Acompanhamos o 13o encontro com investidores da Arezzo &Co (ARZZ3), realizado na Estação AnaCapri (Rua Oscar Freire, São Paulo), a nova sede da marca que será o foco expansão orgânica em 2024. Saímos do evento com uma perspectiva melhor para a companhia, que deve continuar crescendo fortemente, tanto orgânica quanto inorganicamente (há a possibilidade de um novo licenciamento de marca, assim como foi com a Vans em 2019).
Ademais, o foco em rentabilidade será ainda mais forte no ano que vem, o que vemos como positivo para o acionista. Atualizamos as nossas projeções, inclusive considerando a limitação parcial das subvenções de ICMS, levando o preço-alvo para R$ 100, versus R$ 95 anteriormente (upside potencial de 56%).
Checando a execução de Arezzo em 2023
A companhia executou fielmente o plano apresentado no Arezzo &Co Day do ano passado: consolidação da presença em vestuário, principalmente via AR&CO (Reserva e marcas correlatas), e continuidade do ganho de mercado em acessórios (que saiu de 35% para 38%), com a abertura de 50 lojas em 2023. Além disso, houve duas aquisições: a Vicenza, marca gaúcha de calçados femininos, e a Paris Texas, marca europeia de calçados.
Como elemento inesperado, a companhia executou uma racionalização do seu portfólio, com a descontinuação de marcas voltadas para a classe B-, em especial a MyShoes, o que enxergamos como positivo, já que potencializou os ganhos de rentabilidade ao longo do ano (apesar da perda de volume no curtíssimo prazo).
Para o 4T23, os executivos sinalizaram uma boa performance: a Arezzo &Co teve o seu melhor Black Friday da história, com um crescimento de 23% das vendas na visão anual. Por isso, esperamos um último trimestre com forte crescimento de receita e ganhos de rentabilidade adicionais pela diluição das despesas. Além disso, esperamos um ganho de capital de giro, com melhoria do prazo de pagamentos a fornecedores.
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O plano estratégico de Arezzo para 2024
A companhia já possui uma participação de mercado elevada em acessórios, mas uma presença ainda baixa em vestuário, considerando somente o seu público-alvo, das classes A e B. Nesse cenário, ainda assim, há uma oportunidade de expansão em acessórios, mas agora com foco em cidades menores. Na frente de vestuário, o potencial é maior, já que a participação de mercado é baixa, tanto em moda masculina quanto, principalmente, feminina.
Participação de mercado por categoria nas Classes A e B
Para ganho de mercado em acessórios, a Anacapri será a principal marca de ataque, concentrando metade das 80 aberturas de lojas previstas para 2024. A marca ainda tem uma baixa participação de mercado: 6%, contra 18% da Arezzo, por exemplo. Sua expansão será focada em cidades com menos de 100 mil habitantes, com lojas de rua e de menor metragem, o que traz vantagens significativas pelo menor investimento inicial e implantação mais rápida.
A segunda marca de ataque em acessórios será a Arezzo, o berço do grupo e que focará na revitalização da rede de franquias, com reformas custeadas em conjunto pela companhia e pelos franqueados. Em termos de categorias, a principal avenida de crescimento para a marca está nas bolsas, já que a relevância em calçados é grande.
Já em vestuário, a grande oportunidade de crescimento, o foco será na divisão AR&CO, já que a linha de vestuário da Schutz, lançada em 2023, não rendeu os resultados esperados. A A&CO tem, hoje, um grande portfólio de marcas: Reserva, ReservaGo, ReservaMini, Reversa, Oficina Reversa, Ink, Reserva Simples e Baw. Na já tradicional Reserva, a expansão estará centrada nos planos de assinatura (Reserva Prime) e na linha Reserva Praia, com abertura de lojas em hotéis, cidades balneárias e aeroportos. Além disso, a companhia pretende avançar na abertura de lojas da Oficina Reserva, de peças mais sociais e sofisticadas, com foco em lojas próprias, e-commerce e multimarcas. Por fim, a Reserva Simples, de roupas básicas, terá expansão focada na região Sudeste, por meio de lojas próprias e, posteriormente, franquias.
Plano de expansão da Reserva Simples
Pensando em crescimento inorgânico, o modelo de licenciamento será importante em 2024. O caso da Vans, marca americana de calçados que a companhia licenciou para o Brasil em 2019, foi um sucesso: desde que a Arezzo &Co passou a operar a bandeira no país, suas receitas cresceram mais de 300%, alavancando o engajamento da companhia com os públicos A e B, a expertise em canais e a eficiência em cadeia de suprimentos. Com os aprendizados dessa experiência, e aproveitando o apetite de marcas internacionais para o público consumidor brasileiro, os executivos sinalizaram que podemos ter novidades nesse sentido em breve. Em havendo, seria um upside não precificado, na nossa opinião.
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Ademais, como parte do plano para o próximo ano, o foco em rentabilidade, eficiência operacional e geração de caixa será ainda maior. Nesse sentido, a companhia não colocou a operação internacional como grande destaque de crescimento, justamente pela priorização de rentabilidade. A Arezzo &Co International foi um detrator de margem ao longo de 2023, e a companhia pretende reverter esse quadro, mirando em um breakeven em 2024. Enxergamos isso como positivo: esse canal precisa ser rentável antes de ganhar escala. Para tal, o foco continuará em distribuição via lojas de departamento e e-commerce, ambos com custos fixos baixos.
A companhia retirou o “bode da sala” ao abordar as mudanças tributárias em discussão, e o cenário nos parece melhor que o mercado precifica. Em relação ao JCP, o Congresso Nacional caminha para uma proposta de limitação do benefício a 50% do lucro líquido; nesse cenário, o grupo não seria impactado, já que não chega a distribuir metade do seu lucro na forma de JCP. Já na questão da economia de IRPJ/CSLL advinda dos benefícios do ICMS, tratada na MP das Subvenções, estimamos um impacto reduzido: a companhia entende que o seu benefício já tem um arcabouço jurídico forte, por ter sido validado pelo STJ. Nesse caso, o entendimento é de que somente uma emenda constitucional ou uma decisão do STF poderiam retirar esse benefício.
Sendo assim, esperamos um 2024 com bastante crescimento de vendas a preço cheio, sendo esse o principal direcionador de receita – não deveríamos esperar grande crescimento de volume. Por esse motivo, assim como pelo foco em eficiência, a rentabilidade deveria ter uma melhoria expressiva, implicando um lucro líquido de ~R$ 500 milhões nas nossas projeções, já assumindo a limitação parcial do JCP e a perda parcial do benefício de IRPJ/CSLL sobre os créditos de ICMS. Por fim, um capex menor culmina em um ano de forte geração de caixa para os acionistas, com a possibilidade de aumento de payout – um ponto sinalizado pela gestão durante o evento.
Revisitando o valuation de ARZZ3
Com as premissas descritas acima, e ainda incorporando a abertura de 80 lojas em 2024, atingimos um preço-alvo de R$ 100, versus R$ 95 anteriormente. Isso implica em um upside potencial de 55%, considerando o fechamento de ontem e mantendo as demais premissas constantes.
Entretanto, sabemos que o mercado continua incorporando quase a perda total de todos os benefícios de imposto corporativo. Por isso, fizemos o exercício de simular quanto seria o preço-alvo em diferentes cenários.
Como a perda de benefícios de imposto corporativo afetaria a varejista?
Mesmo no pior cenário, em que todas as fontes de redução de imposto de renda corporativo seriam eliminadas, o preço-alvo vai para R$ 88. Ou seja, na pior das hipóteses, teríamos um upside potencial de 35%. Vale salientar que nosso cenário-base continua sendo o intermediário, com preço-alvo de R$ 100. Sendo assim, mantemos Arezzo &Co (ARZZ3) em nossa carteira.