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Ibovespa volta a subir em meio a clima de flexibilização da taxa de juros nos EUA; veja os destaques desta quinta-feira (18)

Em clima de flexibilização das taxas de juros, a alta do dólar impulsionou o Ibovespa e bolsas nos EUA. Veja os destaques econômicos do dia.

Por Matheus Spiess

18 jul 2024, 09:15 - atualizado em 18 jul 2024, 09:15

wall street s&p 500 estados unidos eua
Imagem: Pexels

Bom dia, pessoal. O mercado internacional está passando por um momento de rotação setorial, um movimento que, embora não seja novo, está ganhando força.

Vários fatores contribuem para essa mudança, incluindo a busca por valor devido aos múltiplos elevados e a ampliação de uma recuperação inicialmente impulsionada por ações de tecnologia de grande capitalização de mercado.

A crescente discussão sobre cortes nas taxas pelo Federal Reserve (Fed) aumentou o entusiasmo em relação ao ambiente de crédito e crescimento para pequenas empresas, enquanto o “Trump Trade” colocou o foco em outras áreas do mercado que podem se beneficiar de uma nova presidência.

Como resultado, vimos o índice Dow Jones Industrial Average atingindo novos recordes, enquanto o Nasdaq passou por uma forte correção. O índice Russell 2000, que acompanha 2 mil ações de pequenas capitalizações dos Estados Unidos, disparou.

Uma rotação setorial pode ser saudável, especialmente para aqueles preocupados com o risco de concentração ou com múltiplos excessivamente elevados. Essa rotação pode também ajudar a sustentar a atual alta, baseada na tese de um “soft landing” e num ciclo de flexibilização do Fed, além de impulsionar setores que ainda não registraram uma valorização significativa este ano. Embora uma pausa possa ser justificada, não devemos subestimar o poder das teses de tecnologia, assim como o entusiasmo em torno da inteligência artificial e os lucros associados a ela.

Os futuros americanos continuam aprofundando o movimento de rotação nesta manhã, enquanto os mercados europeus sobem com a expectativa de que o BCE sinalize setembro como um mês provável para novos cortes nas taxas de juros.

Na Ásia, as ações tiveram um desempenho predominantemente negativo, devido às notícias de que os EUA consideram aplicar restrições mais severas se empresas de semicondutores continuarem fornecendo à China acesso à tecnologia avançada no setor.

A ver…

· 00:56 — Definindo o rumo

No Brasil, o Ibovespa registrou uma alta na quarta-feira (17), impulsionado pelo desempenho positivo das ações de bancos e empresas exportadoras, reflexo da valorização do dólar. As ações da Petrobras (PETR4) também contribuíram para a elevação do índice, beneficiadas pela alta nos preços do petróleo.

No entanto, o avanço do índice Ibovespa foi limitado pela queda das ações da Vale (VALE3), impactadas pela queda nos preços do minério de ferro, devido à expectativa de uma oferta global abundante das maiores empresas do setor e uma demanda enfraquecida da China. Além disso, houve decepção com o relatório de produção da empresa.

Neste contexto, hoje (18) os ministros da Junta de Execução Orçamentária (JEO) do governo Lula se reunirão para discutir o relatório bimestral de receitas e despesas, que será divulgado na próxima segunda-feira (22).

Há uma grande expectativa de que o corte de gastos anunciado por Haddad no início do mês seja concretizado, medida que gerou otimismo recentemente. Este encontro é visto como crucial.

Caso os cortes superem as expectativas, a tendência positiva observada nos últimos dias poderá ser mantida, marcando um momento decisivo para a economia brasileira.

· 01:47 — A rotação tem se provado uma tese acertada

Nos EUA, enquanto o Dow Jones Industrial Average atingiu um recorde histórico, o Nasdaq teve seu pior dia em quase dois anos.

Estamos no meio da temporada de divulgação dos resultados corporativos trimestrais, e as eleições americanas também têm influenciado significativamente os movimentos setoriais do mercado.

Notavelmente, houve uma valorização acentuada das small-caps, impulsionada pela redução das taxas de juros americanas (o diretor do Fed, Christopher Waller, indicando que um corte nas taxas está próximo) e pelos múltiplos historicamente atrativos.

O capital está migrando das “Big Techs” para as ações de small-caps e setores cíclicos. Esse tipo de realocação é comum após períodos de tendências acentuadas em uma única direção, como ocorreu com a valorização das Big Techs nos últimos meses, em detrimento de outros setores.

Ontem, em particular, esse movimento foi intensificado pela possibilidade de sanções no mercado de semicondutores e pelas críticas mais agressivas de Trump a algumas empresas do setor de tecnologia. Esse ajuste parece ser predominantemente técnico, mas não seria surpreendente se estivermos testemunhando o início de uma nova tendência no mercado.

· 02:32 — Trump 2.0: alguma mudança no Fed?

Durante a Convenção Nacional Republicana em curso, o ex-presidente Donald Trump concedeu uma entrevista à Bloomberg BusinessWeek que gerou bastante repercussão.

A conversa foi abrangente, com Trump afirmando que permitiria que o presidente do Fed, Jerome Powell, cumprisse seu mandato, que termina em 2026, apesar de ter alertado o banco central contra o corte das taxas antes das eleições de novembro. Trump acredita que tal medida poderia aumentar as chances dos democratas de conter uma grande vitória republicana no Congresso.

Resta saber se Trump pretende seguir o Projeto 2025 quando se trata de política monetária, especificamente.

Elaborado pela Heritage Foundation, o Projeto 2025 é um documento que visa servir de base para o próximo governo conservador nos EUA. É um material extenso, mas em um trecho específico propõe a restrição do mandato da Reserva Federal, que atualmente consiste em garantir a estabilidade de preços e o máximo de emprego, para se concentrar apenas no controle da inflação.

O grupo argumenta que o duplo mandato da Fed cria uma tendência inflacionária, exercendo pressão política sobre o banco central para financiar déficits governamentais e impulsionar artificialmente a economia. Francamente, não acredito que mexer no Fed deva ser prioridade.

· 03:25 — Sinalização europeia

A agenda do dia tem como destaque a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE). Espera-se que o BCE mantenha a taxa de juros de curto prazo inalterada em 3,75%, após ter reduzido 25 pontos-base no início de junho, marcando o primeiro corte nas taxas desde 2019. Até aqui, nenhuma surpresa.

Já discutimos anteriormente que as autoridades europeias fariam uma pausa neste momento antes de prosseguir com novos ajustes. O ponto de atenção agora é se eles irão sinalizar algum próximo passo.

Por isso, será crucial acompanhar a coletiva de imprensa de Christine Lagarde, presidente do BCE, para entender se a autoridade monetária pretende retomar o ciclo de cortes já na reunião de setembro, alinhando-se com a possível redução das taxas nos EUA.

· 04:11 — Problema no setor de semicondutores

Na mesma entrevista à Bloomberg BusinessWeek, Donald Trump abordou temas delicados, como a questão de Taiwan, sugerindo que a ilha deveria arcar com os custos de sua própria defesa. Esta declaração já gerou tensão no setor de semicondutores, afetando a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company, mas não foi a única fonte de preocupação.

As maiores empresas de tecnologia do mundo também foram prejudicadas quando surgiram notícias sobre a possibilidade de novas restrições mais rígidas dos EUA às vendas de chips para a China, o que desencadeou um profundo processo de venda na indústria.

Tal medida poderia representar esforços contínuos da administração Biden para isolar a China dos avanços na inteligência artificial, mas também poderia atrair medidas retaliatórias severas de Pequim, desencadeando uma nova guerra comercial entre as maiores economias do mundo.

Os fabricantes de chips em todo o mundo sofreram forte pressão.

As gigantes americanas Nvidia, AMD e Broadcom levaram um importante índice de semicondutores a cair quase 7%, a maior queda desde 2020. O S&P 500 também recuou, enquanto o Nasdaq 100 teve seu pior dia desde 2022. Esse movimento parece ter sido exacerbado por questões técnicas.

· 05:09 — O que fazer com as ações da TSM?

As ADRs da Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (NYSE: TSM), mais conhecida como TSMC, caíram significativamente para cerca de US$ 170 após declarações de Donald Trump sugerindo que Taiwan deveria financiar sua própria defesa. Essa afirmação também impactou outras ações do setor de semicondutores, devido ao receio de que uma vitória de Trump nas eleições possa comprometer as cadeias globais de abastecimento.

Diante desse cenário, surge a questão: após uma valorização de cerca de 70% desde nossa recomendação em janeiro deste ano, ainda vale a pena manter as ações da TSMC, considerando os riscos geopolíticos e a possibilidade de Trump vencer as eleições em novembro?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.