Ontem (5) pela manhã, a Vale (VALE3) realizou o seu Investor Day – encontro anual com investidores para abordar o momento atual da companhia e suas perspectivas futuras, em especial, as alavancas de crescimento e produtividade até 2026, que é considerado um ano-chave.
Atualização nos volumes de produção de Vale
Antes do início do evento, a Vale divulgou ao mercado as novas estimativas de produção para a divisão de minério de ferro e a de metais básicos. As projeções para 2026 e 2030+ ficaram praticamente em linha com as divulgadas há 1 ano e, apresentam uma expectativa de crescimento de 10% na produção de minério de ferro em relação à 2023. Para 2024, os números projetados ficaram próximos ao patamar que a mineradora espera encerrar este ano.
Cabe destacar que a companhia tem capacidade operacional para produzir algo em torno de 400 milhões de toneladas (Mt) de minério de ferro, contudo, esse não é o objetivo. O crescimento da produção é fundamental para a evolução operacional e financeira da mineradora, mas a qualidade do minério também é parte fundamental da estratégia.
Nos últimos anos, o mantra “qualidade sobre volume” foi incorporado pela Vale, visando ampliar o prêmio de qualidade do minério de ferro e ser mais nichada (atendendo mais demandas relacionadas a descarbonização), em detrimento de “despejar” volumes maiores de minério no mercado e prejudicar a precificação da commodity.
A qualidade do minério advém do teor de ferro presente em sua composição final. Segundo estimativas da companhia, a cada ponto percentual a mais de ferro no minério produzido (hoje em 62,5%, o maior do mundo), o ebitda pode subir US$ 500 milhões.
O que o futuro reserva para o mercado de aço?
As expectativas da Vale para a dinâmica de mercado são positivas para os próximos anos. Do lado da oferta, os estoques estão baixos e, apesar da demanda não estar pujante como foi em 2021, a demanda chinesa tem se mostrado resiliente, deixando a impressão de que o pior momento no mercado imobiliário ficou para trás. Há ainda potenciais ventos positivos provenientes de uma demanda global por aço mais forte para dar tração aos movimentos de transição energética e descarbonização.
Apesar da dificuldade em projetar preços de commodities, considerando a conjuntura atual de oferta apertada e demanda estável ou marginalmente positiva, a expectativa da companhia é de que o preço do minério de ferro se mantenha estável ou até se valorize.
No longo prazo, o cenário mais estrutural também é positivo, sustentado pelos pilares de: i) crescimento populacional e econômico e ii) continuidade na tendência de urbanização, com maior intensidade de uso de aço.
O caminho de Vale até 2026 é próspero
Ao longo do evento, os executivos da Vale destacaram 5 impulsionadores de valor que levarão a companhia a um novo patamar até 2026.
1. Jornada em segurança
Essa alavanca passa principalmente pela descaracterização de todas as suas barragens de nível 3 (patamar de risco mais elevado) até 2025.
Concluindo esse processo, a Vale poderia entrar no radar de uma gama maior de investidores, que possuem restrições em seu mandato de investimento relacionadas a questões ESG. Além disso, viabilizaria também a entrada de VALE3 em novos índices de mercado (restritos pelos mesmos motivos), o que traria um maior fluxo comprador para as ações.
2. Estabilidade Operacional de Minério de Ferro
A Vale realizou um investimento robusto ao longo dos últimos anos para aprimorar e modernizar os seus sistemas de controle de produção, visando aumentar a confiabilidade operacional dos seus ativos.
São 16 centros de inteligência que abrangem as operações mina-usina e logísticas, com mais de 290 mil pontos de monitoramento, os quais entregaram robusta evolução em indicadores de qualidade importantes na companhia.
A estrutura atual da Vale elevou o nível de previsibilidade da produção e reduziu a sua variabilidade. Os executivos destacaram que há um elevado grau de segurança no cumprimento do guidance de produção de 310-320 Mt de minério de ferro para 2024 por conta destes avanços.
3. Crescimento e Qualidade de Minério de Ferro
Conforme citamos anteriormente, a Vale quer crescer a sua produção, mas mantendo a qualidade do minério elevada. Há espaço mapeado para ampliar a capacidade produtiva do minério de ferro em 50 milhões de toneladas até 2026. Esse aumento viria da evolução dos processos de licenciamento para a expansão das minas com os seus respectivos estados e realização de capex de expansão.
Do lado da qualidade da produção, a Vale pretende ampliar em 1 ponto percentual o teor de ferro na composição final do minério até 2026, para 63,5%, com a manutenção do minério da mina de Carajás (IOCJ) e do “blend brasileiro (BRBF)” com alto percentual de participação (possuem um teor de ferro em torno de 67%). Segundo as estimativas da companhia, esse incremento adicionaria US$ 500 milhões de ebitda.
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4. Transformação de Metais para Transição Energética
A principal avenida de crescimento da companhia segue seu processo de estabilização e melhorias operacionais, antes de começarem a ganhar representatividade no resultado.
Há alguns trimestres, a Vale Base Metals (VBM) opera de forma mais independente da operação de minério de ferro, com a formação de uma nova liderança e esforços mais direcionados para a evolução da unidade.
Mark Cutifani, presidente do conselho de administração da VBM, possui ampla experiência no mercado de níquel e está liderando uma abrangente revisão dos ativos da companhia (que também contemplam a produção de cobre), para o mapeamento de oportunidades de crescimento e ganhos de eficiência.
Olhando para o longo prazo, há uma demanda estrutural positiva para a vertical, sustentada pela tese de transição energética. As vendas de veículos elétricos (EV), fonte importante de demanda por níquel e cobre, seguem em trajetória de expansão. A expectativa na demanda por projetos de energia renovável também é um importante vento a favor.
5. Liderança ESG
Hoje, a Vale possui uma série de compromissos de reparação, principalmente relacionados aos desastres ocasionados em Mariana e Brumadinho, que totalizam cerca de US$ 3 bilhões. O compromisso da companhia, aliado ao seu processo de descaracterização das barragens, é acelerar a execução da reparação e o pagamento desse montante, com o objetivo de reduzi-lo para US$ 0,8 bilhões, em média, entre 2026 e 2030.
Conclusão sobre o evento de Vale
Por fim, achamos o evento positivo. A Vale trouxe atualizações importantes para direcionar os investidores em 2024 e para próximos anos, firmando compromissos qualitativos e quantitativos de evolução operacional e financeira até 2026.
Apesar do preço do minério de ferro mais esticado atualmente, que contribuiu para impulsionar VALE3 nos últimos meses, acreditamos que o cenário segue positivo para a mineradora pelos motivos citados anteriormente. Além disso, com um dividend yield de 7% estimado para 2024 e um dos mais robustos programas de recompra de ações aberto, gostamos do carrego da posição. Por estes motivos, a Vale (VALE3) segue como uma recomendação do book de ações.