Existe uma discrepância que salta aos olhos entre a grande representatividade que o agronegócio tem na economia brasileira e a sua modesta participação no mercado de capitais. Porém, aos poucos, esse gap vem caindo com novas ofertas de ações de companhias do setor e com o advento do Fiagro (Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais).
Esse tipo de fundo investe em ativos do agro, sejam eles de natureza imobiliária rural ou ligados às atividades produtivas, com características semelhantes aos fundos imobiliários (FIIs).
A regulamentação dessa nova modalidade de investimento é um prato cheio para os gestores colocarem produtos diferenciados no mercado.
Por sua vez, os investidores devem ganhar cada vez mais alternativas para diversificação da carteira em um setor extremamente pujante.
Nesse cenário, a gestora de recursos independente JGP, fundada pelo renomado André Jakurski, listou na B3 em novembro do ano passado o seu Fiagro de títulos de crédito, com o ticker JGPX11. O foco é em ativos de qualidade high grade e há preocupação com os pilares ESG.
“Todo setor que cresce nos interessa, por isso, criamos a vertical de crédito com foco no agronegócio e lançamos o primeiro Fiagro”, disse Alexandre Muller, sócio e gestor de crédito, na live Conexão FIIs nesta quinta-feira (3/02), conduzida pelo analista Caio Araujo, analista da série Renda Imobiliária da Empiricus.
A JGP, fundada em 1997, por ex-sócios do então Banco Pactual, começou atuando como hedge fund. Depois, em uma transição para uma atuação mais ampla, lançou fundos de ações, em 2008. “A partir de então, desenvolvemos estratégias mais nichadas como fundos crédito e de equities ESG e um fundo de ativos estressados. E o Fiagrotambém faz parte desse processo”, explicou Muller.
Uma carona na locomotiva da economia e até uma proteção
No momento, existem 9 Fiagros listados na B3. A recente modalidade de investimento é mais uma forma de os investidores pegarem carona na locomotiva da economia brasileira.
Conforme Alexandre Muller, nos últimos dez anos o crescimento acumulado do PIB do agronegócio foi superior a 20%, enquanto a atividade econômica nacional ficou praticamente no zero a zero.
Portanto, o avanço do agronegócio compensou o desempenho pequeno ou negativo de outros setores como a indústria.
“O Fiagro representa uma alternativa para os portfólios e até para proteção em determinados ciclos de mercado. Por exemplo, acabamos de ver FIIs de shoppings e lajes corporativas sofrerem muito por conta da fase mais crítica da pandemia”, acrescentou o analista Caio Araujo.
Do mocassim da Faria Lima à botina: os desafios
Muita gente do mercado tem criticado nome Fundo de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais por ser nada ‘sexy’ e extenso. A despeito do nome ser feio, bonito ou estranho, essa categoria abarca cadeias complexas.
“No agro, existe uma diversidade enorme de produtos em cadeias extremamente complexas, que são mantidas por elos, muitas vezes, informais e que ainda estão amadurecendo em termos de governança corporativa”, destacou José Pugas, sócio e head de Agro e ESG da JGP, que também participou da live Conexão FIIs da Empiricus.
De forma geral, segundo ele, o setor se desenvolveu muito rapidamente com soluções próprias de crédito como troca de insumos para o plantio por produtos, empréstimos com pares ou a dependência de linhas subsidiadas do governo.
Porém, diante das reduções orçamentárias do governo e diminuição na oferta de recursos, assim como outros motivos relacionados a uma evolução natural, as empresas do agro estão buscando outras soluções e indo ao mercado de capitais. Nesse processo, elas acabam aperfeiçoando a estrutura corporativa e produzindo balanços auditados.
E tudo isso impõe desafios aos gestores de recursos, analistas e outros profissionais. “Para nós do mercado financeiro, da ‘Faria Lima ou do Leblon’, é um desafio entrar em contato com o agro. Mas é necessário ter uma visão diferenciada, de dentro, ou seja, tirar o mocassim e colocar a botina para entender esse ‘monstro’ econômico”, afirmou Pugas.
Outro ponto colocado pelo head de Agro da JGP é que fazer boas análises vai muito além de olhar para as empresas e para o Brasil, é preciso ter também muita atenção para as mudanças climáticas e questões geopolíticas.
O agro quase sempre tem relação com importações e exportações. “Estão em jogo cadeias globais. Por exemplo, temos hoje o conflito entre Rússia e Ucrânia. Atualmente, a maior parte do fertilizante fosfatado usado no país vem da Rússia e da Bielorússia, então, é preciso observar tudo isso com lupa”, disse.
Fique por dentro das características do Fiagro
Existem três tipos de Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais, são elas:
1.Fiagro-FIDC: fundos voltados para a agroindústria que aplicam em direitos creditórios.
2.Fiagro-FII: fundos com ativos imobiliários e/ou títulos de crédito ligados ao setor.
3.Fiagro-FIP: fundos de investimento em participações em sociedade de empresas.
O analista Caio Araujo destaca que apenas a categoria Fiagro-FII é aberta ao público em geral na Bolsa. Os ligados a FIDCs e FIPs são para investidores qualificados.
Caio Araujo destaca que, assim como FII, o Fiagro tem isenção de Imposto de Renda sobre os rendimentos distribuídos (proventos) para pessoas físicas, desde que o fundo seja negociado exclusivamente em Bolsa e tenha número mínimo de 50 cotistas. Lembrando que para obter o benefício tributário, o cotista não pode deter mais de 10% da totalidade das cotas do fundo.
Mas há incidência de IR sobre o ganho de capital – uma alíquota de 20% sobre o lucro obtido no momento da venda das cotas.
Se você quiser saber mais sobre o assunto, te convido para assistir ao vídeo completo: Conexão FIIs: Especial Fiagro. É um bate-papo super interessante.