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IPCA melhor que as expectativas: o que esperar do Ibovespa e do ciclo de queda da Selic após a divulgação do dado?

IPCA de agosto apresentou aceleração da inflação de 0,23%, menor que a e expectativa do mercado. Ibovespa pega carona no dado e sobe

Por Juan Rey

12 set 2023, 14:21 - atualizado em 12 set 2023, 14:31

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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto mostrou aceleração da inflação de 0,23%, segundo o IBGE. Apesar do avanço, o número veio melhor que a expectativa do mercado, de 0,28%, e impulsionou o Ibovespa.

Por volta das 14h20 desta terça-feira (6), o principal índice acionário brasileiro operava em alta de 0,86%.

IPCA: possibilidade de corte de 75 pontos-base em 2023 volta para a mesa

A aceleração da inflação no segundo semestre já era amplamente esperada pelo mercado e não é motivo para preocupação, segundo o analista macroeconômico da Empiricus Research, Matheus Spiess.

“A questão dos preços de energia já era algo antecipado, também tivemos a questão dos tributos relacionados aos combustíveis que estão voltando gradualmente ao consumidor final. Tudo isso já estava muito bem precificado pelo mercado”, explicou.

No entanto, o que chamou a atenção do mercado foi a qualidade de outros dados do interior do índice, que surpreenderam positivamente

“Principalmente no de serviços, em que tivemos uma desaceleração robusta. Esse é um fator que o Banco Central tem como fundamental para eventualmente acelerar o ritmo de flexibilização da política monetária”, afirmou Spiess.

Fonte/elaboração: IBGE

Isto é, o desempenho melhor que o esperado de alguns setores do IPCA trouxeram de volta a possibilidade de um corte de 75 pontos-base na Selic na última reunião do Copom de 2023, em dezembro. 

Para as duas próximas reuniões, o corte deve seguir o ritmo de 0,50%. “Se vier outra coisa pode ferir a comunicação do Banco Central”, avalia Spiess.

Embora o cenário de um corte de 75 pontos-base em dezembro tenha ganhado espaço, Spiess lembra que se trata de um cenário otimista, já que a maior probabilidade ainda é de um corte de 0,50 nas três reuniões que restam em 2023.

Por que o Ibovespa reagiu bem ao IPCA?

A possibilidade de aumento no ritmo do ciclo de queda de juro havia sido escanteada pelo mercado ao longo de agosto, em que predominou o pessimismo por conta de preocupações fiscais e um contexto desfavorável no exterior.

Até por isso, o aumento da probabilidade de avanço na flexibilização da política monetária fez o Ibovespa receber “de braços abertos” os números melhores que o esperado do IPCA de agosto.

“Historicamente, o mercado subestima o ciclo de flexibilização. Então, sempre que temos notícias que favorecem uma perspectiva de queda da taxa de juros de maneira mais acelerada do que anteriormente poderíamos pressupor, temos um reflexo positivo nos ativos de risco. É o que estamos vendo hoje”, aponta Spiess.

O analista vê o grupo de serviços, que vinha sendo um percalço nos últimos dados, seguindo a tendência de desaceleração. 

“Teve o grupo de calçados e vestuário, que foi afetados pela questão dos tributos  e surpreendeu negativamente. Fora isso, devemos prosseguir no contexto de desinflação, por mais que tenhamos no índice cheio uma aceleração. O que importa é a qualidade no interior do dado, e devemos prosseguir com essa melhora gradual”.

Analista elenca motivos para estar construtivo com o Ibovespa

Segundo o analista, o IPCA de agosto pode reacender o otimismo com os ativos de risco brasileiros, como ocorreu de março a julho.

Spiess vê três fatores como fundamentais para estar construtivo com o Ibovespa e a bolsa brasileira como um todo:

  1. O ciclo de corte de juros, que historicamente é positivo para o Brasil. “Na média, ciclos de queda da Selic possibilitaram alta de 35% do Ibovespa e mais de 40% no índice de small caps, sendo que em alguns casos as altas foram muito mais relevantes”.
  2. Valuations muito descontados. “A bolsa segue muito barata, por mais que tenha andado bastante entre março e julho”.
  3. Os investidores locais ainda estão pouco alocados. “O fato de os juros estarem caindo e eles estarem pouco alocados deve trazer ganhos de alguma magnitude à medida em que os recursos forem entrando”.

“Em outras palavras, só para voltar para a média de múltiplos a gente já teria bastante para andar. Esse otimismo que estamos vendo é a tradução desses fatores positivos para o posicionamento na bolsa brasileira. Basta segurar o risco em ativos de qualidade e, em longo prazo, você será recompensado por isso. Não podemos ser curtoprazistas”.

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Confira a entrevista completa de Matheus Spiess no Giro do Mercado


Sobre o autor

Juan Rey

Jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Contato: juan.rey@empiricus.com.br