significativa que está afetando inúmeras empresas ao redor do mundo, resultando em um verdadeiro apagão cibernético. Em consequência, as ações da Crowdstrike, uma das principais empresas globais de cibersegurança, caíram 10% no pré-mercado devido a este incidente, enquanto as ações da Microsoft registraram uma queda de 2%.

A dúvida persiste: estamos lidando apenas com uma falha técnica ou algo mais complexo está em jogo?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.