Investimentos

Investor Day da Weg: um novo capítulo na história da gigante de Jaraguá do Sul

Veja como foi o encontro anual para investidores da Weg, empresa de soluções de equipamentos para engenharia elétrica e automação.

Por Fernando Ferrer

13 dez 2023, 10:37 - atualizado em 13 dez 2023, 10:37

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Na última semana, a Weg (WEGE3) realizou o seu encontro anual com investidores para discutir o futuro da companhia, desde a sua administração até a estratégia operacional e financeira.

Pouco antes do início do evento, a gigante de Jaraguá do Sul surpreendeu o mercado ao anunciar que Harry Schmelzer, CEO da companhia nos últimos 16 anos, irá passar o bastão para Alberto Kuba. Kuba é funcionário da WEG há mais de 21 anos, possui vasta experiência internacional (10 anos expatriado na WEG China) e lidera hoje a divisão de Motores Elétricos Industriais no Brasil.

A primeira apresentação do Investor Day tratou justamente deste tema, onde o presidente do conselho de administração, Décio da Silva — filho de um dos fundadores da WEG e que precedeu Schmelzer na presidência — realizou um discurso emocionado e otimista sobre o futuro da companhia, apoiando fortemente a escolha do novo CEO, que assumirá o cargo no dia 01 de abril de 2024.

Assim como Décio destacou, acreditamos que a escolha por Kuba é acertada, tanto pela cultura WEG de crescimento e eficiência enraizada em sua formação profissional há mais de duas décadas, como pela sua trajetória de sucesso à frente da principal divisão de negócios da companhia e visão global da operação.

Do lado estratégico, os executivos não trouxeram muitas novidades, mas exploraram as duas principais avenidas de crescimento da companhia e reforçaram o compromisso com a rentabilidade do negócio e disciplina na alocação de capital. Saímos com uma impressão positiva do Investor Day.

Mobilidade elétrica: a principal aposta da Weg

Apesar de ainda incipiente, o crescimento da indústria de mobilidade elétrica é visto com grande entusiasmo pela Weg, que se estrutura para surfar esse movimento. 

Há um crescimento estrutural de demanda no segmento, sustentado principalmente pela necessidade de as companhias atenderem metas de descarbonização. Grandes multinacionais de diferentes segmentos têm eletrificado suas frotas e as principais montadoras de veículos do mundo ampliado significativamente a produção de veículos elétricos (EV) para atender esse movimento.

Vendas de veículos elétricos no mundo

Gráfico, Gráfico de barrasDescrição gerada automaticamente
Fonte: Weg

O ritmo de expansão no Brasil e no mundo foram animadores nos últimos anos. Por aqui, 49 mil veículos leves foram emplacados nos primeiros 8 meses do ano, alta de 76% em relação ao mesmo período em 2022. No mundo, as vendas em 2023 devem ultrapassar 14 milhões de unidades.

Atualmente, o Brasil é o principal mercado da Weg em mobilidade elétrica. Os veículos pesados (caminhões e ônibus) são onde a companha tem a maior presença e vê uma demanda cada vez mais pujante nos próximos anos. A pauta de eletrificação das frotas de ônibus, por exemplo, vem sendo priorizada pelos estados e prefeituras e começa a avançar com mais rapidez para alcançar metas de descarbonização. Na cidade de São Paulo, que conta com uma frota de 13 mil ônibus, o primeiro passo para a eletrificação foi dado recentemente com a aquisição de 50 ônibus elétricos (com motores e baterias Weg). A meta da prefeitura é elevar para 2,4 mil até o final de 2024.

Alguns diferenciais competitivos da Weg em relação à concorrência crescente no setor são o portfólio com maior número de produtos do mercado, prazos de entrega mais competitivos e serviços de assistência e monitoramento para os seus clientes.

Linha de produtos Mobilidade Elétrica

Interface gráfica do usuárioDescrição gerada automaticamente
Fonte: Weg

Transmissão e distribuição: demanda crescente e espaço para ganhos de eficiência

O momento da vertical de T&D é bastante positivo, principalmente na América do Norte. Os incentivos fiscais do governo dos EUA para impulsionar a produção local de energia devem gerar uma demanda robusta por transformadores ao longo dos próximos anos.

Além disso, o movimento de nearshoring (estratégia industrial que envolve a realocação de fábricas e produção em países vizinhos) na região, tem sido liderado pelo México, impulsionado pela demanda crescente dos EUA. Essa estratégia deve gerar um fluxo crescente de investimentos na indústria do país, beneficiando o negócio de transformadores da Weg. A companhia possui forte presença industrial e experiência de mercado no continente norte-americano, com 5 parques fabris.

MapaDescrição gerada automaticamente
Fonte: Weg

No Brasil, o alto volume de investimentos previstos para as concessões de transmissão de energia, que já foram ou ainda irão para leilão nos próximos anos, é um importante vento positivo para o negócio de T&D. 

Leilões de transmissão de energia no Brasil (R$ bilhões)

Gráfico, Gráfico de barrasDescrição gerada automaticamente
Fonte: Weg

Para suprir esse crescimento esperado para o mercado de T&D, será realizado um investimento de R$ 1,2 bilhão na expansão das fábricas de transformadores no Brasil, México e Colômbia, aumentando a capacidade de produção da companhia em 50%. Fora do Brasil (que já é referência em eficiência produtiva), os investimentos ainda devem contribuir para elevar o nível de verticalização dos negócios de T&D e, consequentemente, melhorar a rentabilidade.

Tanto no Brasil como no exterior, a Weg possui conhecimento robusto da dinâmica de mercado e oferece soluções de T&D para diferentes setores por meio de um portfólio de produtos diversificado, diferentemente dos seus concorrentes que são mais nichados. 

Crescimento de dois dígitos e disciplina financeira

Assim como nas últimas décadas, a Weg reforçou seu compromisso em manter um crescimento de dois dígitos no faturamento, ROIC elevado e alocação de capital disciplinada, mantendo a saúde financeira do negócio.

Para manter esses resultados no longo prazo, a receita segue a mesma:

(i) Expansão e verticalização do negócio. Os novos investimentos em expansão de capacidade, principalmente em T&D, e a aquisição recente da Regal Rexnord (integração prevista para o 2S24) são exemplos claros dessa estratégia. Ainda, companhia ressaltou que o crescimento inorgânico via novos M&A’s deve seguir como alavanca importante para o negócio.

(ii) Novos negócios. Investimento robusto na expansão do negócio de mobilidade elétrica da companhia, sustentado pelo fortalecimento da tese de transição energética global.

(iii) Alocação estratégica de capital e ROIC elevado. A principal alocação de capital da companhia para os próximos anos é destinada à consolidação e expansão do seu core business, que possui margens robustas e é forte gerador de caixa.

No curto prazo, devemos ver alguma acomodação no crescimento e no ROIC da companhia em relação ao desempenho recorde visto nos últimos anos. Além de estar operando com investimentos na banda superior pelos próximos anos com as expansões de capacidade fabril, o cenário global macroeconômico desafiador (juros altos e PIB desacelerando) e a queda no preço dos seus principais insumos devem impactar na margem a rentabilidade do negócio.

Além disso, a integração da Regal, prevista para o 2S24, deverá pressionar a margem consolidada da companhia para baixo no próximo ano. A mais recente aquisição da Weg opera com uma margem Ebitda de 1 dígito (~9,5%), inferior ao seu patamar consolidado. Contudo, como destacado no anúncio da compra, a expectativa é que ela convirja gradualmente para o nível dos demais negócios nos próximos anos.

Ainda sobre a Regal Rexnord, acreditamos que a liderança do novo CEO, Alberto Kuba, será peça-chave para o sucesso na integração. Além de ser o atual líder da divisão de motores elétricos industriais, principal nicho de atuação da Regal, Kuba trabalhou por 10 anos nas operações da Weg na China, além de ter passado alguns anos também nos EUA — os dois mercados onde a Regal tem maior presença.

Conclusão sobre Weg (WEGE3)

Por fim, apesar dos próximos trimestres reservarem algum grau de acomodação nos resultados da companhia, acreditamos que a estratégia de longo prazo da Weg seguirá vencedora e a companhia tem capacidade para manter seu ritmo de crescimento através das oportunidades apresentadas.

Em termos de preço, vemos o consenso precificando WEGE3 em 26 vezes os seus lucros para 2024 e 23 vezes para 2025, múltiplos que refletem uma acomodação de crescimento mais severa do que a que acreditamos para a companhia, que historicamente negocia a 38 vezes lucros.

Assim, dada a qualidade do negócio, longo track record de retornos robustos para os seus acionistas, boas avenidas de crescimento para os próximos anos e um valuation mais razoável no relativo, as ações da Weg (WEGE3) permanecem na carteira de nossa série.

Sobre o autor

Fernando Ferrer

Graduado em Engenharia Mecânica pela UFRJ e com MBA em Finanças pela mesma instituição, Fernando Ferrer atua na Empiricus como analista de investimentos há 5 anos cobrindo os setores de Varejo, Saúde e Infraestrutura. Atualmente, é responsável pela série best-seller As Melhores Ações da Bolsa e faz parte da equipe que comanda o Carteira Empiricus, o portfólio multimercado que é o carro-chefe da casa.