Investimentos

Goldman Sachs (GSGI34) e Morgan Stanley (MSBR34) divulgam resultados do 4T22 e evidenciam momento difícil para os bancos de investimento nos EUA; análise

Goldman Sachs apresenta resultado abaixo das expectativas do mercado, enquanto Morgan Stanley se sai melhor

Por Enzo Pacheco, CFA

17 jan 2023, 15:48 - atualizado em 17 jan 2023, 15:48

Goldman Sachs
Imagem: Reuters

Os bancos Goldman Sachs (B3: GSGI34 | NYSE: GS) e Morgan Stanley (B3: MSBR34 | NYSE: MS) divulgaram nesta terça-feira (17) seus balanços do 4T22 e do ano de 2022.

Como já havíamos comentado nos números das outras grandes instituições financeiras da terra do Tio Sam, a forte retração nos negócios de Banco de Investimentos foram responsáveis por grande parte da pior performance tanto trimestral quanto anual. 

E como esses dois bancos tem grande parte dos seus resultados ligados a essa parte do negócio, o resultado final não poderia ser diferente.

Goldman Sachs abaixo das expectativas

No caso do Goldman Sachs, que reportou números piores do que o esperado pelos analistas, a receita do trimestre totalizou US$ 10,6 bilhões (-16% vs. 4T21). 

Os detratores foram a parte de Global Banking & Markets (US$6,5 bilhões, -14%) e de Asset & Wealth Management (US$ 3,6 bilhões, – 27%), com apenas a linha de negócio de Platform Solutions — que engloba os serviços de banco comercial para pessoas físicas — reportando crescimento no período (US$ 513 milhões, +171%), mas ainda pouco representativo na companhia como um todo.

O resultado pior do banco no trimestre tem muito a ver com as piores condições de mercado observados ao longo do ano. As taxas obtidas de Investment Banking foram menores por conta do menor número de emissões tanto de equity como de dívida, além do menor número de operações da parte de assessoria (a carteira de projetos inclusive reduziu comparado ao 3T22). 

Esse cenário mais tortuoso também impactou a parte de gestão de ativos do Goldman, com a redução brusca na receita proveniente dos investimentos proprietários da companhia em instrumentos de equity (-80% vs. 4T21) e de dívida (-67%).

Além disso, ainda que em montante bem menor do que os outros bancos, a instituição também teve que realizar um forte aumento nas suas provisões para devedores duvidosos (US$ 972 milhões, +183% vs. 4T21). Para piorar, as despesas operacionais também aumentaram significativamente considerando os números do trimestre (+11%).

Lucro líquido do Goldman cai consideravelmente na comparação com o 4T21

Dessa forma, o lucro líquido encerrou o trimestre aos US$ 1,5 bilhão, ou US$ 3,32 por ação, valor 69% menor do que no mesmo período do ano passado. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) no trimestre foi de 4,4%, 11,2 pontos percentuais na comparação com 4T21.

Os números para o ano de 2022 seguiram uma dinâmica parecida. A receita total no ano foi de US$ 47,4 bilhões, queda de 20% quando comparado com 2021, com recuo de 12% na linha de GB&M e de 39% no A&WM e crescimento de 135% no Platform Solutions.

A provisão também teve um incremento ainda mais expressivo no ano, totalizando US$ 2,7 bilhões em 2022 (+661%). A única diferença foi a leve queda nas despesas operacionais, que caíram 2% na comparação anual.

Mesmo assim, o resultado final também foi bem abaixo do observado em 2021: US$ 13,5 bilhões, ou US$ 30,06 por ação, recuo de 49% ante o ano anterior (equivalente a um ROE de 10,2%, -12,8 p.p.).

Morgan Stanley se saiu melhor no 4T22

O Morgan Stanley até conseguiu melhorar algumas de suas linhas de resultados, reportando números melhores do que as expectativas de mercado, mas ainda assim também sofreu com as condições macroecônomicas dos últimos doze meses.

A receita no trimestre foi de US$ 12,7 bilhões, queda de 12% em relação ao mesmo trimestre de 2021. A parte de Institutional Securities, que engloba os fees do Banco de Investimento, recuou 28% e totalizou US$ 4,8 bilhões, também por conta da redução drástica no número de emissões de equity e dívida, além da menor receita com assessoria de operações por conta da menor quantidade de transações de fusões e aquisições.

Já a parte de Wealth Management continuou mostrando resiliência, apresentando receita recorde de US$ 6,6 bilhões (+6% vs. 4T21). Contudo, todo o crescimento dessa linha de negócio está relacionado a maior receita financeira líquida por conta do aumento dos juros, aliado a um aumento nos empréstimos desse segmento. 

Por outro lado, a linha de negócio de Investment Management reportou receita de US$ 1,5 bilhão, recuo de 17% na comparação com o 4T21, por conta das quedas observadas no mercado de capitais, que impactou tanto a receita de taxa de administração como de performance da companhia.

Banco consegue controlar despesas operacionais

A instituição conseguiu controlar as suas despesas operacionais no trimestre, que aumentou apenas 2% no período. Assim como as outros bancos, contudo, houve um forte aumento nas provisões para devedores duvidosos, que passou de US$ 5 milhões no 4T21 para US$ 87 milhões no último trimestre de 2022.

Na linha final de resultados, o lucro líquido totalizou US$ 2,2 bilhões, ou US$ 1,26 por ação, queda de 37% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.

Os resultados para o ano foram bem parecidos para a instituição. A receita caiu 10% na comparação anual, totalizando US$ 53,7 bilhões, com a parte de Institutional Securities sendo o principal detrator do período (US$ 24,4 bilhões, -18%).

Assim como no 4T22, o Morgan Stanley conseguiu manter suas despesas sob controle (-2% vs. 2021), mas teve que adicionar recursos para a sua linha de PDD, totalizando US$ 280 milhões no ano (ante US$ 4 milhões no ano anterior).

O impacto da queda na receita, contudo, continuou sendo o principal responsável pela queda no lucro líquido, que foi de US$ 11,0 bilhões (US$ 6,15/ação, -23% vs. 2021).

A diferença está na reação dos papéis no pregão de hoje: enquanto o Goldman amargava desvalorização de quase 8%, as ações do Morgan subiam mais de 6%.

Ainda assim, da mesma maneira como comentamos as dificuldades que ainda devem se impor nos resultados dos bancos que reportaram seus resultados na sexta-feira (13), também enxergamos pelo menos um primeiro semestre tortuoso para as duas instituições financeiras. 

Seguimos com visão negativa para as ações do Goldman Sachs (B3: GSGI34 | NYSE: GS) e do Morgan Stanley (B3: MSBR34 | NYSE: MS), esperando um melhor ponto de entrada para rever essa nossa posição.

Sobre o autor

Enzo Pacheco, CFA

Administrador pela Universidade Federal do Espírito Santo com pós-graduação em Operador de Mercado Financeiro pela FIA, Enzo Pacheco atua desde 2017 com análise de investimentos nos mercados internacionais. Hoje, é responsável pela série MoneyBets, voltada para os investidores brasileiros que querem expandir as fronteiras dos seus portfólios. Possui certificações CFA e CNPI.

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