Investimentos

Hora de persistir e aproveitar oportunidades: “A Bolsa está barata, negocia a um P/L de 6,5 vezes, menor do que na era Dilma e na pandemia”, diz Felipe Miranda

Segundo CEO e estrategistas-chefe da Empiricus, quem puder atravessar a turbulência de curto prazo, ganhará dinheiro adiante

Por Daniela Rocha

09 maio 2022, 11:55 - atualizado em 19 fev 2024, 18:25

Imagem de uma pessoa do sexo masculino com a mão no queixo sobreposta aos gráficos em alusão à atenção dos investidores aos mercados internacionais
Reprodução: Shutterstock

As bolsas globais enfrentam um momento complexo e de intensa turbulência e, claro, o Brasil não segue ileso. 

Na semana passada, na Super Quarta, o presidente do Fed, Jerome Powell, fez um discurso mais brando descartando um aumento de 0,75 ponto percentual na taxa de juros na próxima reunião da autoridade monetária. A mensagem trouxe otimismo temporário, pois logo veio uma releitura dos agentes de mercado de que a realidade da pressão inflacionária exigirá ajustes fortes nos juros. 

Segundo Felipe Miranda, CEO e estrategista-chefe da Empiricus, a grande questão é como ficarão os juros na maior economia do mundo, sob o risco de possivelmente jogá-la em uma recessão. “Não adianta não ser agressivo no sentido de subir a taxa de juros, pois a inflação pode matar a renda das pessoas. E a inflação persiste de forma elevada e menos transitória porque as cadeias de suprimento globais continuam desorganizadas”, explicou o analista em live semanal no seu perfil no Instagram (ofelipe_miranda), neste domingo (8/05). 

Conforme ele, vigora o grande desafio do lado da oferta por conta dos lockdowns na China e da guerra entre Rússia e Ucrânia. Agora, já se fala que a Fed Funds Rate, poderá chegar a 4% ao ano ou mais. 

Portanto, está em curso uma mudança de paradigma: um cenário de juros globais mais elevados, o que afeta os ativos de risco de forma geral. 

“O mercado arbitra entre renda fixa e variável. Então, acontece o derating, os múltiplos têm que ser menores quando a taxa de juros sobe”, ressalta.  Desse modo, o cenário se torna bastante hostil para ações de companhias de tecnologia e casos de crescimento (growth), que ainda não dão resultados consistentes e que possuem fluxo de caixa em um futuro mais distante. Os investidores darão preferência a empresas de qualidade ou líderes nos seus setores, que tenham receitas e lucros no presente. 

O que fazer? Persistência e paciência em jogo

Segundo Felipe Miranda, os investidores devem ter consciência de que existe um período difícil de ajuste a se percorrer – não dá para ter ingenuidade e pensar que novas quedas não irão acontecer, porém, quem tiver resiliência e aproveitar ações descontadas poderá colher frutos adiante. 

“Temos a oportunidade de comprar em Bolsa a níveis absurdamente baratos. O Ibovespa negocia a um P/L (múltiplo preço sobre lucro) de 6,5 vezes, menor do que na era Dilma e que na fase crítica da pandemia”, diz. O momento pede cautela e boas escolhas dos investidores. “É hora de persistir, ter value, montar carteiras diversificadas e ‘shortear’ algumas coisas (contar com posições vendidas).” 

A carteira Oportunidades de Uma Vida que ele conduz possui posições short em Nubank (NUBR33) e em TC (Traders Club – TRAD3), pois se enquadram exatamente na categoria de empresas que não estão entregando agora e possuem fluxo de caixa muito lá na frente. Sendo assim, ao trazer a valor presente com taxa de juros elevada, impacta negativamente suas valuations. Ou seja, são companhias com possibilidade de sofrerem derating. Quanto ao Nubank, Felipe Miranda avalia que as ações podem cair ainda mais com o fim do período de lock-up, quando as negociações de parte dos papéis for liberada.  

Como não poderia faltar, resultados do 1T22 e tickers promissores

Para Felipe, o Bradesco (BBDC4) teve resultado positivo no 1T22 e ainda conseguiu realinhar o guidance (suas estimativas) de forma coerente. O banco registrou lucro líquido recorrente de R$ 6,821 bilhões, uma alta de 4,7% na comparação anual. 

“O resultado do Santander tinha vindo ruim e o mercado chegou a cogitar que seria assim com todo o setor, mas o Bradesco mostrou uma dinâmica diferente”, diz. Para Felipe Miranda, Bradesco está barato na Bolsa, conforme dois múltiplos: segue negociando com P/L de 6 vezes  e  apenas 1 vez o seu valor patrimonial – além disso, o cenário de alta de juros pode beneficiá-lo. 

O analista também ficou animado com o desempenho de Lojas Renner (LREN3) no primeiro trimestre. A varejista reverteu prejuízo do final do ano passado e teve lucro líquido de R$ 191,6 milhões. “Renner soltou um bom resultado, mostrando que tem diferenciação no varejo”, avalia. 

Quanto a BR Partners (BRBI11), banco de investimento independente, Felipe diz que a companhia está entregando, uma vez que apresenta crescimento anual de 30% nos lucros e sua ação prossegue negociando abaixo de seus pares internacionais – 10 vezes lucros contra 15 vezes lucros de boutiques de investimento estrangeiras. 

Ele analisou outras companhias, entre elas, Petz (PETZ3) e Direcional (DIRR3).

Para saber mais sobre o cenário macro e a Bolsa, vale a pena assistir ao vídeo completo: clique aqui.  

Sobre o autor

Daniela Rocha

Coordenadora de Conteúdo na Empiricus. Jornalista com MBA em Finanças na FIA. Atuou nas editorias de economia da TV Cultura e da Band e foi colaboradora do Valor Econômico, Exame e RI.