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Início da temporada de resultados nos EUA e expectativas de inflação; veja os destaques desta sexta (12)

Mercados europeus apresentam ganhos nesta manhã, enquanto futuros dos EUA mostram-se sem direção definida

Por Matheus Spiess

12 abr 2024, 09:19 - atualizado em 12 abr 2024, 09:19

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Bom dia, pessoal. O papel dos banqueiros centrais tornou-se particularmente desafiador no cenário pós-pandêmico. Apesar dos esforços recentes de aperto monetário, sem precedentes em sua severidade para algumas regiões, a economia global continua demonstrando uma resiliência surpreendente, e a inflação persiste em níveis elevados. Isso coloca os formuladores de política monetária em uma posição delicada, tendo que ponderar sobre a possibilidade e o timing de redução das taxas de juros, uma questão que tem sido central nas discussões de mercado. O segundo trimestre será decisivo para ajustar nossas expectativas em relação às direções que as políticas monetárias tomarão, e se essas mudanças poderão impulsionar os ativos de risco.

Neste contexto, os mercados de ações na Ásia tiveram uma performance mista nesta sexta-feira, parcialmente influenciados pelo avanço nas ações de tecnologia nos EUA que ajudou a recuperar as perdas do dia anterior. Notavelmente, os mercados asiáticos têm mostrado uma resiliência impressionante, apesar de um dólar americano mais forte e os desafios deflacionários enfrentados pela China. Enquanto isso, os mercados europeus apresentam ganhos nesta manhã, e os futuros dos EUA mostram-se sem uma única direção. A agenda econômica nos Estados Unidos incluirá a divulgação das expectativas de inflação dos consumidores, além do início da temporada de resultados financeiros. Entre as commodities, observamos uma alta nesta manhã, com o petróleo acima dos US$ 90 por barril e o minério de ferro superando os US$ 100 por tonelada.

A ver…

· 00:57 — Qual a Selic terminal?

No Brasil, o Ibovespa experimentou uma queda ontem, encerrando o dia a 127.396 pontos, em contraste com os ganhos observados nas bolsas de Nova York. Este movimento reflete a contínua análise dos investidores sobre as futuras direções da política monetária do Federal Reserve e suas repercussões nos mercados globais, inclusive para o Banco Central do Brasil. A Petrobras foi um dos destaques negativos, oscilando em resposta às flutuações no preço do petróleo, apesar de recentemente ter se alinhado mais estreitamente com a tendência de alta do mercado de commodities. A empresa enfrenta novos desafios, como a recente suspensão judicial do presidente do seu conselho de administração, uma indicação de Silveira, marcando outra derrota para a ala política, mas também complicando a distribuição de dividendos extraordinários (estamos às vésperas da reunião que deveria deliberar sobre o tema).

No campo dos indicadores econômicos, a agenda de hoje destaca o volume de serviços referente a fevereiro. Um resultado robusto, semelhante ao desempenho positivo observado recentemente no varejo, poderia fortalecer a expectativa de uma desaceleração no ritmo de corte da Selic. O mercado espera uma quarta melhora consecutiva, antecipando um crescimento de 0,2% na comparação mensal. Esse vigor na atividade econômica pode sinalizar uma surpresa positiva no crescimento do PIB deste ano, o que seria favorável à arrecadação tributária, mas potencialmente desfavorável para o controle da inflação. Neste cenário, o debate se acirra entre os benefícios de um aumento na renda disponível das famílias, impulsionado pelo emprego formal e pela elevação dos salários reais, e os desafios inflacionários que isso representa para a inflação, o que pode elevar a projeção da Selic terminal neste ciclo afrouxamento monetário. Quem via 8,5% já foi para 9% e quem via 9% foi para 9,5%.

· 01:45 — A expectativa de inflação

Nos Estados Unidos, o índice de preços ao produtor de março, divulgado ontem, veio abaixo das expectativas. O indicador subiu apenas 0,2% em relação a fevereiro, contra a previsão de 0,3% dos economistas. Esse resultado ajudou ontem as empresas mais sensíveis à variação dos juros, como as do setor de tecnologia. No entanto, não foi suficiente para impulsionar os mercados globais, que permanecem preocupados com a falta de clareza sobre o início dos cortes nos juros nos EUA. O Federal Reserve, por sua vez, dá mais atenção a outra métrica de inflação, o índice central de preços das despesas de consumo pessoal, que mescla elementos dos índices de preços ao consumidor e ao produtor, e geralmente apresenta valores intermediários entre esses dois indicadores. O dado deverá ser divulgado nas próximas semanas.

A agenda econômica inclui ainda a temporada de resultados trimestrais, que detalharei a seguir, e a divulgação pelo Instituto de Pesquisas da Universidade de Michigan do Índice de Sentimento do Consumidor. As projeções apontam para um índice de 78,7 pontos, ligeiramente inferior ao anterior. O valor de 79,4 registrado em março foi o mais alto desde julho de 2021, refletindo o impacto de uma economia robusta e uma inflação contida no ânimo dos consumidores, embora ainda partindo de patamares baixos. Paralelamente, será divulgada a expectativa de inflação dos consumidores, um indicador chave que influencia as decisões de consumo no curto e médio prazo, dependendo das expectativas inflacionárias futuras (as pessoas decidem se consomem mais hoje ou poupam a depender do que esperam da inflação).

· 02:33 — Já estamos em outra temporada de resultados

Hoje teremos o início da temporada de resultados do primeiro trimestre de 2024 nos Estados Unidos, com a divulgação dos números de grandes instituições financeiras como BlackRock, Citigroup, JPMorgan Chase, State Street e Wells Fargo. Este período é crucial, pois os investidores estão particularmente focados nas perspectivas dos executivos bancários sobre temas como empréstimos, crédito ao consumidor e demanda empresarial, em um cenário de mercado de trabalho mais robusto do que previsto e persistência de altos preços. As expectativas de lucro para este trimestre são moderadas: das 112 empresas do S&P 500 que divulgaram suas projeções, 79 apresentaram previsões negativas para o lucro por ação, enquanto 33 foram positivas.

O JPMorgan, sendo o maior banco do país, é visto como um barômetro da saúde econômica, e há grande expectativa para as declarações de seu CEO, Jamie Dimon, sobre o clima econômico atual. O banco viu um aumento nas atividades de negociação no primeiro trimestre, e os analistas também estão atentos às suas previsões para a margem financeira em 2024. Por outro lado, o Citigroup está passando por uma grande reestruturação, se desfazendo de alguns de seus negócios internacionais, o que pode resultar em um trimestre movimentado devido aos custos associados a essas mudanças. Vale a pena observar as declarações do Wells Fargo sobre questões de inadimplência e o mercado imobiliário, assim como os comentários de Goldman Sachs e Morgan Stanley sobre o mercado de banco de investimentos, incluindo fusões e aquisições e ofertas públicas iniciais.

· 03:29 — Sem fazer nada por enquanto

O Banco Central Europeu (BCE) está cada vez mais próximo de reduzir as taxas de juro, enquanto o Federal Reserve dos EUA estende seu calendário de política monetária. Na última reunião do BCE, realizada nesta quinta-feira, percebeu-se que cinco membros do Conselho demoraram mais do que outros para se convencerem a manter as taxas inalteradas. Inicialmente, havia um forte apoio para começar a reduzir os custos dos empréstimos imediatamente, mas a maioria decidiu por estabelecer junho como o momento para iniciar a flexibilização.

Prevê-se que a primeira etapa do ciclo de cortes do BCE possa reduzir a taxa de depósito em até 100 pontos-base a partir do atual nível recorde de 4%. O timing exato desses cortes ainda é incerto. Durante a coletiva de imprensa após a reunião, Christine Lagarde, presidente do BCE, não ofereceu novas informações além do que os mercados já esperavam. A direção, no entanto, está clara: os cortes nas taxas estão a caminho e podem ocorrer antes mesmo de serem implementados nos EUA, marcando um passo inicial crucial para a redução de juros nos países desenvolvidos.

· 04:11 — Excesso de capacidade

A capacidade industrial excessiva da China foi um ponto chave tanto na recente conversa telefônica entre o Presidente Biden e Xi Jinping, quanto na visita da Secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, à China. Washington sustenta que, apesar da China representar um terço da produção industrial global, ela responde por apenas um sexto do consumo mundial. Esse desequilíbrio resulta em empresas chinesas — muitas das quais são fortemente subsidiadas ou estatais — saturando os mercados ocidentais e globais com produtos de baixo custo, especialmente em áreas críticas como veículos elétricos, baterias e energia solar fotovoltaica. Embora isso beneficie consumidores globalmente através da redução de custos e da promoção de energias renováveis, também prejudica os fabricantes americanos, que são menos competitivos. No Brasil, esse impacto é notório no setor siderúrgico.

Paradoxalmente, enquanto os EUA e a Europa criticam a China por tornar a transição energética mais acessível, também a repreendem por não fazer o suficiente para descarbonizar sua economia. Essa contradição é claramente percebida pelos chineses e por muitos no Sul Global. Sob o ponto de vista de Washington, a superprodução chinesa é uma falha crítica de sua política industrial, exacerbada pela relutância de Xi em estimular o consumo interno. Em um ano eleitoral, espera-se que os Democratas imponham algumas barreiras ao acesso ao mercado antes de novembro, possivelmente através de impostos sobre a indústria siderúrgica chinesa, investigações sobre segurança dos dados em veículos elétricos chineses, e um reajuste das tarifas da era Trump sobre outras importações. Essa tendência sugere uma continuação ou intensificação das restrições comerciais, especialmente se Trump reassumir a presidência.

· 05:06 — Os nomes do segmento de semicondutores

Após enfrentar uma série de reveses e decepções, a Intel introduziu uma versão aprimorada de seu chip de inteligência artificial, visando competir com a Nvidia, gigante no segmento de rápido crescimento dos semicondutores. O novo processador, chamado Gaudi 3, será disponibilizado comercialmente no terceiro trimestre. Esse chip foi especialmente desenvolvido para otimizar o desempenho em duas áreas vitais: o treinamento de sistemas de IA e a execução de softwares desenvolvidos.

A alta demanda por capacidades avançadas de IA impulsionou a corrida por esses chips aceleradores, beneficiando principalmente a Nvidia, cujo acelerador H100 tem contribuído significativamente para o seu sucesso financeiro, dobrando suas receitas e valorizando sua avaliação de mercado para mais de 2 trilhões de dólares. Diante deste cenário, as versões anteriores do Gaudi da Intel não atingiram as expectativas de ganho de mercado, e suas ações sofreram uma queda de mais de 18% só em 2024. O desafio de enfrentar a Nvidia promete ser árduo, razão pela qual, por enquanto, prefiro manter distância da Intel.

Enquanto isso, a Microsoft planeja investir US$ 2,9 bilhões ao longo dos próximos dois anos para expandir sua infraestrutura de computação em nuvem e inteligência artificial em hiperescala no Japão, o que representa o maior investimento da empresa naquele país até o momento. O anúncio ocorreu nesta semana em Washington, após uma reunião entre Brad Smith, presidente da Microsoft, e o primeiro-ministro japonês Fumio Kishida, que está nos EUA para sua primeira visita oficial em nove anos.

Este contexto ressalta a oportunidade de investir em…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.