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Fim do ‘inverno cripto’? Recuperação dos preços dos ativos digitais vem acompanhada de sinais positivos do mercado; saiba mais

É possível dizer que o bear market cripto acabou? Confira a análise de Vinicius Bazan, chefe do Departamento de Criptomoedas da Empiricus

Por Vinicius Bazan

26 ago 2022, 14:38 - atualizado em 26 ago 2022, 14:59

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Imagem: Pixabay

Os mercados costumam ser cíclicos e, tendo presenciado uma recuperação dos preços dos criptoativos ao longo de julho e início de agosto, após meses de queda, é natural nos perguntarmos se este bear market (tendência de baixa) do mercado de cripto chegou ao fim.

Sem pretensão de acertarmos o dia e a hora exata do fundo do ‘inverno cripto’, nos apoiamos em métricas que nos ajudam a entender, justamente, em qual fase do ciclo estamos.

No mercado de cripto, temos o Bitcoin (BTC) como uma proxy de seu comportamento. Isso se dá tanto pelo tamanho do ativo (o Bitcoin representa cerca de 40% de todo o valor de mercado) quanto por sua importância como ponte institucional para esta classe de ativos.

Em linhas gerais, o protocolo do Bitcoin é regido por um algoritmo que determina, entre outras coisas, parâmetros de emissão de novas moedas e de dificuldade para se obtê-las. A criação de novas moedas surge como recompensa da atividade de mineração, em que agentes interessados utilizam um maquinário especializado e resolvem problemas matemáticos complexos para garantir a “ordem” de todas as transações que ocorrem na rede.

Em outras palavras, entenda o algoritmo do Bitcoin como um mecanismo auto-ajustável no tempo, sem necessidade de intervenção de um órgão centralizado.

Atividade dos mineradores pode servir de parâmetro para mercado cripto

Pois bem, a atividade de mineração de Bitcoins tem um paralelo, ainda que não completamente similar, à de metais preciosos. Ouro, por exemplo. Logo, há um custo de produção para o minerador, que basicamente traduz seu CAPEX e OPEX.

Sendo assim, a depender do preço de mercado do Bitcoin, pode ficar mais ou menos vantajoso para o minerador da cripto manter suas operações. Em períodos como o atual, de queda nos preços, é natural pensar que parte dos mineradores ficam “debaixo d’água” e, a depender da duração do bear market, podem precisar fazer ajustes em suas operações.

Uma visualização mais clara disso está no gráfico a seguir.

A banda vermelha representa uma faixa estimada de custo de produção de 1 BTC para o minerador. Note como, desde meados de maio, o preço do ativo está dentro dessa faixa. Ou seja, para parte dos mineradores, ficou mais caro produzir 1 BTC do que seu preço de mercado.

Em momentos como esses, historicamente, sempre vimos mineradores menos eficientes e/ou com menos caixa precisando rever suas operações, seja desligando parte de suas máquinas, vendendo suas reservas de bitcoin ou mesmo deixando o mercado cripto.

Uma representação gráfica desse processo pode ser vista nos dois próximos gráficos, que trazem uma métrica chamada Hash Ribbon. Em resumo, acompanhamos duas médias móveis de Hash Rate (entenda como volume de atividade mineradora). A linha azul mostra uma média de 60 dias, enquanto a verde, de 30.

Essa métrica tem sido usada para identificar o que chamamos de “capitulação dos mineradores”. Quando vemos a média mais curta abaixo da média mais longa, temos um período em que parte dos mineradores estão precisando diminuir seu grau de atividade, desligando parte de suas máquinas.

Tal período é denotado pelas regiões em vermelho. Para referência, trouxe aqui dois momentos: o bear market cripto de 2018/2019 e o atual.

Também historicamente, essa capitulação dos mineradores tem marcado o fundo de bear markets, uma vez que esse grupo de agentes do mercado costumam ser os últimos a tomar medidas mais drásticas de redução de operação ou mesmo de suas posições em BTC.

Bom sinal: atividade mineradora volta a crescer

Neste momento, estamos vendo a atividade mineradora voltar a crescer (médias se cruzando novamente no segundo gráfico acima). Ainda é necessário acompanhar esse processo, a fim de entender se ele se manterá na tendência atual. Em caso afirmativo, temos um indicador importante de que a parte mais intensa do bear market de cripto pode ter passado.

É claro que, tratando-se de um mercado que, nos últimos dois anos, ganhou uma relevante presença de players do mercado tradicional, cada vez mais os aspectos macroeconômicos impactam as criptos. Reflexo disso é a alta correlação atual entre o preço do bitcoin e o índice Nasdaq.

Nesse sentido, vale ter em mente que o próprio mercado tradicional vive seu próprio bear market e pode ser que a história não se repita apenas como os indicadores intrínsecos projetam.

Entretanto, temos dados suficientes de mercado para crer numa melhora estrutural. Não acreditamos que o inverno cripto acabará imediatamente, nem mesmo que teremos uma recuperação vigorosa imediata dos preços. Contudo, em momentos como este, temos boas janelas de oportunidade para fazer um bom preço médio para nossas posições em Bitcoin e em seus pares.

Evento do ano no mercado cripto pode impulsionar ativos

Para finalizar, estamos prestes a passar pelo maior evento do ano para o mercado dos ativos digitais e, potencialmente, o mais importante de sua história. Me refiro a uma importante atualização do código do Ethereum, o segundo maior protocolo deste setor em termos de valor de mercado, atrás apenas do Bitcoin.

O Merge, como é chamada a atualização, mudará radicalmente a estrutura do Ethereum e abrirá caminho para uma sequência de atualizações futuras que pretendem tornar o protocolo capaz de processar 100 mil transações por segundo. A título de comparação, a Visa, hoje, processa uma média 1.700 transações por segundo, sendo capaz de chegar a 24 mil.

Além do aspecto tecnológico, o Merge terá o potencial de transformar o Ether (ETH) em uma cripto deflacionária. Ou seja, ao longo do tempo, menos unidades existirão. Considerando que a demanda pelo ativo tem sido crescente nos últimos anos, em um cenário de emissão líquida positiva de Ethers, essa mudança pode ser um dos catalisadores mais relevantes de valorização do ativo.

A atualização está programada para ocorrer no dia 15 de setembro, a menos de um mês de distância e, em nossa análise, é o evento que muda o jogo para o mercado de cripto no longo prazo, como um mercado que poderá se consolidar, também, como um grande provedor de infraestrutura por meio da tecnologia blockchain.

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Sobre o autor

Vinicius Bazan

Engenheiro pela Universidade de São Paulo e com passagem pela New York University, possui mais de cinco anos de experiência na área de educação, em especial a financeira. Atualmente, é responsável pela criação de conteúdos de apoio aos leitores e assinantes da Empiricus.

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