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Fiagros: o pior já passou? Analista acredita que ainda não; entenda

O analista de fundos de investimentos da Empiricus, Caio Araújo, tem ressalvas importantes para aqueles que querem investir nos Fiagros. Confira.

Camila Paim Figueiredo Jornalista

Por Camila Paim

14 ago 2024, 11:48 - atualizado em 14 ago 2024, 12:02

fiagros agronegócio

Imagem: Unsplash

Os Fiagros são investimentos pautados na captação de lucros com base no crescimento do agronegócio, um dos pilares essenciais da economia brasileira. 

Nos últimos meses, contudo, a inadimplência dos produtores e a instabilidade climática torna o cenário ainda bastante imprevisível para estes fundos em 2024. 

“Acredito que haverá um “ponto de virada” para os Fiagros, mas o ano de 2024 deve continuar a ser desafiador. No longo prazo, continuamos otimistas de que os Fiagros ganharão espaço na indústria, apoiados pela solidez do agronegócio brasileiro e pela necessidade crescente de capital nesse segmento”, comenta Caio Araújo, analista de fundos de investimentos da Empiricus Research. 

Fundos do agronegócio são incertos hoje

O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores de alimentos do planeta. O agronegócio, na visão do analista, tem papel crucial no PIB nacional, além de ser fundamental para a geração de empregos e o desenvolvimento de diversas regiões do Brasil. 

Apesar disso, os investimentos nos fundos do setor estão em “reavaliação” neste momento, conta Araújo, “em busca de novas oportunidades”.

Até o final do primeiro semestre, a cesta de Fiagros acumulou uma queda de 4,55% no ano, em comparação com uma queda de 0,36% do Ifix, principal índice de fundos do mercado brasileiro.

Entre as principais razões para esse desempenho, segundo o analista, destacam-se os preços das commodities, que permanecem em níveis desafiadores nas principais culturas. É possível observar esta informação no gráfico a seguir. 

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Fonte: Empiricus e Bloomberg

Os produtores operam com margens comprimidas desde o ano passado. No mercado de grãos, por exemplo, os preços da soja e do milho recuaram entre 10% e 20% nos últimos 12 meses, até o final do primeiro semestre. 

Além disso, os eventos de crédito parecem ter reduzido ainda mais o apetite dos investidores, o que derrubou as captações em aproximadamente 75% em maio deste ano, em relação ao ano passado. 

“Essa falta de liquidez é um aspecto crítico para o desempenho de curto prazo dessa categoria”, avalia Araújo. 

Ainda pode haver um ponto de virada para investir em Fiagros? Entenda

Se há um aspecto positivo a ser destacado, segundo o analista, é a estabilidade dos custos dos insumos agrícolas, o que facilita o planejamento financeiro dos produtores. “Esse fator pode ser um diferencial importante para a dinâmica de mercado nos próximos anos”, afirma Araújo. 

Segundo ele, os eventos de crédito são comuns ao longo dos ciclos econômicos, mas é preciso compreender a intensidade dessa onda e se um possível ponto de virada pode se transformar em uma oportunidade.  

Para determinar isso, Araújo analisou os segmentos desta categoria de fundos de investimentos. 

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Setor sucroalcooleiro bate recordes em Safra 2023/24

Quanto à produção do setor sucroalcooleiro, que abrange a produção de açúcar e etanol a partir da cana de açúcar, a safra 2023/24 atingiu níveis recordes. Para a próxima safra 2024/25, um levantamento da Conab também espera uma leve alta na produção em relação à anterior. 

“De acordo com os principais players do setor, a expectativa é de que os preços se mantenham em patamares mais baixos no curto prazo, refletindo a previsão de uma oferta abundante nos próximos meses. Além disso, o fenômeno La Niña, previsto para o segundo semestre de 2024, pode favorecer as condições climáticas para a produção global, aumentando ainda mais a oferta”, comenta Araújo.

Já para o mercado de etanol, o cenário poderá ser ligeiramente diferente, devido a mudanças na regulamentação, a entrada de players internacionais, como a britânica BP, e a crescente adesão ao movimento de descarbonização.

“Nas carteiras dos Fiagros, vemos o setor como uma opção relevante para o momento”, diz.  

Produção de grãos desacelera, impactada pelo El Niño

Por outro lado, o segmento de grãos tem demonstrado sinais de desaceleração. Segundo pesquisa mais recente da Conab, a previsão para a produção nacional foi ajustada para uma redução de 7% em relação à safra 2022/23, impactada negativamente pelo fenômeno El Niño.

A área cultivada, entretanto, cresceu, principalmente na produção de soja e algodão.

“Focando no principal produto agrícola do Brasil, a colheita de soja está praticamente concluída. A produção total até o momento alcançou 147 milhões de toneladas, aquém do potencial inicial, uma redução de 4,7% em relação à safra 2022/23 – a maior já registrada no país”, relembra Araújo.

Embora as condições climáticas tenham sido desfavoráveis em diversas regiões, somando com as enchentes no Rio Grande do Sul, os resultados ainda são considerados satisfatórios para o analista. “A capacidade técnica dos produtores brasileiros mostrou-se robusta para lidar com essas adversidades”, avalia o analista. 

“Em termos de preços, a trajetória de queda continua desde o ano passado, embora recentemente tenha surgido uma discrepância entre o mercado local e o internacional, influenciada pela alta expressiva do câmbio, o que favorece as exportações”, ressalta Araújo.

O cenário favorável para exportação de soja pode oferecer um alívio de curto prazo, segundo o analista, mas essa dinâmica sustenta uma mudança na percepção cética em relação à cadeia produtiva.

Exportação de milho pode encarar redução de 13,5%

Por fim, o milho deverá observar uma redução de 13,5% na sua safra 2023/24, em razão da diminuição da área plantada e da menor produtividade projetada.

No contexto da balança comercial, a Conab projeta um aumento no volume de importações de milho para a safra 2023/24, enquanto as exportações devem sofrer uma queda significativa, com uma redução de 38,7% em relação à safra 2022/23. 

“Esse declínio é atribuído não apenas à menor oferta nacional, mas também à estabilidade da oferta internacional, especialmente das safras dos Estados Unidos e da Argentina, que devem pressionar os preços e reduzir a competitividade do milho brasileiro”, comenta Araújo.

Enfraquecido e estável: insumos apresentam maior previsibilidade

Por fim, o mercado de insumos agrícolas permanece estável, sem alterações significativas nos fundamentos ou variações acentuadas nos preços, refletindo uma demanda ainda enfraquecida por esses produtos. 

“Observa-se uma certa estabilização nos preços dos fertilizantes, que estão se aproximando de suas médias históricas. Esse cenário é positivo para os produtores, pois contribui para uma maior previsibilidade nas operações”, comenta Araújo.

Na malha internacional, o clima mais chuvoso no Meio-Oeste dos EUA acelerou o plantio e reduziu a demanda por fertilizantes, enquanto que a China deve acelerar suas exportações dos produtos em suas versões nitrogenados e fosfatados. O conflito no Oriente Médio também impacta o transporte marítimo pelo Mar Vermelho dos itens, o que deve gerar aumento nos custos de frete e no tempo de entrega.

O Brasil e a Índia devem iniciar suas compras de fertilizantes nitrogenados ainda este mês. 

Quando é uma boa hora para investir em Fiagros? 

O analista de fundos da Empiricus Research explica que nem sempre os Fiagros vão refletir a dinâmica do mercado agro no momento. “Como o setor é amplamente composto por crédito, muitas vezes o monitoramento e a transparência dos Fiagros não expõem os dados mais recentes de rentabilidade e geração de caixa das empresas”, explica Araújo. 

Além disso, culturas como café e cacau, que se destacaram nos últimos meses, possuem uma exposição limitada nas carteiras dos fundos e por isso seu desempenho não impacta tanto a cotação dos fundos.

Atualmente, Araújo avalia que muitos ativos estão sendo negociados abaixo de seus valores patrimoniais, uma mudança em relação ao ano passado. Mesmo assim, “a dinâmica de crédito dos Fiagros não agrada no momento, considerando a relação risco-retorno dos fundos e a conjuntura macroeconômica.”

Outros eventos, como a La Niña neste segundo semestre e uma regulamentação específica para os Fiagros também devem se desenrolar antes das incertezas diminuírem. 

“O setor permanece em nosso radar, mas, diante do cenário atual ainda turbulento, optamos por ficar de fora dessa classe de ativos por enquanto”, conclui.

Para além deste investimento, o mercado de fundos ainda guarda muitas opções valiosas.  Neste relatório gratuito, você encontra 5 fundos imobiliários recomendados pelo analista da Empiricus Research, Caio Araujo. Baixe aqui a lista gratuita.

Camila Paim Figueiredo Jornalista

Sobre o autor

Camila Paim

Jornalista formada na Universidade de São Paulo (USP), com mobilidade acadêmica na Université Lumière Lyon 2 (França). Trabalhou com redação de jornalismo econômico e mercado financeiro, webdesign e redes sociais, além de escrever sobre gastronomia e literatura.