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Com excelente capilaridade e capacidade de adaptação, Intelbras (INTB3) é recomendada por Felipe Miranda; entenda a tese

A ação de Intelbras acaba de integrar a lista de recomendações de Felipe Miranda, estrategista-chefe da Empiricus Research. Entenda a tese.

Por Nicole Vasselai

14 jun 2023, 13:02 - atualizado em 14 jun 2023, 13:40

Intelbras (INTB3)
Imagem: Divulgação/Intelbras

A Intelbras (INTB3), companhia focada em soluções de Segurança, Comunicação e Energia para empresas, acaba de integrar a lista de ações recomendadas por Felipe Miranda, sócio-fundador e estrategista-chefe da Empiricus Research. Para o analista, o papel não acompanhou a alta do mercado e agora tem espaço para subir.

Enquanto o Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa, valoriza mais de 11% no ano, INTB3 cai em torno de 4,5% desde o início de 2023.

“Hoje, a empresa é pioneira em várias linhas de negócio, com desenvolvimento de produtos próprios e está exposta a segmentos que só tendem a crescer. Além disso, gostamos muito da capilaridade da companhia e da sua capacidade de se reinventar”, destaca Felipe.

Para entendermos melhor a tese de investimento em Intelbras, é importante primeiro saber em quais ramos ela atua e quais seus diferenciais.

O que exatamente a Intelbras faz?

A Intelbras foi criada em 1976 pelo Grupo Diomício Freitas e inicialmente focada em soluções de telecomunicações e comunicação para empresas. Segundo explica Felipe, a companhia teve de evoluir bastante ao longo dos anos para acompanhar as mudanças neste mercado.

No final da década de 90, o Brasil passou pela privatização das teles e, como consequência, a Intelbras estava mais bem posicionada para entrar em 2000 como líder desses produtos, ultrapassando as estrangeiras que atuavam no país à época.

Em 2007, a companhia entrou no segmento de segurança eletrônica e redes – até então, o Brasil não possuía uma marca de segurança eletrônica; em 2013, no ramo de prevenção de incêndios e controle de acessos. Assim, começam a desenhar um portfólio bem mais amplo, com cerca de 60 categorias de produtos.

“Uma coisa interessante é que os produtos ofertados hoje se relacionam e possibilitam ao revendedor a apresentação de uma solução única, uma robustez de uma marca conhecida por trás – desenvolve um percentual grande dos produtos que comercializa, sendo que alguns são desenvolvidos com parceiros lá fora (o foco é Brasil, sendo que exportações contam por menos de 1% da receita). Com essa estrutura robusta, 80% das vendas são por meio de canais que só vendem Intelbras”, explica o estrategista-chefe.

As diferentes linhas de negócio

A Intelbras atua em três linhas principais de negócio: Segurança, Comunicação e Energia. 

Atualmente, o segmento de segurança é o mais relevante com 52% da receita. Nesse segmento, a companhia fornece soluções de monitoramento, alarmes e controle de acesso. Os clientes são em sua grande maioria empresas, condomínios e residências. 

Além disso, a companhia conseguiu expandir sua participação em soluções para comunicação depois de identificar oportunidades em mercados conexos.

“Sistemas de segurança robustos necessitam de sistemas de redes robustos — roteadores, switches e até racks de data centers. Depois de identificar espaço para crescer no ramo, a companhia avançou nessa seara também, e hoje as receitas de Comunicação (divisão que abrange redes e soluções telecom que já existiam) representam 30% do total”, explica Felipe.

Da mesma forma, o analista-chefe conta, a companhia identificou potencial de preencher lacunas em soluções de baterias e nobreaks, importantes para apoiar os sistemas de redes e segurança.

Entrando de cabeça no segmento de Energia

Além dos ramos citados, a empresa também está dando os primeiros passos no segmento de geração emergia solar, principalmente inversores e módulos fotovoltaicos. Em 2021, o segmento de Energia teve 18% de participação. 

“Apesar de pequeno, esse segmento é o que carrega o maior potencial. Não só pelo market share ainda reduzido da companhia, mas pelo crescimento que temos visto do mercado de energia solar no Brasil nos últimos anos”, afirma Felipe.

O analista lembra que, embora essa já fosse uma tendência, acabou ganhando força depois da pandemia, com a intensificação da pauta ESG, o encarecimento na conta de luz do brasileiro e a popularização do mercado de geração distribuída. Segundo o Plano Decenal de Energia, a geração de energia solar será quase quatro vezes maior em 2030. 

“A recente compra da Renovigi, especializada em produção de painéis fotovoltaicos e acessórios e segunda colocada na lista Top of Mind do setor, deixa claros os planos da companhia”, exemplifica. A aquisição foi de R$ 334 milhões, a maior da história da Intelbras. 

Por que investir em Intelbras?

Diante do escopo da empresa, o analista destaca alguns diferenciais:

  • Capacidade de adaptação às mudanças, como a estruturação do negócio atual entre a década de 1990 e os anos 2000;
  • Abertura para inovação (o desenvolvimento de produtos);
  • Espaço para M&As (fusões e aquisições) que adicionam valor ao negócio e correlacionados à atividade principal

“Em partes, essa combinação explica a evolução das receitas nos últimos dez anos [como mostra o gráfico a seguir]”, comenta Felipe.

Receita líquida versus margem bruta de Intelbras de 2014 a 2024.
Receita líquida versus margem bruta de Intelbras de 2014 a 2024.

“Em relação à inovação, cerca de 70% da receita é proveniente de produtos criados pela própria Intelbras. Grande parte dos componentes são importantes, já que o Brasil não produz componentes eletrônicos com a qualidade almejada pela Intelbras”.

O estrategista-chefe também conta que em torno de 80% do custo da companhia é vinculado ao dólar, mas que o mercado já entende o vínculo dos componentes eletrônicos com a exposição cambial, até pelo fato de todos os concorrentes também operarem assim. “Inclusive, a apreciação do real ao longo dos últimos meses foi positiva para a empresa”.

No entanto, para Felipe Miranda, dentre todos os diferenciais em relação à concorrência, o principal é a capilaridade de Intelbras no país.

Com 370 distribuidores (dos quais 85% exclusivos) espalhados pelo Brasil e 80 mil revendedores (especializados), os produtos Intelbras estão disponíveis em cerca de 98% dos municípios brasileiros – em termos de operação, montam em Manaus e vendem por meio de distribuidores.

Outro ponto que joga a favor da companhia, segundo o analista, é a janela para repasse de preços, que ajuda a blindar a empresa da inflação.

O sistema a que se refere funciona da seguinte forma: a distribuição recebe uma tabela de preço que é válida por um mês, na qual temos um preço de compra (todos compram no mesmo preço), um preço sugerido de distribuição (ele só pode vender no preço sugerido para cima, podendo agregar outros serviços para que a revenda compre com ele) e um preço sugerido ao consumidor final (neste preço, a revenda tem autonomia para vender por quanto ela quiser).

“Numa dinâmica de repasse de preços, a inflação pode ser levada ao consumidor final, como aconteceu nos últimos dois anos e o mercado absorveu bem”, afirma Felipe.

A companhia ainda conta com amplos programas de treinamento, preços competitivos e um pós-venda, na opinião do analista, muito mais confiável e presente do que o de boa parte das concorrentes gringas: “Isso se traduz em maior recorrência de vendas e maior satisfação de vendedores e clientes. Não à toa, recentemente a empresa reportou que tem tido sucesso em ‘roubar’ distribuidores e vendedores de seus concorrentes. Tudo isso se traduz em maiores barreiras de entrada”, conclui.

Resultados consistentes

Esses fatores considerados positivos têm se refletido também em Ebitda e lucros crescentes, além de uma margem saudável mesmo depois do aumento de capital por conta do IPO, com o qual levantou cerca de R$ 700 milhões com planos de fazer aquisições (crescimento inorgânico) e investir em uma nova frente de aluguel de equipamentos (hardware as a service), que deverá “aumentar a recorrência de receitas e aumentar a força de vendas no segmento de varejo”, nas palavras de Felipe Miranda. 

O analista-chefe destaca que todas essas avenidas de crescimento ainda devem continuar exigindo aportes e reinvestimento do caixa gerado pelas operações, o que limita a distribuição de proventos para os acionistas no curto prazo. 

“Mesmo assim, vale notar como a geração operacional de caixa mesmo antes dessas novas frentes já se mostrava bastante saudável, um ótimo sinal para quem está de olho na capacidade de distribuição de proventos lá na frente”.

Por outro lado, Felipe busca tranquilizar o investidor em relação à queda verificada nos trimestres entre 2021 e 2022 e explica que está relacionada com o aumento de estoques para reduzir o risco de desabastecimento por conta da pandemia. 

“Além de ter sido uma decisão acertada diante de todos os problemas que temos visto na cadeia global de suprimentos, essa situação deve se normalizar ao longo dos próximos trimestres”.

Há riscos?

Segundo Felipe, sim, mas são riscos controlados. “É importante destacar que a necessidade de reinvestimentos e estocagem levou a Intelbras a pagar poucos proventos nos últimos anos. Não são rendimentos vistosos ainda, mas com grande potencial de crescimento pela frente, dado todo o pipeline de projetos, a boa geração de caixa operacional e a resiliência dos segmentos nos quais a companhia já atua”.

Ele também menciona os benefícios fiscais, que hoje representam cerca de 9% da receita da companhia.

“Não deixa de ser um risco para a tese, mas cerca de metade desses benefícios (os provenientes da Zona Franca de Manaus) já foram renovados até 2073, e o restante está relacionado com benefícios concedidos a montadores de produtos eletrônicos, cruciais para a competitividade dos produtores locais frente aos concorrentes asiáticos e improváveis de serem retirados neste momento”, esclarece.

Ainda assim, o analista-chefe garante que a Empiricus Research continuará atenta a esses fatores.

Intelbras fora do risco do ciclo imobiliário

Um ponto interessante a se notar é que, apesar de na teoria as vendas aparentarem estar diretamente relacionadas com o ciclo imobiliário (controle de acesso, portarias, monitoramento e afins), a verdade é que na última crise econômica as vendas da companhia se mantiveram estáveis, mesmo com o setor imobiliário afundando.

Todas as unidades de negócio projetam crescimento para os próximos 5 anos – querem crescer pelo menos 20% ao ano (inflação + 9% é a base).

“Fica visível mais uma vez a importância da capacidade de inovação e da força de vendas da companhia, já que mesmo portarias antigas precisam atualizar seus sistemas de segurança, por exemplo”, afirma Felipe.

E é também por isso que o analista não vê com grande preocupação uma eventual desaceleração do mercado imobiliário por conta dos juros elevados, uma vez que os juros devem começar a cair: “Em tese, mercado imobiliário fraco deveria ser ruim para o business de segurança (menos prédio sendo construído), mas não é o caso na prática, uma vez que o negócio tem crescido apesar do contexto desafiador (provavelmente tem relação com o aumento do número de violência, que impulsiona procura por equipamento de segurança, e da demanda por eficiência tecnológica)”.

Quanto vale INTB3?

A Intelbras negocia com um desconto de cerca de 18% para a mediana de pares em países emergentes na relação preço sobre lucro projetado para os próximos 12 meses e 10% na razão Valor da Firma sobre o Ebitda para os próximos 12 meses.

Para além dessa comparação, Felipe avalia também o histórico relativo de valuation da companhia consigo mesma, a ser observado abaixo: “Vemos que a companhia negocia um desvio padrão abaixo de sua média histórica dos últimos 24 meses para P/E e EV/Ebitda para os próximos 12 meses”.

Os fatores abordados, combinados com um múltiplo interessante para 2023 e 2024, fazem da Intelbras (INTB3), que ficou para trás no movimento de alta do mercado local até aqui, a mais nova tese da Empiricus Research.

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.