Investimentos

Há espaço para continuação da alta? Veja os destaques do mercado nesta quarta (11)

Dados de hoje, como índice de preços ao produtor e a ata do Fed nos EUA, e o IPCA de setembro no Brasil, podem consolidar tendência positiva do mercado

Por Matheus Spiess

11 out 2023, 09:05 - atualizado em 11 out 2023, 09:27

Imagem de um gráfico para representar os scalpers, investidores que assumem um alto risco no mercado em busca de lucros rápidos mercado.

Bom dia, pessoal. Às vésperas do feriado de Nossa Senhora, que resultará no fechamento do mercado aqui no Brasil amanhã, os investidores estão atentos à variedade de índices de preços ao redor do mundo. Nos últimos dois dias, membros do Federal Reserve dos EUA expressaram uma postura mais flexível e moderada, levando ao possível término do ciclo de aumento das taxas de juros pelo Fed. Diferentes fontes parecem convergir para uma visão mais unificada da autoridade monetária americana. A razão para isso é que o mercado ajustou as taxas para cima e espera menos ação do Fed. Os dados de hoje, incluindo a ata do Fed e o índice de preços ao produtor dos EUA, são cruciais para consolidar essa percepção, assim como o índice de preços ao consumidor americano programado para amanhã.

Refletindo os sinais amplamente positivos observados nos mercados globais durante o pregão de ontem, os mercados de ações na Ásia fecharam em sua maioria em alta nesta quarta-feira, uma vez que as preocupações em relação às perspectivas das taxas de juros diminuíram. Apesar das inquietações sobre o conflito contínuo entre Israel e o Hamas ainda afetarem o mercado, elas estão menos evidentes, pois a compreensão geral é de um conflito localizado e limitado à região. Na Europa, os mercados operam sem uma direção única nesta manhã, enquanto os futuros americanos apontam para uma alta. É improvável que os preços ao consumidor na Alemanha para setembro sejam revisados, mas merecem atenção, especialmente para verificarmos se os recentes aumentos nos preços do petróleo não afetaram os preços da gasolina tanto quanto o habitual.

A ver…

· 00:59 — E a inflação brasileira?

No cenário local, os investidores estão concentrados no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro, que pode reforçar a perspectiva de que a taxa básica de juros (Selic) pode continuar diminuindo, algo considerado apropriado. A expectativa é de um aumento de 0,32% no índice durante o mês, comparado ao aumento de 0,23% em agosto. Em relação aos últimos 12 meses, prevê-se um avanço de 5,25%, em comparação aos 4,61% de agosto. Já era previsto que haveria uma nova aceleração da inflação no segundo semestre, conforme já mencionamos anteriormente. O ponto de interesse é o impacto que esse movimento pode ter e se surpreenderá ou não a expectativa do mercado. Um dado abaixo do esperado deverá ter uma repercussão positiva nos ativos.

O alívio recente foi impulsionado pela considerável queda nos rendimentos dos títulos do Tesouro americano, que fortaleceu o real e impulsionou os mercados globais, incluindo o mercado brasileiro. Se essa tendência persistir, poderemos vislumbrar a tão desejada oportunidade para um rali no final do ano, especialmente se houver mais notícias sobre estímulos da China nas próximas semanas, como os pacotes anunciados recentemente.

Em Brasília, a tensão segue inalterada, com dificuldades para avançar na agenda econômica. Ganha força no Congresso e no Ministério da Economia a opção de implementar no Brasil um modelo semelhante ao europeu como alternativa ao fim da dedução dos Juros sobre Capital Próprio (JCP). Nesse contexto, uma solução intermediária em análise poderia ser a construção de algo mais próximo do ACE (sigla para ‘Allowance for Corporate Equity’).

· 01:55 — Um tom mais pacifista

Nos Estados Unidos, os mercados acionários voltaram a subir ontem, mesmo diante de várias razões para uma queda, incluindo a guerra no Oriente Médio, dados econômicos conflitantes e uma Câmara dos Representantes sem presidente. No entanto, uma reviravolta agradável aconteceu devido a uma queda nos rendimentos dos títulos do Tesouro, impulsionada por comentários menos agressivos dos membros do Federal Reserve, e também porque os investidores buscaram segurança nos títulos do Tesouro. Recentemente, o S&P 500 enfrentou uma série de perdas, caindo cerca de 5,5% nas três semanas anteriores até a quinta-feira passada. Apesar das manchetes negativas, o índice se recuperou desde então, subindo quase 3% em três sessões. O mesmo padrão se refletiu no Dow Jones Industrial Average e no Nasdaq Composite.

Em 3 de outubro, o rendimento dos títulos do Tesouro dos EUA de 10 anos atingiu 4,80%, seu nível mais alto desde 2007, enquanto o rendimento dos títulos de 2 anos foi de 5,15%. Desde então, o rendimento dos títulos de 10 anos caiu para 4,65% e o dos títulos de 2 anos para 4,98%. Rendimentos mais altos tornam as ações menos atraentes nas carteiras dos investidores, ao mesmo tempo em que aumentam os custos de empréstimos para empresas e consumidores. Isso é um componente essencial da estratégia do Federal Reserve contra a inflação. As condições financeiras mais restritivas desaceleram a economia, reduzindo a pressão sobre os preços. Em outras palavras, o movimento fez parte do trabalho do Fed, possibilitando o término do ciclo de aperto monetário, como indicado por membros da autoridade monetária.

O próximo grande influenciador de preços para os investidores chegará nesta quinta-feira com a divulgação do índice de preços ao consumidor de setembro. Em média, os economistas preveem aumentos de 0,3% tanto no índice principal quanto no núcleo, que exclui alimentos e energia. Isso resultaria em taxas anuais de inflação de 3,6% e 4,1%, respectivamente (menores do que as de agosto). Se os números da inflação superarem as expectativas, espera-se outro aumento nos rendimentos dos títulos e uma queda nas ações. Além disso, hoje temos a divulgação da ata da reunião de política monetária de meados de setembro do Comitê Federal de Mercado Aberto, bem como o índice de preços ao produtor de setembro (onde se prevê deflação).

· 02:42 — O sucessor de McCarthy

Este não é o momento ideal para a Câmara dos Representantes dos EUA ficar em um impasse. Hoje, está agendada a votação para a escolha de um novo presidente. A maior preocupação dos investidores é se o governo entrará em paralisação em 17 de novembro, algo que poderia ser evitado mesmo sem um novo presidente no cargo. O chamado “Grupo dos 8” que destituiu McCarthy (apelidado de “os 8 loucos”) pode ter pouco apoio interno no Partido Republicano, mas atualmente detém o controle do partido. Isso é negativo para a Ucrânia, a economia dos EUA e os aliados dos EUA, como Israel.

E qual é a mensagem para Moscou? É uma grande vitória para a Rússia. Vamos ser diretos: Putin é o grande beneficiário do desastre envolvendo Kevin McCarthy. O destino de McCarthy oferece uma lição para as democracias de todo o mundo que lidam com facções extremistas. McCarthy tentou apaziguá-los e fazer concessões na esperança de obter concordância. Mas não funcionou. Uma vez que a fera radical é alimentada, acaba por dominar, e é onde McCarthy e o Partido Republicano se encontram agora. Os democratas também não são inocentes. Nenhum democrata votou a favor de McCarthy, mostrando o típico oportunismo político.

Mas e agora, qual é o próximo passo? Os democratas podem ter discordado de McCarthy, mas pelo menos ele tentou colaborar com eles para garantir o acordo de financiamento no último fim de semana. A política envolve trabalhar com pessoas com as quais você discorda em prol de um bem maior. O progresso em uma democracia é como o movimento de um caranguejo, às vezes para a direita, às vezes para a esquerda, mas progredindo lentamente. Atualmente, isso parece estar estagnado.

· 03:37 — Perspectivas mundiais

As projeções econômicas globais do FMI já continham previsões desatualizadas antes mesmo de serem formalmente apresentadas. As recentes revisões de dados não foram consideradas, evidenciando um desafio crescente, dada a frequente revisão dos dados devido a mudanças estruturais. Ainda assim, o FMI aumentou sua previsão para a inflação global no próximo ano e instou os Bancos Centrais a manterem políticas rigorosas até que haja um alívio sustentado.

A projeção foi revisada para 5,8% em 2024, de acordo com o último relatório das Perspectivas Econômicas Mundiais divulgado ontem, superando os 5,2% registrados três meses atrás. Para a maioria dos países, prevê-se que a inflação permaneça acima das metas até 2025.

O fundo projeta um crescimento global de 2,9% para o próximo ano, uma queda de 0,1% em relação à estimativa de julho e abaixo da média de 3,8% das duas décadas anteriores à pandemia. A previsão para 2023 permanece inalterada em 3%. A economia global está enfrentando desafios e ainda não está ganhando impulso. 

Embora as perspectivas sejam modestas, elas são relativamente estáveis, e o FMI vê maiores chances de que os Bancos Centrais possam controlar a inflação sem levar o mundo a uma recessão.

· 04:24 — Os impactos do Ozempic

Os consumidores que optam pelo Walmart estão aparentemente adquirindo menos alimentos à medida que o uso de medicamentos para perda de peso, como o Ozempic da Novo Nordisk, se torna mais frequente, levando a Novo Nordisk a se tornar a empresa mais valiosa da Europa. O CEO do Walmart nos EUA, John Furner, observou uma pequena diminuição na cesta de compras em termos de itens adquiridos e calorias contidas neles, embora seja cedo para determinar completamente o impacto dos medicamentos.

O Walmart está monitorando padrões de venda utilizando dados anônimos de compradores para analisar as alterações nas compras entre aqueles que estão usando agonistas do GLP-1 e aqueles que não estão. O Walmart não está sozinho nesse acompanhamento do impacto desses medicamentos. Outras varejistas nos EUA, como a Kellanova, também estão avaliando o possível impacto em seus negócios e nos padrões de alimentação. Está emergindo uma nova dinâmica no consumo de alimentos.

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.