Investimentos

Google (GOGL34) no 4T22: desaceleração, queda na rentabilidade e mudança inoportuna na política contábil

Nem mesmo o YouTube e o segmento de “search” conseguiram crescer no 4T22

Por Richard Carboni Camargo

03 fev 2023, 10:00 - atualizado em 03 fev 2023, 10:00

Sede do google
Imagem: Divulgação

O Google (Nasdaq: GOOGL | B3: GOGL34) divulgou na noite de quinta-feira (3) seus resultados referentes ao quarto trimestre de 2022 (4T22).

Apesar do embalo das ações, com alguns pregões eufóricos após a redução no ritmo de aumento de juros pelo Federal Reserve, os números do Google mostraram novamente uma desaceleração importante, uma queda na rentabilidade e uma novidade que os investidores nunca gostam de ouvir: mudanças na contabilidade.

No consolidado, a receita total foi de US$ 76 bilhões, um crescimento de apenas 1% na comparação anual e 7% em moeda constante. 

Até tu? “Search” do Google também apresenta queda

Nem mesmo a galinha dos ovos de ouro, o segmento de “search”, conseguiu preservar seu crescimento.

No trimestre, as receitas do segmento encolheram 1,6% na comparação anual, totalizando US$ 42,6 bilhões e representaram 56% das receitas totais. Esse valor é 1 ponto percentual menor que no trimestre imediatamente anterior.

Um ponto bastante enfatizado pelos executivos do Google são os constantes aprimoramentos no mecanismo e as crescentes modalidades de tipos de busca, além da sua subsequente monetização. Parece não haver limites para quantos mercados enormes a empresa é capaz de criar se aproveitando da sua escala e dominância.

YouTube registra queda pelo segundo trimestre seguido

No YouTube, as receitas somaram US$ 7,9 bilhões, uma queda de cerca de 7,7% na comparação. 

Esse foi o segundo trimestre consecutivo em que o Youtube apresentou queda nas receitas.

A elevada penetração do marketing de “branding” (não focado em conversão), além dos infoprodutos que vivem sua ressaca particular, fizeram do YouTube, mais uma vez, o símbolo da desaceleração dos resultados do Google.

Ainda sim, sempre gosto de lembrar, não dá para reclamar de um negócio que fatura US$ 7,9 bilhões em apenas 3 meses, num ambiente tão conturbado como o atual.

Google Cloud se aproxima da lucratividade

O Google Cloud, divisão de infraestrutura em nuvem da companhia, somou US$ 7,3 bilhões em receitas, crescimento de 31%, um ritmo bom, porém abaixo do esperado pelo mercado.

Olhando o copo meio cheio, depois de muitos anos, o Google Cloud está enfim se aproximando da lucratividade. 

No 4T22, o prejuízo operacional foi de US$ 480 milhões. Dentro de alguns poucos trimestres, no ritmo atual, o segmento deverá apresentar sua primeira margem positiva.

Empresa vê necessidade de se tornar mais enxuta; lucro operacional cai 17%

Considerados todos esses fatores, o lucro operacional foi de US$ 18,1 bilhões, uma queda de 17% na comparação anual. A margem operacional foi de 24%, ou 5 pontos percentuais menor que no 4T22.

Nos últimos meses, os executivos do Google têm falado abertamente sobre a necessidade da empresa se tornar mais enxuta, menos burocrática (pois é) e alocar recursos em apostas que realmente estejam ganhando tração.

Amparado pela desaceleração dos resultados, a empresa anunciou a demissão de 12 mil pessoas há algumas semanas, equivalentes a 6% do seu total de funcionários. Os custos esperados do programa de demissão devem alcançar os US$ 2,3 bilhões e serão reconhecidos no próximo resultado.

Por último, o Google anunciou alterações na sua política contábil, especialmente no período de amortização de parte dos servidores, cuja vida útil será estendida. 

Apesar de não ter efeito caixa, a mudança inflará em US$ 3,4 bilhões o resultado do Google em 2023.

Não preciso nem dizer que, dada a desaceleração geral do mercado, o momento não é exatamente propício para mudanças como essa.

Em respostas aos resultados, que ficaram abaixo do esperado mercado, as ações do Google caem mais de 5% no pregão noturno.

Negociado a cerca de 22 vezes os lucros estimados para os próximos 12 meses, já havíamos reduzido significativamente sua participação no portfólio do Investidor Internacional. Por mais que a conjuntura de curto prazo não seja muito animadora, o Google segue gerando muito caixa e é cada vez mais vocal em realizar recompras de ações.

Economista formado pela Universidade de São Paulo (FEA-USP), é analista de ações certificado pelo CNPI, especialista no setor de tecnologia, com foco em ações internacionais. Está na Empiricus há 5 anos, onde é responsável por relatórios nacionais e internacionais, como o MoneyBets Revolution, um portfólio de teses especulativas em segmentos como healthtech, energia sustentável, software e games. Antes da Empiricus, trabalhou por 5 anos no setor de tecnologia.