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Lojas Quero-Quero (LJQQ3): resultados do 4T23 refletem cenário ainda difícil para o varejo

O balanço da varejista demonstra sinais de melhora nos serviços financeiros, além de uma ajuda não-recorrente de créditos tributários; confira

Por Ruy Hungria

07 mar 2024, 10:41 - atualizado em 07 mar 2024, 10:46

Lojas Quero Quero LJQQ3

A Lojas Quero-Quero (LJQQ3) divulgou resultados na última quinta-feira (6) que refletiram uma situação ainda complicada do varejo, mas com sinais de melhora nos serviços financeiros, além de uma ajuda não-recorrente de créditos tributários. 

Com uma economia fragilizada na principal região de atuação (Sul do país), pelas contínuas complicações do agronegócio local e por uma inflação muito baixa dos itens de construção (deflação em alguns itens, inclusive), a divisão do Varejo enfrentou dificuldades. 

Fonte: FGV. Elaboração: Empiricus.

Receita de Lojas Quero-Quero impactada pelos desafios do varejo

Embora a receita de R$ 536,7 milhões tenha apresentado estabilidade comparada ao mesmo trimestre do ano anterior, as Vendas Mesmas Lojas (SSS) apresentaram retração de -3,7% por esse cenário ainda complicado.

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A linha de Serviços financeiros ajudaram no balanço

Por outro lado, mais uma vez a divisão de serviços financeiros foi um importante componente para o balanço geral. 

A receita dos serviços financeiros apresentou um crescimento de +19,4% no trimestre, e alcançou R$ 185,5 milhões, com alta no volume transacionado (+13,5% vs 4T22), advindo principalmente pelo uso fora das lojas da Quero-Quero.

Isso, inclusive, é mais um indício de deterioração da situação financeira da população nas regiões de atuação da companhia, que tem recorrido ao crédito da Quero-Quero para financiar demandas externas à loja.  

Importante notar que mesmo com um aumento na carteira de crédito e resultados abaixo do esperado do programa Desenrola, o índice de inadimplência seguiu controlado, em 11,6%, em linha com o histórico. Além disso, com a Selic menor na comparação anual , o custo de captação diminuiu, o que ajudou a margem do segmento também. 

Fonte: companhia.

Menor custo financeiro de captação ampliou a margem para 30,8%

No consolidado a companhia reportou uma Receita Operacional Líquida de R$ 654,1 milhões (+6,3% vs 4T22) e um lucro bruto de R$ 229,3 milhões com margem de 30,8%, crescimento de +1,5 p.p., influenciada pela redução no custo de captação financeiro. 

As despesas operacionais de R$ 159,3 milhões vieram bem abaixo do esperado e mostraram uma redução de -9,3% vs 4T22, mas com efeitos não-recorrentes importantes de créditos tributários que ajudaram no trimestre. 

Sem eles, as despesas teriam crescido +12,7% no período, impactadas pelo aumento de 28 lojas e outros investimentos que prepararam a companhia para um futuro crescimento. Enquanto as vendas continuarem fracas, será difícil vermos alguma diluição de despesas.

Excluindo os efeitos não recorrentes e operacionais, o Ebitda ajustado alcançou R$ 28,7 milhões com margem de 3,9% (-22,7% e -1,4p.p., respectivamente), redução explicada pelo desempenho ameno do varejo e pressão das despesas operacionais. 

No trimestre, a companhia também obteve benefícios não recorrentes na linha de receitas financeiras, por conta de atualizações monetárias tributárias favoráveis. Isso fez o Resultado Financeiro passar de -R$ 27,8 milhões para -R$ 10 milhões.

Com a ajuda desses não-recorrentes, o Lucro Líquido saltou de R$ 3,6 milhões para R$ 60,2 milhões no 4T23, mas ajustando pelos efeitos citados o resultado teria sido de R$ 9,5 milhões, +21,7% acima do 4T22 e com um pequeno incremento de margem (+0,2p.p.).

Uma das prioridades da companhia nesse curto prazo, estava na geração de caixa e essa estratégia se mostrou acertada. Esse foco é importante para a saúde do negócio e suportar o cenário adverso no curto prazo. O endividamento, que ficou em 0,4x dívida líquida ajustada/Ebitda, também mostrou melhora frente ao valor de 0,7x no 3T23.

Fonte: companhia.

O que achamos dos resultados do 4T23 de Lojas Quero-Quero?

É verdade que o cenário segue muito difícil para o varejo, mas entendemos que boa parte disso já esteja precificado nas cotações atuais. Além disso, mesmo com todas essas dificuldades setoriais, a companhia segue apresentando níveis interessantes de geração de caixa, alavancagem, e se preparando para uma melhora do setor, que pode contar com uma ajudinha da queda dos juros nos próximos trimestres. 

Negociando a 6,5x EV/Ebitda, a Lojas Quero-Quero permanece entre as recomendações da Empiricus Research.

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Sobre o autor

Ruy Hungria

Bacharel em Física formado na Universidade de São Paulo (USP), possui MBA de Finanças na Fipe e iniciou a carreira no mercado financeiro em 2011, na própria Empiricus Research. Está à frente da série da casa focada em opções desde 2018, além de contribuir na elaboração e decisões de investimentos nas séries da Empiricus focadas em microcaps e dividendos, além de fazer o acompanhamento de companhias de diversos setores, com mais foco em Utilities e Oil & Gas. Desde o início de 2020 é colunista do portal Seu Dinheiro.