Seguindo a tradição dos últimos anos, o Itaú (ITUB4) realizou seu encontro com investidores de forma 100% digital, o Itaú Day. Acompanhamos esse evento, que marcou 100 anos de história do banco, que soube se adaptar e reagir às diversas condições de mercado, enquanto entregou uma rentabilidade satisfatória aos seus acionistas.
No encontro deste ano, a companhia anunciou novidades importantes, como o lançamento do seu super app “One Itaú” e um maior apetite para a expansão no varejo e na baixa renda.
Essa estratégia, que nos parece acertada para este momento, contrasta com a mensagem de continuidade do Itaú Day do ano passado, quando o macroeconômico ainda estava bem desafiador.
Em termos práticos, o Itaú reafirmou seu guidance para o ano, que implica um lucro líquido de R$ 40 bilhões nas nossas estimativas. A companhia reforçou, inclusive, a projeção de 8% de crescimento da carteira de crédito, um ponto de questionamento no resultado do 1T24.
Finalmente, seguimos estimando uma distribuição de entre 50% e 60% do lucro gerado no ano, o que implica um dividend yield entre 7% e 8% para os próximos 12 meses.
Abaixo, detalhamos os principais pontos do Itaú Day.
Cultura & tecnologia: a transformação do Itaú continua
O embrião da transformação cultural foi plantado há cerca de 4 anos, quando Milton Maluhy assumiu o cargo de CEO. Nos primeiros dois anos, foi feito um investimento na alta liderança; agora, o banco continua a transformação na média liderança, que envolve um grupo de 12 mil pessoas (!). O pilar fundamental da nova cultura é o foco no cliente, que se torna o centro da estratégia de crescimento, em vez de focar no produto.
Dos 13 membros do Conselho de Administração, 3 são provenientes da área de tecnologia: são eles o co-fundador da CI&T, o CEO do iFood e o fundador da 99, os dois últimos empossados em abril/24.
A transformação digital vem de cima para baixo, e traz não só a perspectiva de receitas adicionais com a melhor experiência do cliente, mas, também, a redução de custos por meio da inteligência artificial.
De forma bem honesta, os executivos mencionaram que ainda há muito a se fazer em tecnologia, apesar de já terem cumprido o primeiro grande projeto, que foi a migração para a nuvem.
O principal desafio, atualmente, é fechar a distância tecnológica para os competidores (bancos digitais principalmente) em termos de experiência do cliente. Esse é um esforço constante, e não um projeto de início, meio e fim, o que vemos como a abordagem correta.
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Varejo: contra-ataque
Após um longo período de menor apetite ao risco no varejo, em função da elevada inadimplência das famílias e da competição das fintechs, nós ficamos com a sensação de que o Itaú está voltando ao ataque nesse segmento.
Este parece um momento propício para tal, dado que a inadimplência das pessoas físicas está em queda desde meados do ano passado e que os bancos digitais têm tido um comportamento mais racional em termos de precificação.
Nesse contexto, a companhia anunciou o seu super app, o “One Itaú”. A plataforma é, na realidade, o aplicativo principal do Itaú, que passará a ser acessível aos clientes de qualquer produto da instituição – antes, o app era disponível somente para correntistas.
A interface será personalizada para mostrar os produtos que o cliente possui, mas com chamadas para o cross-selling com poucos cliques. Assim, o banco atrai qualquer cliente “monoproduto” para o seu ecossistema completo, em uma experiência parecida com a das fintechs, com a chance de aumentar a receita gerada por cada cliente.
O One Itaú deve ser lançado no segundo semestre, com a migração inicial de 15 milhões de clientes, finalizando a migração de todos os 70 milhões no início de 2025.
Em uma conversa que tivemos com o time de relações com investidores, logo após o evento, eles mencionaram que o banco não pretende crescer muito mais essa base de clientes, que já é muito representativa.
A estratégia é trazer mais principalidade, de forma que a vida financeira do cliente fique mais concentrada no Itaú, aumentando, assim, a receita por cliente.
De fato, principalidade é o nome desse jogo, que não é fácil de ganhar, diante de tantos bancos digitais tentando fazer o mesmo. De toda forma, acreditamos que esse é o caminho correto.
Nas pessoas jurídicas, também ficamos com a sensação de que o foco da expansão está, agora, em empresas menores. A companhia pretende dobrar a operação dedicada às pequenas e médias empresas (PMEs): os executivos mencionaram um mercado endereçável de 4 milhões de PJs, dos quais metade já está no Itaú.
Inclusive, a Rede, adquirente do grupo, já está totalmente integrada à vertical de PMEs, o que deve ajudar na atração de clientes com receita de até R$ 50 milhões, segundo os executivos.
Nos últimos anos, a vertical de atacado (Itaú BBA), que atende grandes empresas, foi responsável por boa parte do ganho de rentabilidade do banco. O BBA saiu de um ROE de 19% em 2019 para 28% em 2023, compensando a lucratividade mais baixa do varejo.
Lembremos que o varejo foi impactado não só pela alta inadimplência, mas, também, pelos novos entrantes, que disputaram as receitas de serviços, como tarifas de cartão, conta corrente, investimentos, etc.
Daqui para a frente, os executivos esperam manter uma rentabilidade ainda alta no Itaú BBA. Entretanto, com a queda da inadimplência de pessoa física e o “contra-ataque” do banco na parte de serviços, é razoável esperar que o ROE do varejo se recupere – embora seja difícil saber se retornará aos patamares pré-pandemia, diante da nova dinâmica competitiva.
Eficiência
O que estamos chamando de “contra-ataque” no varejo também envolve custos que precisam ser estruturalmente mais baixos. O modelo de atendimento aos clientes de média e alta renda é físico + digital, ou “phygital”, enquanto aos clientes de menor renda precisa ser 100% digital, com custos mais baixos. O lançamento do One Itaú segue essa lógica, na nossa visão, e é fruto de um investimento de vários anos em desenvolvimento.
Com esse enfoque no modelo de atendimento, além da utilização de inteligência artificial para corte de custos, o banco pretende continuar ganhando “de 1 a 2 pontos” por ano no índice de eficiência.
Ainda, os executivos frisaram que, para melhorar esse indicador, que mede as despesas administrativas como percentual da receita total, não basta somente reduzir o numerador, mas, também, aumentar o denominador. Ou seja, aumentar a receita por cliente.
Lembramos que o índice de eficiência do Itaú já está no melhor patamar da série histórica (relembre no resultado do 1T24). Portanto, ganhos adicionais tendem a aumentar ainda mais a já alta rentabilidade do banco.
Dividendos: Itaú deve distribuir pelo menos 30% do lucro líquido deste ano
Passados os investimentos mais pesados em transformação digital, a companhia tem, hoje, um “excesso” de capital. Como a operação deve continuar rentável, Milton Maluhy, CEO da instituição, disse que o banco deve distribuir, no mínimo, 30% do lucro líquido deste ano, mas tem um “alto grau de convicção” de que haverá dividendos extraordinários, levando esse payout para cima.
Por isso, projetamos que o Itaú deve distribuir entre 50% e 60% dos R$ 40 bilhões de lucro líquido de 2024, o que implica uma distribuição de R$ 20 bilhões a R$ 26 bilhões em proventos aos acionistas. Isso perfaz um dividend yield entre 7% e 8% aos preços atuais, o que confere um bom carrego a essa posição.
Negociando a 7,8x seu lucro estimado para 2024, seguimos enxergando o Itaú (ITUB4) como um dos vencedores do setor financeiro brasileiro. Agora, a ação se tornou um dos raros casos da bolsa brasileira que combina alta rentabilidade, algum crescimento e boa distribuição de dividendos e, por isso, mantemos ITUB4 entre as recomendações da Empiricus Research.