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Índice Dow Jones: por que marca histórica de 40 mil pontos não significa ‘muita coisa’?

Dada a formação diferente dos demais índices, pouco podemos extrair desse recorde de pontuação do Dow Jones. Entenda a alta recente.

Por Enzo Pacheco, CFA

21 maio 2024, 09:30 - atualizado em 21 maio 2024, 09:32

Índice Dow Jones DJI
Imagem: MoneyControl

A semana ficou marcada por mais uma nova marca histórica nos mercados internacionais. Pela primeira vez, o Dow Jones ultrapassou a marca dos 40 mil pontos. 

Isso pode até gerar boas manchetes nos jornais e portais de notícias. Mas a verdade é que, dada sua formação diferente dos demais índices, pouco podemos extrair desse evento. E, com o passar do tempo, a imposição matemática tornará novos feitos cada vez menos expressivos.

Índice Dow Jones é ‘mais atrasado’ que os demais para incorporar empresas da nova economia

Em relação à sua composição, é importante salientar que o Dow Jones é um índice baseado no preço de suas componentes. 

Além de dar um peso maior para empresas que nem sempre seriam a melhor representante do seu segmento — como no caso do Goldman Sachs, que corresponde a 7,6% do índice —, ele acaba tendo uma composição bem diferente que o S&P 500 e o Nasdaq.

Dentre as cinco maiores posições, apenas a Microsoft (B3: MSFT34 | Nasdaq: MSFT) está presente nos três índices.

Tabelas 1, 2 e 3. Dez maiores posições dos principais índices americanos | Fontes: SPDR, Invesco e Empiricus

Não quer dizer que o fato de não ter outras Big Techs como algumas das maiores posições seja errado. Só que demonstra que o índice é mais atrasado que os demais para incorporar empresas da nova economia.

E, às vezes, isso pode ser até utilizado como um sinal de atenção para o investidor. 

Caso o Dow Jones decida colocar alguma empresa nova na sua composição, poderíamos estar perto de uma realização significativa nos mercados — como se ele chegasse atrasado na festa, já naqueles momentos de grande euforia que precedem quedas importantes.

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Eventos com ações impactam indevidamente o índice

Sem falar que eventos como desdobramentos de ações também acabam tendo um impacto indevido no índice. Recentemente, o split nas ações do Walmart, na razão de 1 para 4, reduziram o peso da companhia de 3% para 1%.

Nada de fato mudou no valor de mercado, apenas a quantidade de ações disponíveis por um preço menor do que o anterior. Mas isso é o suficiente para alterar a participação da empresa no Dow Jones.

Provavelmente essa não foi a última marca histórica do Dow Jones

Já em relação ao nível em si, uma coisa é quase certa: veremos novas marcas serem batidas em prazos menores do que os anteriores.

Isso porque, para sair dos 10 mil para 20 mil pontos, estamos falando que o índice (uma média das ações que compõem) precisava valorizar 100%.

Só que para passar dos 20 mil para 30 mil, essa alta passou a ser de “apenas” 50%. E dos 30 mil para 40 mil, somente 33%.

Gráfico 1. Índice Dow Jones (em pontos), desde 1900 | Fontes: Bloomberg e Empiricus
Gráfico 1. Índice Dow Jones (em pontos), desde 1900 | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Dados de inflação divulgados influenciam o comportamento das Bolsas americanas

E boa parte das novas máximas dos mercados nesta semana — o S&P 500 ultrapassou pela primeira vez os 5.300 pontos — está relacionado com os dados de inflação divulgados no período.

Tabela 4. Indicadores de inflação divulgados na semana | Fontes: Bloomberg e Empiricus
Tabela 4. Indicadores de inflação divulgados na semana | Fontes: Bloomberg e Empiricus

Inicialmente houve preocupação com os números da inflação ao produtor (PPI, em inglês) divulgados na terça-feira. Tanto na leitura mensal como na anual, e considerando o dado cheio e seu núcleo (que exclui itens voláteis) vieram acima das expectativas dos investidores, mostrando uma aceleração em relação ao número do mês anterior.

Só que os dados de março foram revisados para baixo, inclusive indicando uma leve retração no mês, o que acabou compensando o número pior do que o esperado de abril.

Soma-se a isso o fato de que os dados da inflação ao consumidor (CPI) vieram melhores do que as projeções na leitura mensal (índice cheio).

Além disso, os outros dados, ainda que em linha, mostraram uma desaceleração em relação aos números anteriores. Isso aliviou o receio dos investidores de que poderíamos estar presenciando uma volta do aumento dos preços neste começo do ano.

Isso fez com que os juros retraíssem — o Treasury de 10 anos voltou para a casa dos 4,3%, após se aproximar dos 5% em meados de abril —, na expectativa de que o Federal Reserve não vai precisar aumentar ainda mais a sua taxa básica.

Entendo que para que Jerome Powell e seus comandados tivessem que usar essa cartada algo de muito ruim deveria acontecer nos índices de preços. Mesmo que tivessem vindo piores do que o esperado, a sinalização de um novo aumento seria muito negativa para os mercados.

Porém, isso não quer dizer que esteja tudo resolvido.

Inflação ainda precisa ‘comer muita poeira’ para convergir à meta

Ainda que muitos argumentem que é questão de tempo para a inflação chegar perto da meta de 2% do Fed, principalmente por conta da defasagem com os dados relacionados à moradia, o indicador segue rodando acima dos 3%.

E, para que a inflação volte para a meta, teria que apresentar uma variação mensal bem menor do que a atual.

Figura 1. Cenários para o CPI em novembro de 2024 | Fonte: Bank of America
Figura 1. Cenários para o CPI em novembro de 2024 | Fonte: Bank of America

Mesmo que a inflação volte a rodar em média em 0,2% ao mês, ainda assim estaríamos nos 3,1% no final do ano. Só se recuar para 0,1% ao mês é que teríamos um índice próximo dos 2%.

Contudo, me parece que para termos uma desaceleração significativa na inflação, teríamos que ter um impacto maior na economia. E isso não deveria ensejar revisões nos lucros das empresas para o resto do ano, como temos visto recentemente.

Dados recentes têm fortalecido a visão de possível corte de juros americanos em setembro

Na própria quarta-feira (15) tivemos um dado que foi lido como o velho “ruim mas bom”. 

As vendas no varejo vieram estáveis em comparação a março (0,0% vs. 0,4% esperado) e, quando excluído os gastos com combustíveis e veículos, tivemos retração (-0,1% vs 0,2%).

E os dados do mês de março também foram revisados para baixo: o indicador cheio passou dos 0,7% para 0,6%, e o ex-combustível e veículos passou dos 1% para 0,7%.

A junção desses dados fortaleceu a visão de um possível corte de juros na reunião de setembro. 

Figura 2. Probabilidades para o intervalo da Fed Funds Rates na reunião de setembro | Fonte: CME FedWatch Tool

Mesmo que o Fed venha a cortar os juros daqui a quatro meses, entendo que o foco do mercado deveria estar agora no patamar em que a taxa básica deva ficar nos próximos anos.

Isso porque, se os cortes em 2024 devem ser menores do que a própria instituição previa no começo do ano (inicialmente prevendo três reduções), entendo que os cortes também sejam revistos para 2025 em diante. A não ser que tenhamos algum problema que ensejaria uma atuação mais firme do Fed.

Sobre o autor

Enzo Pacheco, CFA

Administrador pela Universidade Federal do Espírito Santo com pós-graduação em Operador de Mercado Financeiro pela FIA, Enzo Pacheco atua desde 2017 com análise de investimentos nos mercados internacionais. Hoje, é responsável pela série MoneyBets, voltada para os investidores brasileiros que querem expandir as fronteiras dos seus portfólios. Possui certificações CFA e CNPI.

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