No início da semana, conversamos com o time de Relações com Investidores da Gerdau (GOAU4) e reforçamos nossa visão de que a assimetria para as ações da companhia está em um momento positivo, dado o cenário bastante pessimista que está nos preços.
Operação Brasil
A tese de investimentos de GOAU4 hoje é baseada na recomposição de rentabilidade no Brasil, que atingiu no 4T23 nível próximo ao visto em 2015-2016, quando o país enfrentou uma dura recessão.
Como já comentamos em outras oportunidades, o mercado brasileiro de aço vive um momento difícil para as empresas locais, devido ao altíssimo volume de importação de aço chinês no país. Desde o último ano, a China tem exportado um volume grande de aço subsidiado, que entram no Brasil com preço abaixo do custo de produção da Gerdau e outras siderúrgicas brasileiras (prática conhecida como “dumping”).
Enquanto não houver uma revisão das tarifas de importação no país ou a China cesse os subsídios para exportação, a operação brasileira de Gerdau deve continuar pressionada. Contudo, existem caminhos para recompor rentabilidade ao longo de 2024.
Visando ganhar participação de mercado no último ano, a Gerdau não reajustou seus preços no mesmo ritmo dos seus concorrentes. Apesar do aço chinês limitar o aumento de preços hoje, existe um espaço para recomposição em torno de 5% que levaria a Gerdau para níveis mais próximos dos praticados pelo mercado.
Além disso, a companhia também está ajustando o tamanho da operação, buscando elevar sua eficiência operacional. As despesas com pessoal estão sendo reduzidas há alguns meses e acreditamos que devem contribuir para a recuperação das margens a partir do segundo semestre.
Vale destacar que, esse ajuste não vislumbra reduzir o volume de produção da companhia, mas sim um aumento de produtividade. Apesar desse caminho ter sido iniciado em função das condições ruins de mercado, vemos como um movimento que deverá beneficiar a Gerdau também a longo prazo.
Do lado dos volumes, esperamos um ano resiliente, até com espaço para alguma surpresa positiva. O setor de construção civil tem uma carteira de pedidos sólida e com potencial de surpreender positivamente dada a dinâmica atual do mercado, ainda impulsionada pelos projetos de baixa renda.
Por fim, sobre o aumento da tarifa de importação de aço para restabelecer as condições normais de mercado, não há perspectivas de quando e se ele irá ocorrer. Mas, como esse cenário já está nos preços, se a decisão favorável às siderúrgicas vier, veremos uma revisão importante de lucros para Gerdau.
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Operação de Gerdau na América do Norte
Aqui, a expectativa é de que os resultados permaneçam com uma demanda resiliente e rentabilidade bastante saudável, assim como vimos em 2023. Contudo, devemos ver uma acomodação marginal das margens.
Conforme os executivos já vem sinalizando, as margens do negócio na América do Norte ainda estão bem acima dos níveis a históricos e em ciclo de normalização, que deve se estender ao longo dos próximos 3 anos.
Olhando para a demanda, apesar da desaceleração econômica nos EUA, o backlog de pedidos segue sólido e beneficiado pelos programas de infraestrutura implementados pelo governo Biden, com forte demanda dos setores relacionados à pauta de transição energética. Além disso, o cenário de recessão forte ou “hard landing” teve sua probabilidade bastante reduzida, mitigando um risco importante para a Gerdau.
Em relação ao risco eleitoral, a companhia teve seus melhores anos nos EUA no mandato de Joe Biden e, com Trump no poder, também reportou resultados sólidos (estes, contudo, não beneficiados pela aceleração econômica global pós-pandemia). Ainda, as medidas de proteção à indústria local (Gerdau tem usinas sediadas no país) vigentes nos EUA, contra práticas predatórias de comércio (como o dumping chinês), foram implementadas pelo próprio Trump e mantidas por Biden, assim vemos um risco reduzido delas caírem independente do resultado eleitoral.
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América do Sul e Aços Especiais
Nas operações da América do Sul, o resultado do 4T23 foi extremamente impactado pela forte desvalorização cambial na Argentina. Após os efeitos, a receita líquida da divisão de negócio saiu de R$ 1,6 bilhão para R$ 326 milhões, uma queda de R$ 1,3 bilhão no período. Olhando para 2024, a expectativa é que o resultado fique próximo ao que foi o último trimestre, sem considerar os efeitos cambiais.
Na divisão de aços especiais, com dados de produção de veículos leves se recuperando de forma gradual em 2024 no Brasil e, em leves e pesados nos EUA, esperamos um momento de mercado melhor do que o visto nos últimos trimestres.
Por fim, apesar do curto prazo ainda ser desafiador, vemos as ações da Gerdau a 4 vezes EV/Ebitda para este ano, cerca de 25% abaixo da sua média histórica, com um pico de pessimismo embutido nos preços atuais.
Em 2024, esperamos ver resultados ainda saudáveis e com boa geração de caixa, assim como um retorno atrativo para os acionistas entre distribuição de proventos e programas de recompra.
Em um prazo mais longo, temos maior confiança na recuperação da operação brasileira, mesmo se o ambiente competitivo ainda for desfavorável, por meio de uma companhia ainda mais eficiente. As ações da Gerdau (GOAU4/GGBR4) seguem recomendadas pela Empiricus Research.