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Investimentos

Gerdau (GGBR4): um resumo do Stakeholder Day da companhia

Stakeholder Day da Gerdau não trouxe grandes novidades em termos operacionais, mas reforçou tese de investimento na companhia

Por Fernando Ferrer

04 out 2023, 10:52 - atualizado em 04 out 2023, 10:52

Metalúrgica Gerdau (GOAU4) GGBR4
Imagem: Divulgação

Participamos do Stakeholder Day da Gerdau (GOAU4) em Belo Horizonte, onde percebemos uma postura mais realista por parte da gestão em comparação com comunicações anteriores. Em termos operacionais, não houve grandes novidades em geral.

Alguns aspectos relevantes foram a análise da Gerdau sobre o mercado siderúrgico chinês, que está ampliando suas exportações, a greve nos EUA e a possibilidade de uma recessão global. Além disso, a empresa mostrou preocupação com a fraca demanda nos mercados de construção no Brasil e os riscos dos efeitos defasados das taxas de juros mais altas nos EUA.

A companhia vê argumentos sólidos para a imposição de tarifas de importação mais elevadas no Brasil (algo não considerado em nossos modelos). No entanto, não acredita em cortes significativos na capacidade siderúrgica da China, prevendo que as exportações de aço permaneçam altas. Surpreendentemente, países como a Turquia, sendo exportadores líquidos de aço, estão aplicando tarifas de importação contra a China, algo antes inimaginável.

Entendemos que existe uma possibilidade real de práticas predatórias nas exportações de aço da China, especialmente considerando que 50% das importações de aço no Brasil vêm desse país. A confiança da empresa na possibilidade de aumento das tarifas no Brasil deve gerar uma urgência em Brasília para aplicá-las (a taxa de importação do governo brasileiro deveria ser superior a 25%).

Gerdau mantém planos de investimento

Em termos de desempenho, o segundo semestre começou mais complexo e desafiador do que em anos anteriores. Por esse motivo, não foram feitas alterações significativas nos planos de investimento, mantendo os R$ 6 bilhões distribuídos ao longo de 3 anos (continuamos modelando cerca de R$ 5 bilhões por ano em investimentos). A empresa reafirmou seus recentes marcos de desalavancagem e retorno de caixa, reiterando seu compromisso com uma disciplina de capital rigorosa.

Ficamos atentos aos EUA, observando as tendências de demanda mais fracas no segundo semestre e início de 2024. A Gerdau permanece confiante no apoio à demanda de longo prazo proporcionado pelos programas de infraestrutura, especialmente o Ato de Redução da Inflação (IRA, na sigla em inglês). Dessa forma, acreditamos que a Gerdau passará por um ciclo muito positivo na América do Norte, uma vez que esses programas são mais que suficientes para mitigar os efeitos de um possível “hard landing” nos EUA, permitindo a geração de fluxo de caixa positivo.

A possibilidade de uma recessão nos EUA tem sido discutida há 12 meses, evidenciando a resiliência da economia. No setor siderúrgico, mesmo em cenários de picos, as fábricas estão operando em níveis bastante positivos. Considerando as iniciativas do governo, há um enorme potencial que ainda não surtiu efeito nos últimos trimestres.

Há uma grande expectativa de que essas medidas tenham um impacto significativo, compensando ou até aumentando o consumo norte-americano, mesmo em meio a uma recessão. Atualmente, a empresa está competindo em termos de rentabilidade de maneira semelhante ou até melhor do que suas concorrentes na América do Norte, o que nos dá confiança de que terá volumes e spreads bastante estáveis nos próximos anos.

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Diversificação da companhia nos EUA tem gerado resultados positivos

Por fim, não podemos deixar de mencionar a greve nos EUA (Stellantis, General Motors e Ford estão paralisadas). No entanto, essas greves têm uma relevância menor no mercado automotivo do que no passado. O segmento de aço especial está fechando os dados de setembro agora e não observamos impacto da greve até o momento. Se a greve persistir, pode ter um impacto, mas ainda não podemos quantificar esses efeitos neste momento.

Qualquer volume afetado no final deste ano resultaria em um volume adicional no ano seguinte. Vale ressaltar que a cadeia de veículos dos EUA vem recompondo seu inventário ao longo dos últimos trimestres. Nesse sentido, esse crescimento cria uma reserva em caso de greve, permitindo que continuem comprando matéria-prima mesmo durante esse período. No entanto, estamos monitorando de perto essa situação.

Atualmente, as ações carecem de catalisadores para uma reavaliação, dada a desaceleração da dinâmica dos lucros. A Gerdau continua sendo uma das opções mais acessíveis em commodities, e sua diversificação nos EUA está claramente gerando resultados positivos, mesmo diante das crescentes pressões sobre os lucros no curto prazo.

Sobre o autor

Fernando Ferrer

Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA em Finanças pela mesma instituição, Fernando Ferrer atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos cobrindo os setores de Varejo, Saúde e Infraestrutura. Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa.