Na manhã desta sexta-feira (25), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o IPCA-15 de agosto. O dado, que é considerado a prévia da inflação, apresentou alta de 0,28%.
O número foi pior que o projetado pelo mercado, que tinha no radar uma aceleração de 0,16%.
De acordo com o analista Matheus Spiess, da Empiricus Research, além da mediana “bem negativa”, o interior do dado também apresentou surpresas desagradáveis.
“Sete dos nove grupos do interior do dado registraram alta. O mais importante de todos, que é o de serviço, desacelerou, o que é positivo, mas não foi suficiente para absorver todos os outros vetores negativos. Destaque para o preço dos combustíveis que já teve impacto nesse IPCA-15”, apontou Spiess.
O “vilão” do dado foi o grupo de habitação, que teve a maior variação na comparação com o IPCA-15 de julho:+1,08%.
IPCA-15 tornou corte de 75 bps na Selic em 2023 mais improvável
Na visão de Spiess, o número apresentado esvazia a chance de um corte de 75 pontos-base na Selic ainda em 2023, embora a possibilidade não esteja totalmente descartada para a última das três reuniões do Copom que restam no ano.
“Trabalhamos com essa expectativa e dependemos de dados para que eventualmente possa ocorrer uma aceleração da queda do juro ainda em 2023. Provavelmente essa aceleração deve acontecer em 2024 de qualquer jeito, mas a grande expectativa é que os dados de inflação possibilitem uma antecipação desse processo”, avalia.
Para a próxima reunião, entre os dias 19 e 20 de setembro, é amplamente esperada uma queda de 0,50% na Selic.
Mercado reagiu mal, mas cenário segue positivo para o Ibovespa no longo prazo
Segundo o analista, é possível observar a recepção negativa do mercado tanto na curva de juro brasileira quanto no desempenho do Ibovespa, que já abriu o dia em queda. “Os investidores corrigiram as expectativas de uma flexibilização mais rápida do que se pressuponha”.
Apesar do mês de agosto “péssimo”, como definiu, Spiess continua a ver uma tendência positiva para o Ibovespa e a bolsa brasileira como um todo.
“Estruturalmente, ao longo dos próximos meses, temos que nos distanciar desses dados de alta frequência e curto prazistas. Em outras palavras, o próprio banco central toma cuidado ao reagir a dados de alta frequência, como é o caso do IPCA-15. Da mesma maneira, o mercado deveria fazer, mas não faz”.
Neste contexto, ele ainda vê espaço para que os ativos de risco voltem a performar bem, com o fechamento da curva de juros e o caminhar do ciclo de flexibilização monetária.
O alerta para as situações nos EUA, com a alta dos yield dos treasuries, e na China, com a possibilidade de recessão, não podem ser descartados, mas segundo o analista, há espaço para que essas questões sejam endereçadas.
“Tem espaço para que haja um cenário construtivo, em que o estímulo chinês seja suficiente para sustentar a economia sem inflacionar a economia global. Nos EUA, tem o próprio final de ciclo de aperto monetário que deve acontecer mais cedo ou mais tarde, e posteriormente a flexibilização. Não é que a gente possa esquecer de ter proteções nesse ambiente, mas sim tomar cuidado para não reagir em demasia a ruídos de curto prazo. Há um cenário positivo de que a gente pode se beneficiar”, finaliza.
Confira a entrevista completa de Matheus Spiess no Giro do Mercado: